38para a jornada, e para a povoação <strong>que</strong> vinham fazer, <strong>se</strong> partiram de Lisboa no ano de 1535; masdesgarran<strong>do</strong>-<strong>se</strong> com as águas e ventos foram tomar terra junto <strong>do</strong> Maranhão, onde <strong>se</strong> perderam nosbaixos.Deste naufrágio escapou muita gente, com a qual os filhos de João de Barros <strong>se</strong> recolherama uma ilha, <strong>que</strong> então <strong>se</strong> chamava das Vacas, e agora de São Luiz, <strong>do</strong>nde fizeram pazes com ogentio tapuia, <strong>que</strong> então ali habitava, resgatan<strong>do</strong> mantimentos, e outras coisas, <strong>que</strong> lhes eramnecessárias: e chegou o trato e amizade a tanto <strong>que</strong> alguns houveram filhos das Tapuias, como <strong>se</strong>descobriu depois <strong>que</strong> cresceram, não só por<strong>que</strong> barbaram, e barbam ainda hoje to<strong>do</strong>s os <strong>se</strong>usdescendentes, como <strong>se</strong>us pais e avós, <strong>se</strong>não pelo amor <strong>que</strong> têm aos portugue<strong>se</strong>s <strong>em</strong> tanta maneira,<strong>que</strong> nunca jamais qui<strong>se</strong>ram paz com os outros gentios, n<strong>em</strong> com os france<strong>se</strong>s, dizen<strong>do</strong> <strong>que</strong> a<strong>que</strong>lesnão eram verdadeiros Peros / <strong>que</strong> assim chamam aos portugue<strong>se</strong>s, parece por respeito de algum <strong>que</strong><strong>se</strong> chamava Pedro / e, todavia, quan<strong>do</strong> na era de 614 entraram os nossos no Maranhão, logo osvieram ver, e fazer pazes com eles, dizen<strong>do</strong> <strong>que</strong> estes eram os <strong>se</strong>us Peros de<strong>se</strong>ja<strong>do</strong>s, de <strong>que</strong> elesdescendiam.Donde <strong>se</strong> colige <strong>que</strong> não era o Maranhão a terra, <strong>que</strong> el-rei deu a João de Barros, comoalguns cuidam, <strong>se</strong>não estoutra, <strong>que</strong> d<strong>em</strong>arca pela Paraíba com a de Pero Lopes de Souza; por<strong>que</strong> <strong>se</strong>fora a <strong>do</strong> Maranhão, haven<strong>do</strong> <strong>se</strong>us filhos escapa<strong>do</strong> <strong>do</strong> naufrágio, e chega<strong>do</strong> à <strong>do</strong> Maranhão comqua<strong>se</strong> toda a sua gente, e achan<strong>do</strong> a da terra tão benévola, e pacífica, <strong>que</strong> causa havia para <strong>que</strong> a nãopovoass<strong>em</strong>?Prova-<strong>se</strong> também por <strong>que</strong> todas as <strong>que</strong> <strong>se</strong> deram na<strong>que</strong>le t<strong>em</strong>po foram contíguas umas comoutras, e os <strong>do</strong>natários éreos uns <strong>do</strong>s outros pela ord<strong>em</strong> <strong>que</strong> vimos nos capítulos precedentes.E finalmente <strong>se</strong> confirma, por <strong>que</strong> a <strong>do</strong> Maranhão foi dada a Luiz de Mello da Silva, <strong>que</strong> adescobriu, como <strong>se</strong> verá no capítulo <strong>se</strong>guinte, e não devia el-rei de dar a um, o <strong>que</strong> tinha da<strong>do</strong> aoutro.N<strong>em</strong> o mesmo João de Barros, na primeira década, <strong>livro</strong> <strong>se</strong>xto, capítulo <strong>primeiro</strong>, onde falada sua capitania, faz menção <strong>do</strong> Maranhão, mas só diz <strong>que</strong> da repartição <strong>que</strong> el-rei d. João Terceirofez das capitanias na província de Santa Cruz, <strong>que</strong> comumente <strong>se</strong> chama <strong>do</strong> Brasil, lhe coube uma, aqual lhe custou muita substância de fazenda, por razão de uma armada, <strong>que</strong> fez <strong>em</strong> companhia deAires da Cunha / et cetera, / <strong>que</strong> é a armada / como t<strong>em</strong>os dito / <strong>que</strong> arribou, e <strong>se</strong> foi perder noMaranhão, e daí man<strong>do</strong>u depois <strong>em</strong> outros navios buscar <strong>se</strong>us filhos, <strong>do</strong>nde ficou tão pobre, eendivida<strong>do</strong>, <strong>que</strong> não pôde mais povoar a sua terra, a qual já agora é de Sua Majestade, por cujomanda<strong>do</strong> depois <strong>se</strong> conquistou, e <strong>se</strong> ganhou ao gentio Potiguar à custa de sua real fazenda.CAPÍTULO DÉCIMO QUARTODa terra e capitania <strong>do</strong> Maranhão, <strong>que</strong> el-rei d. JoãoTerceiro <strong>do</strong>ou a Luiz de Mello da SilvaO Maranhão é uma grande baía, <strong>que</strong> fez o mar, cuja boca <strong>se</strong> abre ao norte <strong>em</strong> 2º e umquarto da linha para o sul, entre a’ponta <strong>do</strong> Pereá, <strong>que</strong> lhe fica a leste, e a <strong>do</strong> Cumá a oeste, t<strong>em</strong> nomeio a ilha de S. Luiz, <strong>que</strong> é de 20 léguas de compri<strong>do</strong>, e <strong>se</strong>te ou oito de largura, onde esteve Airesda Cunha, quan<strong>do</strong> <strong>se</strong> perdeu com a sua armada, e os filhos de João de Barros, como diss<strong>em</strong>os nocapítulo precedente. A qual ilha sai desta baía como língua com a ponta de Arassoagi ao norte, ondet<strong>em</strong> a boca. Dentro t<strong>em</strong> outras muitas ilhas, das quais a maior é de <strong>se</strong>is léguas. Deságuam nesta baíacinco rios caudalosos, e to<strong>do</strong>s navegáveis, <strong>que</strong> são o Monim, o Itapucuru, o Mearim, o Pinaré, <strong>que</strong>diz<strong>em</strong> nasce muito perto <strong>do</strong> Peru, e o Maracu, <strong>que</strong> <strong>se</strong> deriva por muitos, e mui espaçosos lagos.
39To<strong>do</strong>s estes rios têm boníssimas águas, e pesca<strong>do</strong>s, excelentes terras, muitas madeiras,muitas frutas, muitas caças, e por isto muito povoadas de gentios.No t<strong>em</strong>po <strong>que</strong> <strong>se</strong> começou a descobrir o Brasil, veio Luiz de Mello da Silva, filho <strong>do</strong>alcaide-mor de Elvas, como aventureiro, <strong>em</strong> uma caravela a correr esta costa, para descobrir algumaboa capitania, <strong>que</strong> pedir a el-rei, e não poden<strong>do</strong> passar de Pernambuco desgarrou com o t<strong>em</strong>po eáguas, e <strong>se</strong> foi entrar no Maranhão, <strong>do</strong> qual <strong>se</strong> contentou muito, e tomou língua <strong>do</strong> gentio, e depoisna Margarita de alguns solda<strong>do</strong>s <strong>que</strong> haviam fica<strong>do</strong> da companhia de Francisco de Orelhana, <strong>que</strong>como test<strong>em</strong>unhas de vista muito lha gabaram, e prometeram muitos haveres de ouro, e prata pelaterra dentro, <strong>do</strong> <strong>que</strong> movi<strong>do</strong> Luiz de Mello <strong>se</strong> foi a Portugal pedir a el-rei a<strong>que</strong>la capitania para aconquistar e povoar, e <strong>se</strong>n<strong>do</strong>-lhe concedida, <strong>se</strong> fez prestes na cidade de Lisboa, e partiu dela <strong>em</strong> trêsnaus e duas caravelas, com <strong>que</strong> chegan<strong>do</strong> ao Maranhão <strong>se</strong> perdeu nos esparsos e baixos da barra, <strong>em</strong>orreu a maior parte da gente <strong>que</strong> levava, escapan<strong>do</strong> só ele com alguns <strong>em</strong> uma caravela, <strong>que</strong> ficoufora <strong>do</strong> perigo, e 18 homens <strong>em</strong> um batel, <strong>que</strong> foi ter à ilha de Santo Domingo, <strong>do</strong>s quais foi ummeu pai, <strong>que</strong> Nosso Senhor tenha <strong>em</strong> sua glória, o qual <strong>se</strong>n<strong>do</strong> moço, por fugir de uma madrasta, e<strong>se</strong>r Alentejano, como o capitão, da geração <strong>do</strong>s Palhas, e com pouco grau para sustentar a vida, <strong>se</strong><strong>em</strong>barcou então para o Maranhão, e depois para esta Bahia, onde <strong>se</strong> casou, e me houve, e a outrosfilhos e filhas.Depois de Luiz de Mello <strong>se</strong>r <strong>em</strong> Portugal <strong>se</strong> passou à Índia, onde obrou valorosos feitos, evin<strong>do</strong>-<strong>se</strong> para o reino muito rico, e com tenção de tornar a esta <strong>em</strong>presa, acabou na viag<strong>em</strong> na nauSão Francisco, <strong>que</strong> desapareceu s<strong>em</strong> <strong>se</strong> saber mais novas dela; n<strong>em</strong> houve qu<strong>em</strong> tratas<strong>se</strong> mais <strong>do</strong>Maranhão o <strong>que</strong> visto pelos france<strong>se</strong>s, lançaram mão dele, como ver<strong>em</strong>os no <strong>livro</strong> quinto.Mas hão <strong>se</strong> aqui por fim deste de advertir duas coisas: a primeira <strong>que</strong> não guardei nele aord<strong>em</strong> de t<strong>em</strong>po e antigüidade das capitanias, e povoações, <strong>se</strong>não a <strong>do</strong> sítio, e contiguação de umascom outras, começan<strong>do</strong> <strong>do</strong> sul para o norte, o <strong>que</strong> não farei nos <strong>se</strong>guintes <strong>livro</strong>s, <strong>em</strong> <strong>que</strong> <strong>se</strong>guirei aord<strong>em</strong> <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos, e sucessão das coisas. A <strong>se</strong>gunda, <strong>que</strong> não tratei das <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Sergipe,Paraíba, e outras, por<strong>que</strong> estas <strong>se</strong> conquistaram depois, e povoaram por conta del-rei, por ord<strong>em</strong> de<strong>se</strong>us capitães, e governa<strong>do</strong>res gerais, e terão <strong>se</strong>u lugar quan<strong>do</strong> tratarmos deles nos <strong>livro</strong>s <strong>se</strong>guintes.LIVRO TERCEIRODA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE OGOVERNOU TOMÉ DE SOUZA
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165CAPÍTULO QUADRAGÉSIMODe outras
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