04.04.2017 Views

01 - A Guerra da Duquesa

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

voltou comum.<br />

Outro homem teria deixado o tema ali, mas Robert não podia imaginar-se retrocedendo nesse<br />

momento, quando ela agachava a cabeça e olhava o chão. Não. Ele queria que ela voltasse a se mostrar.<br />

– Não fez na<strong>da</strong> – disse.<br />

A expressão dela não mudou.<br />

– Estou ganhando – insistiu ele. – Não vai me vencer por meio de aborrecimento.<br />

– Você provavelmente acredita que as batalhas se ganham com canhões, discursos valentes e cargas<br />

temerárias – ela alisava as saias enquanto falava. – Não é assim. As guerras ganham os que fazem<br />

sapatos bons. Ganham os moços que fabricam balas nas fábricas de munições, os trens de fornecimentos<br />

escondidos dos olhos do inimigo. As guerras ganham prestando muita atenção aos detalhes aborrecidos.<br />

Se esperar para ver a carga <strong>da</strong> cavalaria, Excelência, já teria perdido.<br />

Robert piscou.<br />

– Você pode tentar me convencer. Não se <strong>da</strong>rá bem.<br />

– Essa é a beleza <strong>da</strong> estratégia. Tudo o que faço contém uma ameaça dupla. Se você não voltar atrás,<br />

mostrará sua ver<strong>da</strong>deira face. Tudo o que diga, tudo o que faça, ca<strong>da</strong> sorriso encantador e ca<strong>da</strong> frase<br />

doce, quão máximo pode esperar é trocar a forma <strong>da</strong> minha vitória. Mas esta é inevitável.<br />

Parecia tão pequena senta<strong>da</strong> em sua cadeira, tão frágil! Apenas fechando os olhos e apagando a<br />

imagem de solteirona diminuí<strong>da</strong>, podia ele compreender a evidência do que ouvia. A senhorita Pursling<br />

nem sequer o olhava aos olhos, mas sua voz parecia indomável.<br />

– Isso quer dizer que você acredita que sou encantador – comentou ele. – Antes não tinha posto isso na<br />

lista <strong>da</strong>s minhas quali<strong>da</strong>des.<br />

– Pois claro que é encantador – ela não ergueu a vista. – Me cativou. Estou completamente<br />

enfeitiça<strong>da</strong>.<br />

Em sua voz havia uma nota que soava tão amarga que quase resultava doce.<br />

– Você é uma força <strong>da</strong> natureza, Excelência – disse ela. – Mas eu também. Eu também.<br />

Não havia dito que era encantadora. E, de fato, não o era. Não no sentido habitual. Mas havia algo<br />

muito persuasivo nela. Robert já não sabia quem era ela. Ao princípio lhe tinha parecido uma mulher<br />

corajosa e inteligente. Em segui<strong>da</strong> tinha pensado que era a feia do baile. E nesse momento parecia estar<br />

além de qualquer categoria, resultava maior e mais complexa que qualquer outra pessoa que ele tivesse<br />

conhecido até então.<br />

– Se quiser que volte atrás – disse com suavi<strong>da</strong>de, – você não deveria ser tão interessante.<br />

Minnie apertou os lábios.<br />

Mas antes que pudesse responder, soou um ruído do outro lado do aposento. Robert voltou a cabeça a<br />

tempo de ver a senhorita Charingford, a filha <strong>da</strong> família, a mesma amiga que tinha acompanhado a<br />

senhorita Pursling uns dias atrás, levantar-se com tal brutali<strong>da</strong>de que derrubou sua cadeira.<br />

– Vamos, Lydia – disse o homem que estava sentado a seu lado. – Não pode falar a sério.<br />

– Pois sim – replicou a senhorita Charingford.<br />

Pegou um copo de ponche <strong>da</strong> mesa que tinha ao lado e, antes que alguém pudesse intervir, jogou seu<br />

conteúdo no rosto do homem. Gotas vermelhas caíram por seu nariz e seu queixo e mancharam seu

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!