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– Digo-o a sério. Até que te conheci, ninguém dos que me olhavam via uma pessoa de ver<strong>da</strong>de.<br />
Apenas ao filho de um duque.<br />
E desde Oliver, ninguém tinha visto tampouco uma pessoa de ver<strong>da</strong>de. Viam um voto na Câmara dos<br />
Lordes, ou uma fortuna her<strong>da</strong><strong>da</strong> de seu avô. Viam as possibili<strong>da</strong>des que representava.<br />
A senhorita Pursling desapareceu ao dobrar a esquina e Robert moveu a cabeça. Ela era um problema<br />
com o qual teria que lutar. Mas também era um prazer.<br />
Oliver terminou de limpar suas lentes e o olhou.<br />
– Bom – disse. – Possivelmente foi porque eu sabia muito bem quanto valia ser filho de um duque.<br />
Você não foi o único.<br />
– Mas quando te conheci, comportei-me como um imbecil.<br />
– Certo – comentou Oliver.<br />
Sua amizade, ou o que quer que fora aquilo, não tinha sido fácil. Quando Robert conheceu Oliver,<br />
tratou-o como a um inimigo e inspirou a outros meninos a meter-se com ele. Embora o certo era que<br />
Oliver não necessitava que o inspirassem muito para brigar.<br />
Um dia Oliver lhe havia dito em voz baixa que eram irmãos. E Robert tinha tido a sensação de que<br />
todo seu mundo virava do avesso.<br />
– A que vem tudo isto? – perguntou Oliver. – Foi simples. Brigamos; os irmãos brigam muito.<br />
Demoramos um pouco em aprender a nos conhecer e depois… – encolheu os ombros.<br />
– Tem uma memória terrível. Demoramos um pouco em aprender a nos conhecer – lhe recordou<br />
Robert. – Eu animava a outros meninos a que se metessem contigo. E quando fizemos as pazes, custou-me<br />
muitíssimo aceitar o que me havia dito.<br />
Tinha passado meses ponderando o inevitável, fazendo contas. Retrocedia nove meses do nascimento<br />
de seu irmão e lhe saía uma <strong>da</strong>ta dois meses depois do casamento de seus pais. Sua mente não deixava de<br />
procurar uma boa razão para que seu pai tivesse engendrado um filho fora do casamento e logo o tivesse<br />
abandonado sem lhe <strong>da</strong>r apoio econômico. Robert construía explicações elabora<strong>da</strong>s apoia<strong>da</strong>s em<br />
mensagens que se perdiam, mentiras que se contavam, serventes que estavam ausentes…<br />
– Apenas deixei de procurar desculpas ao comportamento de meu pai quando lhe perguntei o que<br />
tinha ocorrido.<br />
“Dá-me igual o que ela diga”, tinha grunhido seu pai. “Ela queria aquilo. Sempre o querem”.<br />
Essa negação automática de um delito de que não tinha sido acusado tinha deixado às coisas<br />
dolorosamente claras a Robert. E tinha procurado Oliver assim que voltou <strong>da</strong>s férias.<br />
– Eu não sou meu pai – lhe havia dito com voz trêmula. – Digam o que digam as pessoas, não sou meu<br />
pai.<br />
E Oliver lhe tinha sorrido.<br />
– Já sei – tinha respondido com insolência. – Estava esperando que te desse conta.<br />
“Sei que não é seu pai”. Ao longo dos anos, essas palavras tinham significado mais para Robert que<br />
nenhuma <strong>da</strong>s adulações que tão frequentemente lhe dirigiam. Um catedrático de Cambridge o tinha<br />
observado nos olhos e lhe havia dito: “meu Deus, é sua viva imagem”. Quando alcançou a maiori<strong>da</strong>de, os<br />
homens lhe <strong>da</strong>vam tapinhas nas costas e lhe diziam o muito que se parecia com o velho duque de