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Amaldiçoou aquele homem, porque, embora não falasse a sério, embora tudo aquilo fosse só um<br />
modo de tentar lhe nublar a mente e desviá-la de seu caminho, tinha-lhe feito acreditar que ela podia<br />
mu<strong>da</strong>r as coisas. E que dessa vez, quando o fizesse…<br />
Aquele desejo a golpeou com a força de um murro no peito. Foi doloroso e lhe paralisou. Não só<br />
desejava. Tinha esperança. Necessitava.<br />
Sonhava que, dessa vez, quando revelassem à multidão o que era em reali<strong>da</strong>de, não a rodeariam nem<br />
lhe atirariam pedras. Essa vez não a chamariam besta nem semente do diabo. Essa vez, em vez de tirarlhe<br />
tudo, alguém a amaria por ser quem era.<br />
Um desejo que era muito grande para a pessoa que tinha que ser.<br />
Amaldiçoou ao duque de Clermont por lhe <strong>da</strong>r aquela esperança. Amaldiçoou-o por seu conselho de<br />
que olhasse para cima. Amaldiçoou-o por lhe fazer acreditar.<br />
Picavam-lhe os olhos. Apontou com o garfo no prato e golpeou cegamente.<br />
– Maggie – Eliza arqueou as sobrancelhas com preocupação. – Está bem?<br />
– Estou…<br />
“Muito bem”.<br />
Supunha-se que tinha que responder isso. Não devia pedir na<strong>da</strong> nem admitir nenhum desconforto. Uma<br />
<strong>da</strong>ma tinha que comportar-se assim.<br />
Mas a mentira não pôde cruzar seus lábios. Estava cheia, transbor<strong>da</strong>ndo de emoção. E, de algum<br />
modo, em vez de murmurar uma desculpa e sair <strong>da</strong> sala, como tinha que ter feito, sentiu que lhe escapava<br />
o garfo <strong>da</strong> mão, cruzava a mesa e golpeava a parede de frente com um som metálico.<br />
– Não – repôs. – Não, não estou bem.<br />
– Minnie!<br />
– Não estou bem – repetiu. – Não estou bem. Como puderam me fazer isto?<br />
Eliza ficou em pé e deu um passo para ela.<br />
– Minnie, o que te ocorre?<br />
– Vocês me fizeram isto – repetiu a jovem. Tremia-lhe a voz por tantos anos de lágrimas não<br />
derrama<strong>da</strong>s. – As duas me fizeram isso.<br />
Converteste-me nesta… nesta…<br />
Encontrou a colher ao lado de seu prato e lançou também aquela parte de estanho contra a parede.<br />
– … neste na<strong>da</strong>! – terminou. – E agora estou presa nela e não posso encontrar a saí<strong>da</strong>.<br />
Eliza e Caroline trocaram um olhar doído.<br />
– Tenho tudo isto dentro de mim. Todos estes pensamentos, estes desejos, estas ambições.<br />
Caroline fez uma careta de dor ao ouvir isso.<br />
E não são na<strong>da</strong> – continuou Minnie. – Na<strong>da</strong>, na<strong>da</strong>, na<strong>da</strong>. Igual a mim.<br />
– Oh, Minnie! – disse Eliza, com a mesma gentileza que usaria um moço de estábulo com um cavalo<br />
que se encabritava. – O sinto muito. Prometi a sua mãe antes de morrer que cui<strong>da</strong>ria de ti. Se tivesse<br />
cumprido minha promessa, agora não se sentiria assim. Nunca teria sabido…