You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
– Meu pai sempre dizia que, se crê em algo com a força suficiente, a reali<strong>da</strong>de não tem mais<br />
remedeio que fazer que se cumpra. Quando declarou naquele estrado, já se tinha convencido a si mesmo.<br />
Chamou-me “semente do diabo” diante de to<strong>da</strong> Londres.<br />
Minnie tinha pensado que não podia haver na<strong>da</strong> pior que o horror paralisante do tribunal, que ver o<br />
homem a que queria tanto, ao homem que nunca lhe tinha dirigido uma palavra dura, apontá-la com o<br />
dedo e denunciá-la. Ver a terrífica luz em seus olhos que indicava que acreditava no que dizia. Ele tinha<br />
sido quão único ela tinha no mundo e a tinha deixado de repente sozinha. E o tinha feito publicamente.<br />
– Era um homem carismático e convincente. Condenaram-no, não por roubo, mas sim por impostura,<br />
suficiente para lhe jogar dois anos de trabalhos forçados, mas não mais. Entretanto, as pessoas presentes<br />
no julgamento estavam convenci<strong>da</strong>s de que tinha sido tratado injustamente. Quando saí <strong>da</strong> sala,<br />
completamente sozinha, rodeou-me uma multidão. Gritaram-me e me cuspiram. Não sei quem atirou a<br />
primeira pedra. Não sei quantas atiraram – ergueu a cara para olhá-lo nos olhos. – Quando me tiraram<br />
<strong>da</strong>li, tinha desmaiado, mas nunca esqueci. Após o que aconteceu não posso suportar as multidões. Penso<br />
em um grupo de gente junta e ponho-me a tremer. Cedo ao pânico.<br />
– Alguma vez teve a alguém que a aju<strong>da</strong>sse? – perguntou ele. Sua voz soava baixa e rouca.<br />
– Minhas tias avós. Lydia também, até…<br />
Minnie quase se engasgou ao dizer aquilo. Mas tampouco então tinha podido confiar plenamente<br />
nelas. Suas tias morreriam e sempre tinha sabido que Lydia descobriria algum dia a ver<strong>da</strong>de e se sentiria<br />
enoja<strong>da</strong>.<br />
– Até o final, jamais teria adivinhado que meu pai pudesse fazer aquilo. Quero pensar que<br />
possivelmente estava doente. Que não sabia o que fazia quando me traiu – lhe brilharam os olhos. –<br />
Morreu na prisão, assim possivelmente era certo. Tenho que acreditar nisso porque, por muito que me<br />
esforço, não posso deixar de querê-lo. Ele me ensinou tudo o que sabia. Meu pai era to<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>. E<br />
não sei como odiá-lo tudo o que merece. Assim já vê, Excelência, não posso me casar com você. Nem<br />
sequer posso pensar nisso sem ficar trêmula. A socie<strong>da</strong>de de Londres me destroçaria.<br />
– Não – murmurou ele. – Não a destroçarão.<br />
Minnie o olhou.<br />
– Como pode dizer isso?<br />
– Não a destroçarão porque eu não permitirei que ocorra isso – prometeu ele. Ergueu-lhe o queixo<br />
para poder olhá-la nos olhos. – Uma vez disse que era afortunado porque podia olhar onde quisesse sem<br />
medo. Acredito que não comecei a compreender o que queria dizer até que descobri… – a estreitou com<br />
mais força em seus braços. – Sabia que estava chatea<strong>da</strong>. Você me disse que tinha medo. Que era<br />
afortunado de não entender o que queria dizer, quão aterroriza<strong>da</strong> estava.<br />
Ela tinha começado a tremer.<br />
– Dou-lhe minha palavra de que, se, se casar comigo, protegerei-a. Estarei ao seu lado e jamais lhe<br />
farei nenhum mal. Já falei com o Stevens e Charingford e os dois ficarão de boca fecha<strong>da</strong>. Prometo-lhe<br />
pelo que considero mais sagrado que farei o impossível por manter seu passado em segredo e que, se<br />
fracasso nesse empenho, farei tudo o que esteja em meu poder para que esteja segura. Se, se casar<br />
comigo, não terá que voltar a ter medo.<br />
– E o que terei que lhe <strong>da</strong>r em troca?