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um parlamento. Duas partes independentes e levemente hostis que se reuniam para acor<strong>da</strong>r as tarifas entre<br />
suas nações.<br />
Como sempre, ela não tinha nem um fio de cabelo fora de seu lugar. Ia vesti<strong>da</strong> ao que certamente seria<br />
a última mo<strong>da</strong>, embora Robert não se incomo<strong>da</strong>va em segui-la. Usava um vestido azul escuro, com a<br />
prega bor<strong>da</strong><strong>da</strong> com um desenho branco e ouro de duas polega<strong>da</strong>s de largura. Sua cintura era fina, mas não<br />
muito aperta<strong>da</strong>, e um xale de ren<strong>da</strong> negro lhe cobria os ombros.<br />
Sempre tinha sido uma mulher imponente, como uma torre de castelo longínqua que espreitasse no<br />
horizonte. E sempre se mostrou distante, inclusive quando o visitava quando menino.<br />
As duas jar<strong>da</strong>s que havia nesse momento entre eles poderiam ter sido um estádio. Desde que ele<br />
alcançou a maiori<strong>da</strong>de, tinham obtido uma espécie de confortável convívio. Quando ambos coincidiam na<br />
ci<strong>da</strong>de, jantavam juntos, nunca mais de uma vez, e não falavam de na<strong>da</strong>. Das obras benéficas dela, do<br />
trabalho dele no parlamento… Tudo o que se diziam nesses jantares poderiam havê-lo sabido lendo as<br />
páginas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Ele não tinha expectativas com ela e ela já não o decepcionava.<br />
Mas que ela fosse vê-lo… aquilo era novo.<br />
Bem, Clermont – a duquesa deixou a colher e um servente retirou sua tigela de sopa. Ela tinha a vista<br />
crava<strong>da</strong> em Robert. Olhava-o com expressão afável e cortês. Na<strong>da</strong> fora do comum. – Suponho que sabe<br />
por que vim.<br />
– Não – respondeu ele. – Não sei.<br />
Ela arqueou uma sobrancelha.<br />
– Não o recor<strong>da</strong>? A última vez que falamos, mencionou que pensava tomar uma esposa.<br />
A última vez que tinham falado tinha sido dois meses atrás. Robert tinha assentido quando ela havia<br />
dito que um homem que se aproximava dos trinta deveria pensar no matrimônio. Em seu momento lhe<br />
tinha parecido um comentário inócuo. Um tema de conversa sem complicações.<br />
– Você concordou em cumprir com seu dever – disse ela com calma.<br />
– Disse que me casaria – recordou ele. – Acredito que não disse nenhuma palavra sobre o dever.<br />
Lhe palpitaram as aletas do nariz e apertou os lábios, como se a ideia de que o matrimônio pudesse<br />
ser algo mais que um dever lhe desse vontade de espirrar. Mas não disse na<strong>da</strong> até que lhes serviram o<br />
seguinte prato. Então esperou até que Robert tomasse uma denta<strong>da</strong>, e não pudesse protestar, antes de<br />
falar:<br />
– Se tivermos que abor<strong>da</strong>r o tema como é devido, poderia levar anos. Tais assuntos não se podem<br />
tratar de um modo cavalheiresco. Terá que investigar antecedentes, obter informação – pegou um garfo. –<br />
Devemos fazer listas. Eu já comecei três.<br />
Robert tragou a denta<strong>da</strong> de pescado apesar de que tinha a garganta seca. Embora a mulher senta<strong>da</strong><br />
frente a ele fosse sua mãe, era uma estranha. Quando era menino a tinha visto muito pouco. Em outro<br />
tempo tinha querido que ela o cui<strong>da</strong>sse. Tinha-o desejado desespera<strong>da</strong>mente; tinha inventado uma<br />
desculpa atrás de outra para justificar sua ausência. Mas ela tinha deixado dolorosamente claro que suas<br />
desculpas eram somente isso e que não queria ter na<strong>da</strong> a ver com ele.<br />
– Perdão – disse Robert, consciente de que um manto de silêncio cobria a sala desde que ela tinha<br />
falado. – O que quer dizer com o de que devemos fazer listas? Quais listas devemos fazer?