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– Quando fiz quatro anos, tinham chegado a um acordo. Meu avô, o pai de minha mãe, deu um<br />
punhado de fábricas a meu pai para que pudesse manter no lugar a seus piores credores – olhou para<br />
Minnie. – Botas Graydon foi uma delas. Em troca, minha mãe poderia visitar-nos uns quantos dias duas<br />
vezes ao ano. Eu tentava desespera<strong>da</strong>mente me comportar bem quando ela vinha. Me comportar muito<br />
bem para que essa vez não partisse. Meu pai, naturalmente, apoiava-me nesse empenho. Quando tinha<br />
seis anos lhe ocorreu um plano brilhante. Eu fingiria que não sabia ler, presumivelmente porque meu pai,<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong> sua pobreza, não podia permitir-se me pagar um tutor. Estava seguro de que isso faria com que ela<br />
se entregasse.<br />
Minnie pigarreou; sentia uma opressão na garganta.<br />
– E funcionou?<br />
– Quase. Eu interpretei o papel do menino mais lastimoso do mundo. Fingi que não conhecia o<br />
alfabeto. Olhava as páginas como se não me dissessem na<strong>da</strong> e encolhia os ombros. Comecei a recitar o<br />
alfabeto, mas saltava letras. Saltava <strong>da</strong> L a P. Contei até cem e troquei os sessenta pelos setenta. Disse<br />
que cinco e seis somavam treze – sorriu. – E meu pai tinha razão. Esteve a ponto de funcionar. Depois de<br />
uns dias, ela enviou uma carta a seu pai lhe encarregando que enviasse outro baú com suas coisas.<br />
Comprou uma cartilha em uma loja próxima e to<strong>da</strong>s as tardes me levava ao salão, sentava-se comigo e<br />
estudávamos o alfabeto. Mostrava-se muito severa nas aulas, quase autoritária. Tínhamos um horário<br />
muito estrito.<br />
– Você já… – Minnie não podia acreditar que o filho de um duque não soubesse ler a essa i<strong>da</strong>de, mas,<br />
por outra parte, tampouco podia acreditar que um duque crescesse sem ver alguma vez a sua mãe. – Você<br />
já sabia ler então, não é assim?<br />
Robert encolheu os ombros com indiferença.<br />
– Naturalmente. Não havia muito mais que pudesse fazer ali além de ler. Depois de três dias fingindo<br />
ignorância, a situação começava a me chatear porque queria terminar de ler Robinson Crusoé. Mas o<br />
plano funcionava.<br />
Ela não havia partido ain<strong>da</strong>. Quando chegamos a M de marmota, eu a troquei pela M de mamãe. Ela<br />
me dedicou um olhar muito estrito com os lábios apertados e exigiu saber por que havia dito isso. Disselhe<br />
que era porque as marmotas não eram na<strong>da</strong> especiais para mim, mas a ela gostava de tê-la ali.<br />
Minnie não sabia como ele podia sorrir quando ela notava que lhe partia o coração.<br />
Mas ele moveu a cabeça com um gesto que parecia quase de regozijo.<br />
– Aparentemente, levei muito longe a exploração <strong>da</strong> lástima, porque ela moveu a cabeça e disse que<br />
aquele dia não estu<strong>da</strong>ríamos mais o alfabeto. Disse que tinha que escrever umas cartas muito importantes<br />
e que eu fosse brincar sem fazer ruído. Deu-me papel e lápis e me disse que me distraí-se desenhando.<br />
– Não posso acreditar que isso não lhe derretesse o coração.<br />
– Oh, não! Para então, minha mãe se endureceu muito. E sabia muito bem como me tentar. Repetiu<br />
duas vezes que eram umas cartas muito importantes e muito íntimas. Naturalmente, eu não pude resistir o<br />
impulso de lhes <strong>da</strong>r uma olha<strong>da</strong>. Ela as escreveu senta<strong>da</strong> a meu lado, enquanto eu fingia desenhar<br />
pássaros. Sua carta muito importante e priva<strong>da</strong> repetia uma e outra vez:<br />
“Clermont é um tolo”.<br />
Robert sorriu recor<strong>da</strong>ndo aquilo, a sua mãe chamando tolo a seu pai; mas Minnie o olhava<br />
escan<strong>da</strong>liza<strong>da</strong>.