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01 - A Guerra da Duquesa

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Amaldiçoou aquele homem, porque, embora não falasse a sério, embora tudo aquilo fosse só um<br />

modo de tentar lhe nublar a mente e desviá-la de seu caminho, tinha-lhe feito acreditar que ela podia<br />

mu<strong>da</strong>r as coisas. E que dessa vez, quando o fizesse…<br />

Aquele desejo a golpeou com a força de um murro no peito. Foi doloroso e lhe paralisou. Não só<br />

desejava. Tinha esperança. Necessitava.<br />

Sonhava que, dessa vez, quando revelassem à multidão o que era em reali<strong>da</strong>de, não a rodeariam nem<br />

lhe atirariam pedras. Essa vez não a chamariam besta nem semente do diabo. Essa vez, em vez de tirarlhe<br />

tudo, alguém a amaria por ser quem era.<br />

Um desejo que era muito grande para a pessoa que tinha que ser.<br />

Amaldiçoou ao duque de Clermont por lhe <strong>da</strong>r aquela esperança. Amaldiçoou-o por seu conselho de<br />

que olhasse para cima. Amaldiçoou-o por lhe fazer acreditar.<br />

Picavam-lhe os olhos. Apontou com o garfo no prato e golpeou cegamente.<br />

– Maggie – Eliza arqueou as sobrancelhas com preocupação. – Está bem?<br />

– Estou…<br />

“Muito bem”.<br />

Supunha-se que tinha que responder isso. Não devia pedir na<strong>da</strong> nem admitir nenhum desconforto. Uma<br />

<strong>da</strong>ma tinha que comportar-se assim.<br />

Mas a mentira não pôde cruzar seus lábios. Estava cheia, transbor<strong>da</strong>ndo de emoção. E, de algum<br />

modo, em vez de murmurar uma desculpa e sair <strong>da</strong> sala, como tinha que ter feito, sentiu que lhe escapava<br />

o garfo <strong>da</strong> mão, cruzava a mesa e golpeava a parede de frente com um som metálico.<br />

– Não – repôs. – Não, não estou bem.<br />

– Minnie!<br />

– Não estou bem – repetiu. – Não estou bem. Como puderam me fazer isto?<br />

Eliza ficou em pé e deu um passo para ela.<br />

– Minnie, o que te ocorre?<br />

– Vocês me fizeram isto – repetiu a jovem. Tremia-lhe a voz por tantos anos de lágrimas não<br />

derrama<strong>da</strong>s. – As duas me fizeram isso.<br />

Converteste-me nesta… nesta…<br />

Encontrou a colher ao lado de seu prato e lançou também aquela parte de estanho contra a parede.<br />

– … neste na<strong>da</strong>! – terminou. – E agora estou presa nela e não posso encontrar a saí<strong>da</strong>.<br />

Eliza e Caroline trocaram um olhar doído.<br />

– Tenho tudo isto dentro de mim. Todos estes pensamentos, estes desejos, estas ambições.<br />

Caroline fez uma careta de dor ao ouvir isso.<br />

E não são na<strong>da</strong> – continuou Minnie. – Na<strong>da</strong>, na<strong>da</strong>, na<strong>da</strong>. Igual a mim.<br />

– Oh, Minnie! – disse Eliza, com a mesma gentileza que usaria um moço de estábulo com um cavalo<br />

que se encabritava. – O sinto muito. Prometi a sua mãe antes de morrer que cui<strong>da</strong>ria de ti. Se tivesse<br />

cumprido minha promessa, agora não se sentiria assim. Nunca teria sabido…

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