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01 - A Guerra da Duquesa

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Minnie inclinou a cabeça e fez uma reverência na soleira, muito consciente de seu vestido gasto: um<br />

objeto cinza com punhos negros que já tinham sido virados uma vez para esconder o desgaste. A duquesa<br />

a examinou em silêncio, sem dúvi<strong>da</strong> catalogando to<strong>da</strong>s suas deficiências. Não era necessário que falasse.<br />

O modo como arqueava as sobrancelhas e a surpresa que se lia em seus olhos indicavam uma mesma<br />

coisa. “Como te atreve a pensar que pode te casar com meu filho?”.<br />

Independentemente de qual seria a decisão final de Minnie, não se acovar<strong>da</strong>ria diante <strong>da</strong>quela mulher.<br />

Olhou-a nos olhos e se recusou a ser a primeira em afastar a vista.<br />

– Bem – disse pôr fim a duquesa. – Compreendo o que vê em você.<br />

Suas palavras foram tão surpreendentes que Minnie esqueceu sua resolução.<br />

– Compreende-o?<br />

A duquesa se levantou e se aproximou dela.<br />

– Pobre – disse. – Tocou os punhos puídos <strong>da</strong>s mangas de Minnie. – Com cicatrizes – assinalou a<br />

bochecha. – Sem porte, sem boa postura e sem as maneiras apropria<strong>da</strong>s. Você é sua obra de cari<strong>da</strong>de.<br />

Depois <strong>da</strong>s turbulências do dia anterior, foi um alívio sentir uma fúria fria sem complicações. Minnie<br />

ergueu o queixo.<br />

– E, entretanto, ain<strong>da</strong> não me ofereceu nenhuma só libra esterlina.<br />

– O matrimônio com ele valeria mais de uns quantos guinés.<br />

Minnie pôs uma mão no quadril.<br />

– Se acreditar que o interesse de seu filho por mim é uma mera questão de cari<strong>da</strong>de, é que não o<br />

conhece muito bem. Certamente haverá vítimas mais merecedoras disso que eu.<br />

A duquesa negou com a cabeça.<br />

– Conheço meu filho – grunhiu. – Se parece tanto a seu pai que me levou anos me <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>de. Parece-se muito a mim.<br />

– A você? – Minnie voltou a olhar à mulher. Além <strong>da</strong> cor clara do cabelo, seu filho não tinha na<strong>da</strong><br />

dela. Provavelmente não teria mais de cinquenta anos, mas o cenho franzido tinha formado rugas duras<br />

em sua frente. Sua boca estava curva<strong>da</strong> em uma permanente expressão de desagrado. – Ele não se parece<br />

na<strong>da</strong> a você.<br />

A duquesa agitou uma mão no ar com um gesto de desdém.<br />

– A como eu era antes – disse. – Flexível. Bran<strong>da</strong> – apertou ain<strong>da</strong> mais os lábios. – Ingênua. Ele é um<br />

ver<strong>da</strong>deiro romântico, não o negue. Tem que sê-lo para pedir a uma mulher como você que se case com<br />

ele.<br />

– A uma mulher como eu – Minnie sentiu que sua boca se curvava também com desagrado. – A que se<br />

refere com uma mulher como eu?<br />

– Durante o resto de sua vi<strong>da</strong>, as pessoas o olharão e se perguntarão por que se casou com você.<br />

Murmurarão sobre o modo terrível como manchou o sobrenome Blaisdell.<br />

– Eu acredito que disso deveria preocupar-se ele, não você.<br />

A duquesa jogou faíscas pelos olhos.<br />

– Sabe o quanto eu renunciei para que meu filho nascesse com to<strong>da</strong>s as vantagens? Sofri durante anos<br />

um matrimônio com o cretino e infiel de seu pai. Esfregaram seu bastardo na minha cara. Tive que… – se

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