164 - Anestesia Casos Clínicos Capítulo IX - Anestesia para Cirurgia CardíacaCaso 1Paciente feminina, 55 anos, 70 quilos, 160 centímetros de altura, cardiopata isquêmica, estado físicoASA 4, portadora de hipertensão arterial sistêmica e diabetes, foi submetida à cirurgia de revascularizaçãodo miocárdio por lesão severa em artéria descendente anterior e artéria circunflexa. Antes daentrada em circulação extracorpórea, recebeu 280 mg de heparina e, após saída de perfusão (duraçãode 56 minutos), recebeu uma dose de 280 mg de protamina. No término da cirurgia, o Teste de CoagulaçãoAtivado (TCA) está, aproximadamente, igual ao realizado previamente ao uso de heparina (95segundos).1. Qual o mecanismo de ação da heparina?Desde a sua descoberta por Jay McLean, MD, em 1915, a heparina tem resistido ao teste do tempo econtinua a ser o principal anticoagulante utilizado na cirurgia cardíaca que exige a circulação extracorpórea(CEC). O mecanismo anticoagulante da heparina gira em torno da capacidade da molécula de heparina dese ligar simultaneamente à antitrombina III (AT III) e à trombina. O processo de ligação é mediado por umasequência de pentassacarídeo única que se liga à AT III. A proximidade da AT III e da trombina, mediadapela molécula de heparina, permite que a AT III, para inibir o efeito pró-coagulante da trombina, se ligue aoresíduo de serina do sítio ativo da molécula de trombina. O efeito inibitório da AT III é aumentado mil vezesna presença de heparina. O complexo heparina-AT III pode afetar vários fatores de coagulação, mas osfatores Xa e trombina são mais sensíveis à inibição por heparina, e a trombina é 10 vezes mais sensível aosefeitos inibitórios da heparina do que o fator Xa.2. Como é feita a monitorização da anticoagulação durante a circulaçãoextracorpórea?Uma amostra de sangue é adicionada a um tubo que contém um ativador de contato, celite ou caulim. Aamostra é aquecida a 37 ºC e o tubo é movimentado continuamente até a formação do coágulo. O nomedesse processo é Teste de Coagulação Ativado (TCA). Os valores de TCA podem variar de acordo com ofabricante da máquina e entre adultos e crianças. Em razão desses fatores interferentes, o TCA por si sónão é um indicador adequado da eficácia da heparina, e a simultaneidade ou o monitoramento adjuvante daconcentração de heparina também deve ser usado durante a CEC.O prolongamento do TCA por heparina, relacionado com fatores <strong>clínicos</strong> como hipotermia, hemodiluição ouanormalidades quantitativas ou qualitativas das plaquetas, exige do anestesiologista a redução da dose deheparina para manter o TCA. Com essa redução, a concentração de heparina pode tornar-se inadequada,mesmo quando a leitura permanece de acordo com uma faixa aceitável.O monitoramento da concentração de heparina e seu uso em doses maiores realmente podem proteger osistema hemostático e diminuir a necessidade de transfusão.3. O Teste de Coagulação Ativado (TCA) é o único método de avaliação dacoagulação durante a circulação extracorpórea?O teste de Tempo de Trombina (TT) plasmática mede a velocidade com que um coágulo se forma quandouma quantidade padrão de trombina bovina é adicionada a uma amostra de plasma pobre em plaquetas dopaciente e a uma amostra de controle normal de plasma pobre em plaquetas. Após a adição da trombina,o tempo de coagulação para cada amostra é registrado e comparado. Esse teste permite uma estimativarápida, porém imprecisa, dos níveis de fibrinogênio do plasma.
Capítulo IX - Anestesia para Cirurgia Cardíaca Anestesia Casos Clínicos - 165O TT correlaciona-se bem com a concentração de heparina, tanto antes como durante a CEC. Ao contráriodo TCA, o TT não é afetado pela hemodiluição e pela hipertermia, além disso, é um teste mais específicodo efeito da coagulação com heparina e parece possuir menor variabilidade. A aprotinina e as infusões deheparina pré-operatória não afetam os valores de TT.4. Como é feita a reversão da anticoagulação?A protamina continua a ser o agente de escolha de reversão da heparina em cirurgia cardíaca. A dose deprotamina necessária para reverter a heparina é um tanto controversa. Nos trabalhos sobre <strong>anestesia</strong> em cirurgiacardíaca relata-se o valor de 1 a 1,3 mg de protamina para cada 100 unidades de heparina. A perguntaa ser respondida gira em torno do tempo e da quantidade de heparina que se usa para que ela seja revertidapela protamina: deve ser utilizada a quantidade total de heparina para o procedimento ou a quantidade presenteno paciente no momento da reversão é suficiente? Na prática corrente, a dosagem geralmente segueum dos seguintes protocolos:1. A protamina é administrada de acordo com a quantidade total de heparina para o procedimento, especificamente,de 1 a 1,3 mg de protamina por 100 unidades de heparina. Esse método pode resultar em dosesde protamina luxuriantes, o que reduz os riscos teóricos ou reais do rebote de heparina mas pode colocar opaciente em maior risco para o efeito anticoagulante de protamina;2. Outra prática envolve a medida automática de heparina, a partir de um sistema de monitorização de suaconcentração. A quantidade de protamina utilizada nesse método é baseada na concentração de heparinacirculante no paciente no momento da reversão. Por, teoricamente, não haver excesso de protamina, essespacientes podem estar em risco de rebote da heparina e talvez exijam mais protamina.5. Uma dose excessiva de protamina pode deteriorar o sistema de coagulação?A reversão incompleta da heparina pode levar a sangramento por tempo prolongado, mas uma dose excessivade protamina (2 mg para cada 1 mg ou 100 UI de heparina) pode deteriorar o sistema de coagulação.A protamina livre pode diminuir o número de plaquetas e a função plaquetária, precipitar o fibrinogênio ereduzir o efeito pró-coagulante da trombina. Após reversão, com a protamina ante um prolongamento dotempo de coagulação ativado, é necessária a avaliação laboratorial com outros testes, como tempo detrombina, dosagem de complexo protamina/heparina, troboelastograma, contagem de plaquetas e níveis defibrinogênio no plasma.Caso 2Paciente feminina, 78 anos, portadora de estenose aórtica severa, gradiente máximo medido por ecografiatransesofágica de 85 mm Hg, cateterismo pré-operatório com coronárias normais, foi submetida à trocavalvar aórtica. Foi realizada <strong>anestesia</strong> geral com monitorizarão adequada, sem particularidades. O tempo decirculação extracorpórea foi de 80 minutos, e durante a saída da circulação extracorpórea a paciente apresentouinstabilidade hemodinâmica, necessitando de utilização de drogas vasopressoras.1. O que deve ser feito antes da saída da circulação extracorpórea?Antes da saída da circulação extracorpórea (CEC) é importante ter os resultados laboratoriais recentes ea gasometria arterial checada, verificar a temperatura do paciente, que deve estar normotérmico, avaliar acomplacência pulmonar e iniciar a ventilação adequada. O ritmo cardíaco, as alterações de ST e a frequênciadevem ser examinados. É importante recalibrar e zerar os transdutores de pressão, checar a pressãoarterial e a pressão venosa central, estimar a pré-carga e a resistência periférica arterial e, se disponível,
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