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CAPÍTULO 14<br />
NOS DIAS SEGUINTES, Minnie não voltou a ver o duque.<br />
Mas lhe resultava impossível não pensar nele. Examinou sua carta com uma lupa de joalheiro que<br />
pediu empresta<strong>da</strong>, olhou a tinta usa<strong>da</strong> em seus santinhos, catalogou as particulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s letras. Havia<br />
um “e” minúsculo que tinha uma ligeira greta na ponta; tinha-a visto em quatro santinhos diferentes. E um<br />
“b” perdia um pouco a forma.<br />
To<strong>da</strong>s as provas que tinha encontrado encaixavam.<br />
Mas tudo eram detalhes. E agora que tinha sua carta, eram também supérfluos.<br />
E o mais importante. Quando se imaginava nas ruas de Leicester, já não se via recolhendo<br />
industriosamente mostra de santinhos, a não ser passeando de braço <strong>da</strong>do com o Duque de Clermont.<br />
Estúpi<strong>da</strong>. Era uma estúpi<strong>da</strong>.<br />
O chamava frequentemente e, entretanto, descobriu que não podia deixar de pensar nele. Recor<strong>da</strong>va a<br />
sensação de seus lábios e o olhar de seus olhos. Recor<strong>da</strong>va suas mãos, cáli<strong>da</strong>s no corpo dela. Recor<strong>da</strong>va<br />
tudo o que lhe havia dito e não se sentia estúpi<strong>da</strong>.<br />
Uma tarde olhou sua imagem no espelho.<br />
– É idiota – lhe disse.<br />
Seus olhos cinzas lhe devolveram o olhar com soleni<strong>da</strong>de.<br />
O duque lhe tinha enviado uma mensagem. Seu primo <strong>da</strong>va uma conferência essa tarde na Socie<strong>da</strong>de<br />
Mecânica de Leicester e Robert lhe pedia que assistisse.<br />
Minnie suspeitava que seria melhor não ir. A estupidez do que queria resultava evidente com apenas<br />
olhar-se no espelho. Usava um vestido azul, que ele já a tinha visto usar duas vezes. Era um vestido<br />
severo de pescoço alto, com mangas longas sem enfeite. E a saia não trazia volantes nem laços. Os<br />
tecidos eram caros e as fitas mais ain<strong>da</strong>. Era pura lógica se vestir assim quando tinham tão pouco<br />
dinheiro. Embeleza<strong>da</strong> <strong>da</strong>quela maneira, não a olharia ninguém. E ela não queria que a olhassem.<br />
Mas queria o fazer sorrir.<br />
– Oh, Minnie – disse com desespero. – A sério? A ele? Poderia ser mais iludi<strong>da</strong>?<br />
Ele era um duque. Ela era… – Te olhe, maldição – disse.<br />
Obrigou-se a olhar-se no espelho. A não centrar-se nas partes mais agradáveis, a curva dos seios e na<br />
cintura, a não olhar de ver<strong>da</strong>de quem era em reali<strong>da</strong>de. A olhar a cicatriz <strong>da</strong> bochecha. Não era<br />
superficial, estava grava<strong>da</strong> em sua alma. Wilhelmina Pursling era seca, severa, cala<strong>da</strong>.<br />
– A senhorita Pursling – pronunciou devagar– não é ninguém.<br />
Por iniciativa própria.<br />
Mas seus olhos seguiam olhando-a. E por muitas coisas que se dissesse e por muitas vezes que se<br />
chamasse idiota, aquele desejo selvagem e indômito seguia preso em seu interior.