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– É obvio, perguntei-lhe o que era um tolo. E assim foi como tirou a limpo meu intento de engano.<br />
Acabava de demonstrar que sabia ler. Ela não disse nenhuma palavra. Ficou de pé e saiu <strong>da</strong> sala. Depois<br />
disso, meu pai e ela tiveram a briga mais terrível de to<strong>da</strong>s. E acredito que dessa vez inclusive lhe atirou<br />
coisas. Eu não voltei a vê-la em dezoito meses.<br />
Minnie não sabia o que dizer. Ele sorria como se acabasse de relatar uma história diverti<strong>da</strong>, como a<br />
anedota que podia contar Minnie de uma vez que se perdeu aos sete anos e tinha metido a mão no bolso<br />
de outro homem acreditando que era seu pai.<br />
– Meu Deus! – exclamou ele. – Não posso acreditar que fora tão descarado quando menino.<br />
Como podia sorrir recor<strong>da</strong>ndo que seu pai o tinha recrutado com seis anos para utilizá-lo como arma<br />
contra sua mãe? Como podia rir de que sua mãe se afastou dele? Como podia fingir que pudesse haver<br />
algo divertido no fato de que seu pai arrebatasse um menino recém-nascido de sua mãe para tentar lhe<br />
tirar mais dinheiro?<br />
– Sabe, Robert? – perguntou, engasgando-se com as palavras. – Essa história não tem na<strong>da</strong> de<br />
graciosa. Na<strong>da</strong>.<br />
A ele foi apagando o sorriso pouco a pouco.<br />
– Não lhe pareceu isso? Mas… – franziu o cenho e esfregou o queixo. – A primeira parte não. Isso o<br />
compreendo. E… e suponho que não é exatamente uma história com um final feliz. Não tinha pensado<br />
nisso, mas estou tão acostumado a esse final que não penso duas vezes nisso. E a parte do meio sim é<br />
graciosa. Não te parece?<br />
– Quando trocou a M de marmota pela M de mamãe, fazia-o a sério?<br />
Por um momento, os olhos dele não mostraram nenhum regozijo. Parecia muito mais velho. Apertou<br />
os lábios, ressaltando as pequenas rugas que tinha nos cantos dos lábios. E, entretanto, também parecia<br />
jovem. Incrivelmente jovem, como se o menino de seis anos que tinha sido seguisse olhando desde detrás<br />
de seus olhos, vendo como se afastava sua mãe.<br />
– Pode ser – disse.<br />
Afastou um momento a vista e depois voltou a olhá-la. O regozijo estava de novo presente em seu<br />
rosto, mas se via um pouco forçado, como se tentasse usar um chapéu que não lhe cabia.<br />
– Por isso não tem graça.<br />
– A história tem elementos graciosos – protestou ele. – Dizer que seis mais cinco somam treze?<br />
Minnie notava o braço dele tenso sob sua mão. A seguinte parte do pão-doce que lançou aos patos o<br />
jogou com tanta força que um deles grasnou surpreso e se afastou antes de <strong>da</strong>r-se conta de que se tratava<br />
de comi<strong>da</strong>. E possivelmente foi nesse momento quando Minnie compreendeu o muito que significava<br />
aquilo para ele. Para ele tinha que ser uma história diverti<strong>da</strong> porque aquela lembrança dele dizendo<br />
mentiras a pedido de seu pai e querendo desespera<strong>da</strong>mente que sua mãe ficasse, era em reali<strong>da</strong>de uma<br />
história sobre como tinham quebrado o coração de um menino.<br />
Aquele era o homem que tinha entendido que um matrimônio com a filha de um nobre acabaria em<br />
lamentos e recriminações e que queria abolir a nobreza. Robert sabia de primeira mão o que implicava<br />
que uma esposa se afastasse dele e tinha rechaçado essa possibili<strong>da</strong>de. Tinha-a rechaçado embora isso<br />
implicaria falatórios e escân<strong>da</strong>lo, embora suportasse que os membros mais rígidos <strong>da</strong> alta socie<strong>da</strong>de<br />
nunca aceitariam a sua família.<br />
Robert não a olhou.