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01 - A Guerra da Duquesa

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fingido acanhamento e se perguntou como era possível que ele não tivesse notado o pouco confiável que<br />

era.<br />

– Vá, mãe! – exclamou. – Não sabia que eu te importava tanto.<br />

A pesar do sarcasmo que cobria suas palavras, havia muito de ver<strong>da</strong>de nelas. A duquesa jamais tinha<br />

feito na<strong>da</strong> que pudesse qualificar-se nem remotamente como maternal. Intrometer-se em sua proposta de<br />

matrimônio era quase tão bom como receber seu beijo na bochecha. Era… comovedor.<br />

Exasperante, também. Era ruim. Era uma altivez. Mas… comovedor.<br />

Ela respirou com força e afastou a vista.<br />

– Foi apenas dinheiro. Não dê tanta importância.<br />

– Ao contrário. Estou muito agradecido. Se ela se pode comprar tão facilmente, é melhor sabê-lo<br />

agora.<br />

A duquesa o observou um momento, como se não acreditasse que ele pudesse mostrar-se tão<br />

tranquilo, tão sereno.<br />

– Disse-lhe que, se sua traição fosse bastante má, não voltaria a pensar nela. E resulta que tinha<br />

razão.<br />

Não parecia alegrar-se de sua vitória. Não sorria e não havia jactância em sua voz.<br />

– É muito indulgente – prosseguiu ela. – Até deixar de me perdoar em tudo. Me diga, em que momento<br />

te rendeu por fim as esperanças para comigo?<br />

Robert aspirou ar com força.<br />

– Que presunção tão odiosa! Nunca tive esperanças contigo – disse. Mas não pôde olhá-la enquanto<br />

falava. Ela tinha suas cartas para acreditar nisso.<br />

– Foi no funeral de seu pai, ver<strong>da</strong>de?<br />

Robert nem sequer se permitiu piscar.<br />

– Escreveu-me com antecipação e me pediu que fosse. “Agora que ele já não está…”, disse.<br />

Robert deu um murro na mesa. Salpicou chá por to<strong>da</strong> parte.<br />

– Te pedi que viesse?<br />

Olhou-a de cima abaixo. Ela não se encolheu nem respondeu a seu olhar desafiante. Simplesmente o<br />

olhou com calma, tão serena como sempre. Seus olhos mostravam tanta expressão como uma boneca de<br />

porcelana <strong>da</strong> China.<br />

– Eu não te pedi que viesse – comentou ele. – Lhe supliquei isso. Sabia que eu acreditava<br />

sinceramente que me levaria contigo? Tinha-me convencido de que a única razão pela qual adiou me<br />

conhecer melhor era que não podia tolerar a presença de meu pai. E que, quando ele já não estivesse,<br />

poderíamos ter uma oportuni<strong>da</strong>de. Como não veio ao funeral, disse-me que viria quando terminasse. E<br />

quando vi que não chegava, convenci-me de que esperaria até que se fossem todos. Finalmente, disse-me<br />

que viria para me buscar quando escurecesse e não se inteirasse ninguém. Até esse dia, acreditava, e não<br />

sei por que, pois não tinha nenhuma prova, que era somente meu pai o que nos mantinha separados. Mas<br />

não era isso. Eu não te importava.<br />

– Não – repôs ela com suavi<strong>da</strong>de. – Não é ver<strong>da</strong>de.<br />

– Importei-te alguma vez ou me odeia tanto como odiava a ele?

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