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Não foram as palavras o que conseguiram; foi o tom quente e acalmado. Minnie sentiu como se<br />
evaporava sua fúria em resposta a esse tom. Em poucos minutos voltaria a sentir-se pláci<strong>da</strong>, e não ficaria<br />
na<strong>da</strong> que recor<strong>da</strong>sse aquela noite salvo alguns arranhões no papel pintado <strong>da</strong> parede, onde tinham<br />
deixado seu rastro os dentes do garfo.<br />
Mas ain<strong>da</strong> podia ouvir a voz do duque. Podia ain<strong>da</strong> ver seus olhos, tão azuis e brilhantes, e a<br />
intensi<strong>da</strong>de de sua expressão. Aquela carta podia não ser mais que um gesto nobre por parte de um<br />
homem que podia permitir-se aquelas coisas. Mas no que dizia havia ver<strong>da</strong>de suficiente para que Minnie<br />
não pudesse evitar agarrar-se a ela.<br />
“Isto poderia ter sido teu, se fosse outra pessoa”, atormentou-a sua lembrança.<br />
“Ele poderia ser teu se fosse você mesma. Mas não o é. Não o é”. Eliza se aproximou e lhe pôs uma<br />
mão no ombro.<br />
– Não deveria havê-lo sabido nunca – repetiu.<br />
E a lembrança <strong>da</strong> Minnie, a lembrança de sua au<strong>da</strong>z confiança, de seu entusiasmo juvenil, parecia tão<br />
longínquo que notou que assentia com a cabeça.<br />
“Você não é na<strong>da</strong>. Um na<strong>da</strong> não sente”.<br />
Eliza lhe apertou o ombro e Minnie se deixou cair de novo em sua cadeira.<br />
– Vamos, vamos – sussurrou sua tia avó. – Não é na<strong>da</strong>, não é na<strong>da</strong>.<br />
– Pois claro que não é na<strong>da</strong> – sussurrou Minnie, é quão único fui.<br />
Depois disso, foi impossível conter um grande rio de lágrimas.<br />
Chorou até que expurgou todos os desejos de seu coração… seu desejo nostálgico pelo passado que<br />
tinha perdido, entrelaçado com o futuro que não podia contemplar.<br />
– Possivelmente – disse sua tia avó, quando se acalmaram as lágrimas, – possivelmente deva tomar<br />
um descanso nesse assunto de… do matrimônio. Fica umas semanas na granja. O que te parece?<br />
Minnie não tinha umas semanas. Mas tinha a carta, a prova que necessitava. Podia pôr fim às<br />
suspeitas de Stevens sobre ela no dia seguinte.<br />
E por que, então, não queria fazê-lo?<br />
Negou com a cabeça.<br />
– Isso não aju<strong>da</strong>rá – disse. – Isso nunca aju<strong>da</strong>. Na<strong>da</strong> aju<strong>da</strong>.<br />
NA MESA DO HOTEL PODERIAM ter comido oito pessoas, caso tivesse sido necessário. Esse dia<br />
estava a mãe de Robert em uma ponta, e na outra, separado dela por seis pés de mogno bem encerado e<br />
polido, estava Robert. Parecia que todos os garfos de prata que possuía o hotel estavam naquela mesa, e<br />
também a maioria <strong>da</strong>s colheres. Ele poderia ter construído uma torre de relógio completa com todos<br />
aqueles talheres.<br />
A mãe de Robert depositou um desses garfos na mesa com muito cui<strong>da</strong>do.<br />
Robert sabia que era seu modo de enviar um sinal. Tinha mu<strong>da</strong>do a <strong>da</strong>ta e tinha ido vê-lo sabendo que<br />
Sebastian e Oliver estavam na ci<strong>da</strong>de. Isso implicava que aquilo não era somente uma refeição, a não ser