Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Os pães-doces, quentes, macios e lubrificados de manteiga, estavam tão bons que Minnie quase não<br />
queria compartilhá-los com os pássaros.<br />
Mas quando jogavam os restos de seu café <strong>da</strong> manhã às pombas, e tentavam assegurar-se de que os<br />
intrépidos par<strong>da</strong>is pequenos que se aproximavam pelo lateral levassem também sua parte, aproximou-se<br />
coxeando um menino pequeno com um cajado. Na cabeça levava uma boina de feltro, que não era o<br />
bastante grande para lhe tampar as orelhas.<br />
O olhar calculista de seus olhos não estava em consonância com sua curta i<strong>da</strong>de. Mas em seu caso, a<br />
i<strong>da</strong>de não tinha na<strong>da</strong> a ver com a necessi<strong>da</strong>de de ser ardiloso. Aproximou-se coxeando a eles, apoiandose<br />
pesa<strong>da</strong>mente na bengala. O balanço de seu passo era muito exagerado para ser real. Havia coisas que<br />
não era necessário traduzir.<br />
Minnie tocou com a mão o bracelete que levava no pulso.<br />
Os olhos do menino brilharam calculadores. Se tinha pensado em lhes roubar enquanto jogavam<br />
miolos às pombas, não lhe custou muito mu<strong>da</strong>r de estratégia.<br />
– Uns centavos, Monsieur – disse em um inglês passável. Tirou a boina e fez uma reverência a Robert<br />
com ela. – Uns poucos trocados para o aleijado.<br />
Minnie se perguntou como teria adivinhado que eram ingleses. Mas supôs que não devia ser muito<br />
difícil. Depois de tudo, provavelmente os tinha ouvido falar.<br />
Ela quase esperava que Robert o espantasse, mas em vez disso, tirou uma bolsa. Sem dizer uma<br />
palavra, colocou a mão nela e extraiu uma moe<strong>da</strong>. Minnie viu o brilho do ouro quando ele lançou a<br />
moe<strong>da</strong> ao menino.<br />
O menino ergueu a mão e apanhou a moe<strong>da</strong> no ar com bons reflexos. Mas abriu muito a boca quando<br />
viu o que tinha na mão. O cajado lhe caiu ao chão e ele não se deu conta e seguiu olhando a moe<strong>da</strong>.<br />
Robert soltou o braço de Minnie e se aproximou do menino. Agachou-se e recolheu o cajado.<br />
– A próxima vez – disse em um francês com muito acento inglês, – não jogue o cajado. Outro homem<br />
poderia não haver-se <strong>da</strong>do conta de que isto era uma interpretação e possivelmente se mostraria menos<br />
indulgente.<br />
– Monsieur – o menino olhou de novo a moe<strong>da</strong> que tinha na mão e a seguir jogou o cajado em Robert<br />
e saiu correndo sem o menor rastro de claudicação.<br />
– Sabia que fingia a claudicação? – perguntou Minnie.<br />
Robert encolheu os ombros. – Parecia muito provável.<br />
– E lhe deste…? Por certo, quanto lhe deste?<br />
– Uma moe<strong>da</strong> de vinte francos. Duvido que tenha visto outra em sua vi<strong>da</strong>.<br />
Vinte francos. Isso valia quase uma libra. Um garoto de rua necessitava meses e meses pedindo<br />
esmola para reunir esse botim.<br />
– Por que lhe deste isso se sabia que mentia?<br />
Robert sorriu.<br />
– Os farsantes necessitam aju<strong>da</strong> tanto como outros. Eu sei muito disso – olhou na direção em que se<br />
afastou o menino. – Especialmente quando se faz assim.