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A jovem virou-se para ele.<br />
– O que acredita que aconteceu antes no salão?<br />
Ele piscou.<br />
– Em que salão? Há algum salão?<br />
– Por que acredita que desmaiei?<br />
– Humm – ele passou as mãos pelo cabelo. – Pelas cabras?<br />
– Vivo em uma granja. Estou acostuma<strong>da</strong> às cabras.<br />
Ele franziu o cenho.<br />
Tem razão. Desmaiou quando já tinham afastado às cabras. Quando as pessoas a rodeavam.<br />
Normalmente, Minnie se esforçava por não recor<strong>da</strong>r os momentos que lhe produziam um terror<br />
abjeto. Separava-os de sua mente assim que recuperava o conhecimento. Mas naquele momento viu a<br />
parede de rostos e trajes, um montão de caras que riam dela. Lhe encolheu o estômago só recor<strong>da</strong>ndo-o.<br />
O coração lhe pulsou com muita força.<br />
– Tenho medo <strong>da</strong>s multidões – suas palavras foram quase um gemido, mas ao menos as tinha<br />
pronunciado. – Não, medo não. Terror.<br />
Robert tomou a mão.<br />
– Especialmente <strong>da</strong>s multidões onde todo mundo olhe para mim. Uma vez me vi apanha<strong>da</strong> em meio de<br />
uma multidão; tinha doze anos – tocou a bochecha. – O medo se deve a isso. As pessoas atiravam pedras.<br />
Robert ergueu uma mão até o rosto dela. Suas luvas eram de couro negro; Minnie podia cheirá-los<br />
muito perto. Ele colocou os dedos na cicatriz dela, seguiu-a pela cara com a gema dos dedos, primeiro<br />
levemente, depois com um pouco mais de força.<br />
Minnie não havia dito to<strong>da</strong> a ver<strong>da</strong>de. A multidão não só atirava pedras. Atiravam nela.<br />
– Isto foi uma pedra cruel.<br />
Ela assentiu.<br />
Robert voltou a percorrer a cicatriz com os dedos, essa vez apertando um pouco mais.<br />
– Posso apalpar uma fratura no osso. Muito perto do olho.<br />
– Nos primeiros dias, quando estava cheia de golpes, não estava muito claro que pudesse voltar a ver<br />
por esse olho quando se curasse.<br />
Ele não tinha afastado a mão de sua bochecha.<br />
– Por isso agora não posso tolerar estar em grupos grandes de gente. E se todos me olham, torna-se<br />
impossível. Não sou capaz de pensar. Não posso respirar. Apenas quero escapar.<br />
– Por isso é tão cala<strong>da</strong>. Por isso esconde tudo quão bom tem e espera que ninguém a olhe.<br />
Minnie olhou as saias.<br />
– Sim – sua voz soava angustia<strong>da</strong>. Sentia-se menor.<br />
Robert não disse na<strong>da</strong> em um momento. Logo lhe pôs um dedo no queixo e lhe ergueu a cara.<br />
– Pois o sinto – murmurou. – Mas eu já a vi.