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– Sabe? – perguntou com voz rouca. – Está espetacular.<br />
– De ver<strong>da</strong>de? A sua mãe não gosta do lunar postiço – repôs ela–. Há muitos?<br />
Robert se aproximou dela.<br />
– Quase vinte. Mas lhes coloquei medo para que se mostrem civilizados. Está certa de que quer fazer<br />
isto?<br />
Minnie respirou fundo.<br />
– Sim. Muito.<br />
Tomou sua mão.<br />
– Porque eu estou disposto a enviá-los ao diabo – a mão dela estava fria e suarenta e sua respiração<br />
era muito rápi<strong>da</strong>. – E eu estarei a seu lado em todo momento – disse ele. – Ninguém se aproximará de ti.<br />
Prometo-o.<br />
– Sei – lhe apertou a mão e caminharam juntos. Minnie se deteve na entra<strong>da</strong>. Robert não soube se era<br />
por nervosismo ou se o fazia para causar impressão.<br />
Em qualquer caso, conseguiu-o claramente. Os jornalistas lançaram coices de increduli<strong>da</strong>de… como<br />
se esperassem que ela aparecesse na porta vesti<strong>da</strong> com calças e levita. E todos ficaram de pé.<br />
Minnie sorriu. Robert, que a levava pela mão, sentiu que o pulso dela se acelerava no punho e notou<br />
que lhe cravava os dedos na palma quando todos aqueles olhos se pousaram nela. Sabia o muito que lhe<br />
custava sorrir. Sabia também que, se eles tivessem gritado naquele momento, se tivessem feito algum<br />
ruído, ela teria desmaiado ali mesmo. Mas os homens estavam silenciosos como mortos porque não<br />
queriam que os expulsassem.<br />
Robert a levou ao divã situado na parte dianteira <strong>da</strong> sala, sentou-a e se sentou por sua vez.<br />
O divã estava sobre uma plataforma um pouco levanta<strong>da</strong>.<br />
Minnie olhou a seu redor.<br />
– Bem – comentou. – Suponho que isto é o mais perto que vou estar de um trono.<br />
A frase arrancou uma gargalha<strong>da</strong> surpreendi<strong>da</strong> aos jornalistas.<br />
– Terão que me desculpar, cavalheiros – a voz dela era tão fraca que todos tinham que esforçar-se<br />
para ouvi-la. – pedi silêncio porque minha voz não é muito alta e estou nervosa.<br />
Um jornalista levantou a mão.<br />
– Tem medo <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des que possamos descobrir?<br />
– Não – respondeu ela. – Meu medo tem uma origem mais primitiva. Quando tinha doze anos… – fez<br />
uma pausa e respirou fundo. – Bem, acredito que todos vocês sabem o que ocorreu quando tinha doze<br />
anos, <strong>da</strong>s declarações de meu pai no tribunal e até a multidão que me rodeou depois.<br />
Produziram-me esta cicatriz.<br />
Tocou-se a bochecha.<br />
– Após, custa-me respirar quando estou com um grupo grande de pessoas. Não posso suportar que me<br />
olhe muita gente sem recor<strong>da</strong>r aquilo. De fato, sinto-me muito agradeci<strong>da</strong> porque tenham que escrever em<br />
seus cadernos. É muito melhor que se me olhassem em massa – sorriu, mas seus dedos seguiam agarrando<br />
com força os de Robert.