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01 - A Guerra da Duquesa

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Charingford baixou a vista.<br />

– Havia provas suficientes para pensar que estava envolvido. E… – E Stevens o pediu – terminou<br />

Robert.<br />

Charingford mordeu o lábio inferior.<br />

– Está informado disso?<br />

– Não me fale de sentido comum – disse Robert. – Lhe pedi que me mostrasse sua fábrica e você<br />

concordou em me mostrar isso. Vamos vê-la.<br />

Charingford fez um gesto e um lacaio abriu a porta <strong>da</strong> rua. Quando o fez, o som apagado que procedia<br />

<strong>da</strong> fábrica situa<strong>da</strong> na calça<strong>da</strong> em frente se converteu em um rugido.<br />

– Adiante, Excelência – disse Charingford sombrio.<br />

Cruzaram a rua pavimenta<strong>da</strong> acompanhados pelo ruído <strong>da</strong>s máquinas, que resultava quase<br />

entristecedor. As portas <strong>da</strong> fábrica tinham sido pinta<strong>da</strong>s fazia pouco tempo de um verde brilhante e se<br />

destacavam contra o tijolo manchado de carvão <strong>da</strong>s paredes. Envolveu-os o ruído, uma cacofonia de<br />

chiados e sacudi<strong>da</strong>s. O senhor Charingford o guiou por uma pequena esca<strong>da</strong> até chegar a uma plataforma<br />

metálica de onde se via to<strong>da</strong> a planta. Aí se voltou para ele.<br />

– Esta é a sala principal – gritou, esforçando-se por ser ouvido por cima do ruído <strong>da</strong>s máquinas. –<br />

Aqui é onde se tecem as meias.<br />

Assinalou a fábrica de baixo. Uma mulher, com o cabelo grisalho recolhido em um coque descui<strong>da</strong>do,<br />

dirigia uma máquina que enrolava novelos em umas bobinas de metal em um lateral <strong>da</strong> sala. Um punhado<br />

de homens ia de uma forma circular a outra, movendo peças quando era necessário, substituindo bobinas<br />

e entregando o produto a moços, que corriam com ele até uma sala adjacente. Utilizavam uma economia<br />

de movimentos que parecia se dever mais ao cansaço que à experiência.<br />

Ca<strong>da</strong> máquina produz dois pares de meias em nove minutos – gritou Charingford. – E só se necessitam<br />

homens para tirar os ganchos dos pontos ao final e para reajustar o cilindro que guia a forma <strong>da</strong> meia.<br />

Olhe-os, Excelência. Não têm que tomar decisões em seu trabalho diário. Como vamos confiar em que<br />

deci<strong>da</strong>m o futuro de nosso país? O que entendem um funcionamento <strong>da</strong> indústria?<br />

Robert inclinou a cabeça à direita e escutou por cima <strong>da</strong> animação <strong>da</strong>s máquinas.<br />

– Estão cantando – disse. – Por que cantam?<br />

O senhor Charingford levou uma mão à orelha e escutou.<br />

– Estão contentes de trabalhar, Excelência. Estão cantando um hino de louvor a Deus.<br />

Robert olhava o chão <strong>da</strong> fábrica de cima. Ele somente tinha que olhar enquanto os homens abaixo<br />

trabalhavam, machucavam-se e se cortavam. Recordou as palavras de Minnie: “Você é afortunado por<br />

não olhar o futuro sem terror”. Robert jamais entenderia o que significava estar ali embaixo, trabalhar dia<br />

após dia com aquele ruído incessante. Apenas sabia que não era algo tão simples como gratidão e hinos.<br />

No transcurso de seu curto matrimônio, nunca tinha estado tão longe de Minnie como naquele<br />

momento. Tinha-lhe mentido e ao dia seguinte ia quebrar sua promessa e ia traí-la. E, entretanto, podia<br />

ouvi-la naquele momento por cima do estrondo <strong>da</strong>s máquinas.<br />

– Não pretendo entender o que significa ser um operário, senhor Charingford, mas sou dono de<br />

fábricas. Herdei algumas de meu avô. E quando vejo esta planta, não vejo homens que estejam contentes<br />

com seu trabalho.

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