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– Amanhã vou a Londres – anunciou.<br />
Suas tias abriram muito os olhos. Eliza se sentou mais reta.<br />
– Mas…<br />
– Há…?<br />
– É por um posto de trabalho? – suas tias falavam atropelando-se uma à outra. Tinham unido suas<br />
mãos no sofá, entre elas.<br />
– Tome cui<strong>da</strong>do – lhe recomendou Caroline. – Tenho lido nos jornais. Senhoras sem fé que anunciam<br />
bons trabalhos e salários excelentes, mas depois…<br />
– Não vou procurar trabalho – disse Minnie. – Têm razão. Não posso olhar para cima. Não posso<br />
sonhar, não me atrevo. Quão único posso fazer é <strong>da</strong>r o seguinte passo para frente.<br />
Caroline franziu o cenho.<br />
– E o próximo passo para diante é Londres?<br />
– O próximo passo para diante é ganhar o jogo no que estou coloca<strong>da</strong>. E isso significa que devo falar<br />
com alguns vendedores de papel. Voltarei dentro de três dias.<br />
As tias de Minnie trocaram um olhar nervoso que entristeceu a jovem. Mas não podia explicar-lhe<br />
nem podia voltar atrás. E embora não fosse bem visto que uma jovem de sua i<strong>da</strong>de viajasse sozinha no<br />
trem, não era nenhuma senhorita <strong>da</strong> boa socie<strong>da</strong>de que teria que <strong>da</strong>r conta de ca<strong>da</strong> minuto.<br />
– Bom – disse Caroline por fim. – Se acha que é o que deve fazer… Tem recursos?<br />
– Sim.<br />
Tinha seu dinheiro dos ovos. Embora esse não fosse o nome apropriado. Ao chegar à maiori<strong>da</strong>de, suas<br />
tias lhe tinham <strong>da</strong>do a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s galinhas e lhe tinham permitido guar<strong>da</strong>r o dinheiro<br />
procedente delas. Um presente, posto que bem podiam haver ficado com tudo. E não tinha sido apenas um<br />
presente de dinheiro, mas também de independência.<br />
Presente que podiam permitir-se muito pouco.<br />
Minnie foi ao seu quarto preparar suas coisas. Mas em vez de fazê-lo, sentiu-se atraí<strong>da</strong> pelo jogo de<br />
xadrez que se apodrecia em seu baú. Fazia doze anos que não o olhava e se aproximou com nervosismo.<br />
Ajoelhou-se diante o baú de madeira, afastou o tecido que o cobria e desatou as fivelas. O metal resistiu<br />
ao movimento e ela teve que puxar com força.<br />
O xadrez estava no fundo, oculto debaixo de roupas e recortes de jornais. As peças eram de ébano e<br />
marfim, familiares e, entretanto, curiosamente estranhas. Suas primeiras lembranças eram <strong>da</strong>quele xadrez,<br />
dela levantando peças que então lhe pareciam grandes e pesa<strong>da</strong>s. Agora podia fechar a mão ao redor dos<br />
peões e escondê-los por completo.<br />
Tomou o tabuleiro e tirou as peças de sua bolsa de veludo. Colocou-o tudo em cima <strong>da</strong> escrivaninha.<br />
Apesar dos anos transcorridos, não tinha necessi<strong>da</strong>de de pensar aonde ia ca<strong>da</strong> peça. A rainha, o rei e os<br />
peões ocuparam seu lugar. Se ela, Minnie, fosse uma peça de xadrez, seria… Não, ela não seria nem<br />
sequer um peão. Tornou-se muito pequena para isso.<br />
Em outro tempo a tinham animado colocar as peças. O começo de ca<strong>da</strong> parti<strong>da</strong> estava cheio de<br />
possibili<strong>da</strong>des. Podia ocorrer de tudo. To<strong>da</strong>s as opções estavam abertas. Esse dia não sentia na<strong>da</strong>. Olhou<br />
as peças e se deu conta de que não estava no começo dessa parti<strong>da</strong>, a não ser quase no final. Havia partes