Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Na reali<strong>da</strong>de nunca tinha conhecido à irmã de Oliver nem tampouco aos senhores Marshall. Mas a<br />
reali<strong>da</strong>de não alterava em na<strong>da</strong> a substância de seus sonhos. Ca<strong>da</strong> vez que Oliver recebia uma carta de<br />
casa, ou enviava uma escultura para alguma irmã, Robert se apaixonava um pouco mais por todos eles.<br />
Não importava quem fossem nem como fossem. Se correspondiam a seu carinho, teria por fim um lugar<br />
em que se encaixaria.<br />
– Ah! –exclamou Oliver. Deu-lhe um murro no ombro que foi uma autêntica amostra de afeto. –<br />
Acredito que você não tem na<strong>da</strong> de seu pai.<br />
Robert encolheu os ombros.<br />
– Se você diz…<br />
Mas ele tinha provado que sim… e precisamente com a família de<br />
Oliver.<br />
A coisa tinha sido como esperava. O dia em que os pais de Oliver foram de visita por fim, Robert<br />
tinha se vestido com muito esmero. Escovou o cabelo e os dentes duas vezes e amarrou três vezes o laço<br />
do pescoço em um esforço por parecer sério e respeitável. Descobriu-se passeando pela sala com uma<br />
energia impaciente e desespera<strong>da</strong> enquanto Oliver o olhava com estranheza.<br />
Robert sabia que seus sonhos eram apenas sonhos. Eram tão tolos que nunca os tinha mencionado a<br />
seu irmão. Mas embora fossem somente fantasias, embora eles não chegassem a querê-lo, sim podia lhes<br />
gostar um pouco. Não?<br />
Quando se abriu a porta e entraram os senhores Marshall, pareceu-lhe que nunca tinha visto na<strong>da</strong> tão<br />
bonito. Tão normal. Eles tinham se adiantado com os braços abertos para abraçar Oliver. E este, o<br />
ingrato, tinha franzido o cenho e se queixou com frases como: “Basta, mamãe, o cabelo não”. Ou “não me<br />
beije diante dos meninos”. To<strong>da</strong>s essas amostras de carinho só porque levavam uns meses sem vê-lo.<br />
Robert os tinha observado do outro lado <strong>da</strong> sala com um nó na garganta.<br />
E logo tinha chegado o momento que Robert esperava. Depois <strong>da</strong>s sau<strong>da</strong>ções afetuosas, Oliver se<br />
virou então.<br />
– Mãe – disse, – pai, este é…<br />
Mas a senhora Marshall se voltou ao mesmo tempo em que seu filho. Seu olhar se pousou em Robert<br />
e, ao fazê-lo, ela ficou muito quieta, tanto que quase deu a impressão de que a sala inteira se paralisou<br />
com ela. Abriu muito os olhos e sua cara ficou branca. Olhou-o fixamente.<br />
E sem dizer uma palavra, sem nem sequer elevar uma mão em uma ameaça de sau<strong>da</strong>ção, ergueu-se<br />
muito reta, voltou-se e saiu <strong>da</strong> sala.<br />
Robert teve a sensação de que seus pulmões se enchiam de partes de cristal. Doía-lhe respirar. Deu<br />
um passo para ela… mas interveio o senhor Marshall.<br />
– Você deve ser o Duque de Clermont – disse, colocando-se diante dele.<br />
Robert tinha pensado lhes pedir que o acolhessem e o chamassem por seu nome de batismo depois<br />
<strong>da</strong>s apresentações. Mas essas palavras, essa busca de intimi<strong>da</strong>de, lhe teria feito parecer mais<br />
desesperado. Conseguiu assentir com a cabeça com firmeza.<br />
O senhor Marshall falou com voz baixa, mas isso não pôde suavizar a dureza do golpe que supuseram<br />
suas palavras.