170 - Anestesia Casos Clínicos Capítulo IX - Anestesia para Cirurgia CardíacaCaso 4Paciente de 44 anos, do sexo masculino, foi trazido por paramédicos ao serviço de emergência, devido àpresença, no hemitórax esquerdo, de ferida penetrante por arma branca. Apresentava-se com dispneia,sudorese e agitação. Os sinais vitais mostravam frequência respiratória: 25 irpm, pressão arterial: 150 x 70mmHg, frequência cardíaca: 105 bpm e saturação de oxigênio: 96%. Ao exame físico, distensão venosajugular bilateral e abafamento de bulhas cardíacas à ausculta. Radiografia de tórax evidenciou alargamentodo mediastino. A ecocardiografia mostrou sinais sugestivos de tamponamento cardíaco.1. O que é tamponamento cardíaco?É uma condição de descompensação hemodinâmica que resulta do aumento da pressão intrapericárdica,culminando em compressão e colapso cardíaco. O aumento da pressão intrapericárdica promove diminuiçãodos volumes ventriculares, aumento da pressão diastólica ventricular e diminuição da complacência diastólica.A redução da pré carga leva a menor volume sistólico, débito cardíaco e pressão arterial.O volume que causa distensão do pericárdio, ou reserva pericárdica, aproxima-se de 10 a 30ml. À medidaem que o volume aumenta, excede a capacidade de distensão pericárdica e causa compressão progressivadas câmaras cardíacas, com redução da complacência e dos volumes de enchimento.Os principais determinantes da gravidade da doença e das consequentes alterações hemodinâmicas sãoa velocidade de acúmulo de fluidos em relação à distensibilidade pericárdica e a eficácia dos mecanismoscompensatórios.2. Quais as etiologias mais comuns?O tamponamento agudo pode ser causado por trauma penetrante ou contuso, rotura miocárdica após infarto,aneurisma aórtico, hematomas dissecantes ou lesões iatrogênicas, como após cateterismo cardíaco, instalaçãode marcapassos, pericardiocenteses ou reanimação cardiopulmonar.O tamponamento crônico ou subagudo tem como etiologias mais comuns causas idiopáticas, pericarditesvirais, acúmulo de fluidos por neoplasias e relacionadas a diálise.3. Descreva as manifestações do tamponamento cardíaco.As apresentações do tamponamento cardíaco podem ser observadas como alterações hemodinâmicas progressivasdecorrentes da gradual elevação da pressão intrapericárdica, de leve a intensa.A doença leve ou de instalação lenta é, frequentemente, assintomática.Nas apresentações moderada e grave manifestam-se dispneia, ortopneia, sintomas de compressão torácica,dor pericárdica, abafamento das bulhas cardíacas e agitação ou alterações da consciência. Ocorregrande aumento da pressão venosa. A denominada tríade de Beck consiste de hipotensão arterial,aumento da pressão venosa e um coração “pequeno e silencioso”. O sinal mais comum é a distensãodas jugulares, e sem o aumento da pressão venosa, não se pode fazer diagnóstico de tamponamentocardíaco.Taquicardia, pulso paradoxal (diminuição inspiratória da pressão arterial maior que 10 mmHg), sinal deKussmaul (distensão jugular durante a inspiração) e hipotensão arterial são observados com a progressãodo quadro.Aumento do tônus simpático causa taquicardia, como medida compensatória para a manutenção do débitocardíaco, e aumento da resistência vascular sistêmica, para preservação do retorno venoso e pressão arterialsistêmica. Quando os mecanismos compensatórios sofrem esgotamento, o paciente pode evoluir para ochoque cardiogênico.
Capítulo IX - Anestesia para Cirurgia Cardíaca Anestesia Casos Clínicos - 171Exames diagnósticos: a radiografia de tórax mostra alargamento mediastinal progressivo ou cardiomegalia.À ecocardiografia, o exame de escolha, evidencia-se a efusão pericádica. O colapso diastólico do átrio direitoe ventrículo direito e/ou colapso diastólico do ventrículo esquerdo são os sinais mais sensíveis e específicosde tamponamento cardíaco. Observa-se ainda excessiva variação respiratória das velocidades de fluxo aoDoppler através das válvulas tricúspide e mitral, e pode haver também balanço pendular do coração dentrodo fluido pericárdico.Ao eletrocardiograma (ECG), o tamponamento cardíaco promove alterações inespecíficas da onda T, baixavoltagem do complexo QRS e, possivelmente, sinais de pericardite ou isquemia miocárdica. Um sinal específico,mas incomum, é a alternância elétrica da onda P e complexo QRS, variações da amplitude das ondasentre os batimentos.4. Como tratar tamponamento cardíaco?O tratamento consiste da drenagem do fluido do espaço pericárdico.Uma abordagem é a paracentese percutânea por agulha, preferencialmente sob exames de imagem, comoecocardiograma, fluoroscopia ou tomografia computadorizada. A retirada de até 50 ml de fluido pode, muitasvezes, ser suficiente para que o paciente recupere a estabilidade hemodinâmica.O tratamento cirúrgico deve ser instituído para pacientes com hemorragia pericárdica, presença de coágulos,ou condições que impeçam a eficácia da paracentese por agulha.Até que o tratamento definitivo seja obtido, deve-se instituir medidas auxiliares para o controle clínicodo paciente, com terapias que suportem os mecanismos compensatórios e diminuam a elevada resistênciavascular sistêmica. A dobutamina é capaz de aumentar o inotropismo cardíaco sem, no entanto,aumentar a resistência vascular sistêmica. Deve-se evitar a ventilação mecânica com pressão positiva,pois pode promover aumento da pressão intratorácica, diminuição do retorno venoso e do débito cardíaco.Em caso de parada cardiocirculatória, as manobras de compressão podem ser ineficazes, pois o fluidono espaço pericárdico não apenas impede o enchimento atrial, mas também funciona como coxim parao coração contra as compressões externas. Idealmente, deve-se primeiramente realizar a drenagem pericárdica.5. Como fazer o manuseio anestésico do paciente com tamponamentocardíaco?O uso de ansiolíticos deve ser evitado, pois a ativação do sistema nervoso simpático contribui como umimportante mecanismo compensatório das alterações hemodinâmicas no tamponamento cardíaco.A monitorização deve incluir ECG, oximetria de pulso, medida invasiva da pressão arterial e pressão venosacentral.Uma vez que os fármacos anestésicos apresentam potencial para causar depressão da função cardíaca,deve-se dar preferência aos agentes que preservem os mecanismos compensatórios ou reduzir, de modoadequado, a dose a ser utilizada.O manuseio da hipotensão arterial à indução da <strong>anestesia</strong> poderá incluir uso de fármacos vasoativos, inotrópicose a reposição de fluidos intravenosos, para otimizar a pré carga.A pressão positiva inspiratória em valores mais baixos auxilia na redução do impacto sobre a função hemodinâmica.Ventilação espontânea também pode ser empregada.A pericardiocentese causa alívio imediato do quadro, com recuperação da pressão arterial e débito cardíaco,se o miocárdio não tiver sido comprometido. Oxigenação, equilíbrio ácido-básico e função renal também sãorapidamente recuperados. O suporte hemodinâmico pode ser dispensado logo que o paciente recupere ahomeostase.
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