Capítulo VI - Anestesia em Ortopedia Anestesia Casos Clínicos - 992. Quais as indicações da utilização dos torniquetes?Os torniquetes são utilizados para diminuição do sangramento propiciando melhor visualização do campocirúrgico, bem como para diminuir perda volêmica transoperatória. Estão indicados na utilização de técnicasde <strong>anestesia</strong> regional intravenosa, na simpatectomia regional intravenosa para síndromes dolorosas complexase no isolamento de membros durante ressecção de tumores malignos localizados. Não tem sido utilizadona hemorragia arterial, pois seu uso está mais implicado em aumento da incidência de perda do membro doque em benefício para o paciente.3. Quais as repercussões fisiopatológicas da utilização de torniquetes?As repercussões do torniquete provêm tanto da insuflação e desinflação do manguito, de lesões locais resultantesda pressão exercidas nos tecidos, assim como da isquemia dos tecidos distais ao torniquete. O seu usocausa alterações cardiovasculares que advêm de um aumento expressivo da volemia após exsanguinação domembro. Um acréscimo de até 800 ml de volume sanguíneo circulante ocorre quando um membro inferior éexsanguinado, podendo levar a hipertensão e aumento da pressão venosa central. Taquicardia pode aparecerapós insuflação do manguito por dor local. Após a desinflação o paciente pode apresentar hipotensão resultanteda diminuição aguda da pressão venosa central e da diminuição da resistência vascular sistêmica pelaliberação de mediadores inflamatórios resultantes do metabolismo anaeróbico. No sistema respiratório ocorreaumento transitório da ETCO 2 após 1 a 13 minutos da desinflação do manguito. Este aumento é mais significantenos garroteamentos de membro inferior do que nos de membro superior. O fluxo sanguíneo cerebraltambém se eleva agudamente após desinflação do torniquete pelo aumento da ETCO 2 . Picos de aumento develocidade do fluxo ocorrem nos 2 a 4 minutos seguintes podendo levar a dano cerebral em pacientes com apressão intracraniana aumentada. Está relacionado inicialmente após insuflação, a um estado de hipercoagubilidadee agregação plaquetária induzida tanto pelos estímulos algogênicos cirúrgicos e do próprio torniquetecomo pela compressão tissular local e a isquemia que podem levar a liberação de mediadores pró-coagulantescomo ativador de plasminogênio tecidual, antitrombina III e o complexo trombomodulina - proteina C. Após adesinflação, ocorre um aumento da atividade trombolítica podendo levar a sangramento transitório pós-operatório.A incidência de tromboembolismo estaria aumentada após liberação do torniquete, principalmente emcirurgias de artroplastia de joelho, com tempo prolongado de garroteamento, o que levou alguns autores a contra-indicaremo uso do torniquete em pacientes com alto risco de TVP. As alterações metabólicas transitóriasapós a liberação do torniquete incluem hiperpotassemia, aumento do lactato, acidose metabólica, aumento daprodução de CO 2 e aumento do consumo de O 2 . Alterações estas que são revertidas completamente após 30minutos de reperfusão. Lesões locais em tecidos musculares, vasos e pele são observados. As lesões vascularesarteriais ocorrem principalmente em pacientes com doenças vasculares periféricas. Tempos prolongadosde torniquete causariam alterações histológicas musculares, edema intracelular e intersticial que poderia levarmais de 30 dias para se resolver e em <strong>casos</strong> mais graves causar síndrome compartimental.4. Quais as lesões nervosas mais comuns associadas ao uso dostorniquetes?Várias lesões nervosas associadas ao uso do torniquete são relatadas na literatura, variam de parestesias a paralisiase provavelmente são subestimados. As lesões em membros superiores são mais comuns que as lesõesde membros inferiores. No membro superior o nervo mais acometido é o nervo radial, seguido em frequênciapelo nervo ulnar e pelo nervo mediano. No membro inferior, Horlocker revisou 1001 pacientes que se submeterama cirurgia de artroplastia de joelho com tempo de torniquete maior que 120 minutos e encontrou uma incidênciade129 lesões em 90 pacientes perfazendo 7,7% de lesões neurológicas, sendo 85 lesões envolvendo o
100 - Anestesia Casos Clínicos Capítulo VI - Anestesia em Ortopedianervo fibular, 44 envolvendo o nervo tibial e 39 lesões envolvendo ambos. Os fatores associados seriam tempode garroteamento prolongado, pacientes jovens e presença pré-operatória de contratura em flexão. Felizmente,a recuperação da paralisia foi revertida em 89% das lesões do nervo fibular e 100% das lesões do nervo tibial.5. Quais cuidados devemos ter ao utilizar torniquetes?A Observação e a tentativa de redução do tempo de insuflação do torniquete deve ser uma preocupaçãoconstante do anestesiologista. A maioria dos autores sugere um tempo de torniquete máximo de uma horae meia a duas horas. Wiglis demonstrou um aumento progressivo tempo-dependente da acidose distal aogarrote no membro isquemiado de humanos. O pH chegou a 7.0 após duas horas de torniquete. Logo,deve-se evitar ao máximo tempos de isquemia maiores que este em pacientes hígidos. Tempo que deve serreduzido em pacientes com co-morbidades. Sabe-se ainda que tempo e pressão são variáveis aditivas nagênese de lesão tissular. Logo, preconiza-se o uso da menor pressão de insuflação efetivn. O ideal é utilizara menor pressão possível que leva a oclusão arterial. Sugere-se que em média, pressões de 200mmHg parao membro superior e 250mmHg para o membro inferior seriam adequados em pacientes normotensos.Em crianças, uma insuflação com173 mmHg para o membro superior e 276 mmHg para o membro inferior seriaefetivos A utilização de faixas de Esmarch pode gerar uma pressão de até 1000 mmHg e não devem ser utilizadasmesmo para exsanguinar o membro devendo-se optar pela elevação do membro a 45° ou 90° por 5 minutos. Períodosde reperfusão do membro intercalados aos períodos de insuflação em pacientes em que se sabe antecipadamenteque o período de garroteamento será maior que duas horas tem sido preconizados para diminuir a lesãomuscular período de reperfusão intermitente de 30 minutos, parece atenuar os efeitos da insuflação do torniqueteem humanos. Nos pacientes em ventilação mecânica deve-se aumentar o volume minuto em 50% por 5 minutosantes da desinflação para evitar aumentos da ETCO2. Pequenas doses de heparina intravenosa no transoperatóriode artroplastia de joelho têm sido preconizadas para reduzir o risco de tromboembolismo.Caso 3Paciente masculino, 28anos, 58 kg, com fratura distal bilateral do rádio associada à fratura-luxação do ombrodireito, é admitido após 3 horas de um acidente de moto para correção cirúrgica aberta bilateral mais reduçãofechada da luxação. Ao chegar ao hospital apresentava dor intensa (EVA=80, escala de 0-100). Optou-sepor técnica anestésica regional, realizando-se bloqueio via interescalênica (30ml ropivacaína 0,5%) à direitaseguido após 20 minutos de bloqueio axilar esquerdo (30ml Ropivacaína 0,5%).1. Quais as repercussões sobre a dinâmica respiratória do bloqueiointerescalênico?O bloqueio de plexo interescalênico é uma técnica extremamente útil, mesmo em pacientes de alto risco,por suas vantagens sobre o controle da dor cirúrgica e a ausência de manipulação da via aérea. No entanto,existe uma alta incidência de paralisia diafragmática e consequente impacto sobre a função pulmonar. Existemevidências de que o bloqueio frênico é inevitável mesmo com pequenos volumes de anestésico locale pressão digital aplicada proximalmente. A abordagem interescalênica por via posterior não é isenta dosefeitos adversos pulmonares, tendo sido demonstrado hemiparalisia diafragmática com redução nos testesde função pulmonar de forma semelhante à abordagem anterior. A Capacidade Vital Forçada e o Volume Expiratóriono 1º segundo estão reduzidos em torno de 25 a 30% após o bloqueio interescalênico.A mecânicarespiratória também pode ser afetada, levando a alterações na movimentação da parede torácica com maiorelevação do gradil costal ipsilateral e movimento paradoxal para baixo da parede abdominal.
- Page 2:
ANESTESIACASOS CLÍNICOS
- Page 5 and 6:
COPYRIGHT© 2010 BY SOCIEDADE BRASI
- Page 7 and 8:
Irimar de Paula PossoTSA-SBAPreside
- Page 9 and 10:
DiretoriaPresidente:Carlos Eduardo
- Page 11 and 12:
Capítulo IAnestesia e Sistema Nerv
- Page 13 and 14:
Capítulo I - Anestesia e Sistema N
- Page 15 and 16:
Capítulo I - Anestesia e Sistema N
- Page 17 and 18:
Capítulo I - Anestesia e Sistema N
- Page 19 and 20:
Capítulo I - Anestesia e Sistema N
- Page 21 and 22:
Capítulo I - Anestesia e Sistema N
- Page 23 and 24:
Capítulo I - Anestesia e Sistema N
- Page 25 and 26:
Capítulo I - Anestesia e Sistema N
- Page 27 and 28:
Capítulo I - Anestesia e Sistema N
- Page 29 and 30:
30 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 31 and 32:
32 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 33 and 34:
34 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 35 and 36:
36 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 37 and 38:
38 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 39 and 40:
40 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 41 and 42:
42 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 43 and 44:
44 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 45 and 46:
46 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 47 and 48: 48 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 49 and 50: 50 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 51 and 52: 52 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 53 and 54: 54 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 55 and 56: 56 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 57 and 58: 58 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 59 and 60: 60 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 62 and 63: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 64 and 65: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 66 and 67: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 68 and 69: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 70 and 71: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 72 and 73: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 74 and 75: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 76 and 77: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 78 and 79: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 80 and 81: Capítulo IV - Olhos, Ouvidos e Gar
- Page 82 and 83: Capítulo VSistema NeuromuscularOsc
- Page 84 and 85: Capítulo V - Sistema Neuromuscular
- Page 86 and 87: Capítulo V - Sistema Neuromuscular
- Page 88 and 89: Capítulo V - Sistema Neuromuscular
- Page 90 and 91: Capítulo V - Sistema Neuromuscular
- Page 92 and 93: Capítulo V - Sistema Neuromuscular
- Page 94 and 95: Capítulo VIAnestesia em OrtopediaC
- Page 96 and 97: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 100 and 101: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 102 and 103: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 104 and 105: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 106 and 107: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 108 and 109: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 110 and 111: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 112 and 113: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 114 and 115: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 116 and 117: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 118 and 119: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 120 and 121: Capítulo VI - Anestesia em Ortoped
- Page 122 and 123: 124 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 124 and 125: 126 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 126 and 127: 128 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 128 and 129: 130 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 130 and 131: 132 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 132 and 133: 134 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 134 and 135: 136 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 136 and 137: 138 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 138 and 139: 140 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 140 and 141: 142 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 142 and 143: 144 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 144 and 145: 146 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 146 and 147: 148 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 148 and 149:
150 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 150 and 151:
152 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 152 and 153:
154 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 154 and 155:
156 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 156 and 157:
158 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 158 and 159:
160 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 160 and 161:
162 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 162 and 163:
164 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 164 and 165:
166 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 166 and 167:
168 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 168 and 169:
170 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 170 and 171:
172 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 172 and 173:
174 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 174 and 175:
176 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 176 and 177:
178 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 178 and 179:
180 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 180 and 181:
182 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 182 and 183:
184 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 184 and 185:
186 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 186 and 187:
188 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 188 and 189:
190 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 190 and 191:
192 - Anestesia Casos Clínicos Cap
- Page 192 and 193:
194 - Anestesia Casos Clínicos Cap