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astou vê-lo para que a lembrança voltasse espontaneamente, como se esperasse escondido na superfície<br />
de sua pele e revivesse com ca<strong>da</strong> fôlego que passava pelos lábios dela.<br />
“A desejo”.<br />
Essas palavras continuavam na imaginação dela, e embora sua mente soubesse que não tinha<br />
acontecido na<strong>da</strong> entre eles, seu corpo não parecia tão convencido. Sua pele fazia cócegas na presença<br />
dele. Baixou a vista.<br />
– Faz uma boa viagem? – ele colocou uma bolsa na prateleira metálica que havia sobre sua cabeça e<br />
se sentou frente a ela.<br />
– Sim – respondeu Minnie com rigidez. – Visitei um fabricante de papel de Londres para descobrir de<br />
onde tira você seus materiais.<br />
Disse-o para que ele soubesse bem onde estavam… tão longe como ela pudesse fazer que estivessem.<br />
Ele franziu o nariz.<br />
– Um relatório de seus progressos – comentou alegremente. – Vejo que avançou em sua posição. Que<br />
bom! – sorriu a Minnie.<br />
Ela pensou que em sua vi<strong>da</strong> não havia lugar para ele nem para seus desejos. Não havia. Por sorte, a<br />
porta se abriu de novo e entrou a mulher do impressionante vestido de viagem.<br />
– Robert – disse. – Não podemos ir ain<strong>da</strong>. Perderam o Herman e o revisor ameaça partir de todos os<br />
modos. O que importa que o trem se atrase? Tem que detê-los, porque meus estratagemas não durarão<br />
muito mais.<br />
– Seus estratagemas? – o duque de Clermont se endireitou em seu assento e sua voz se voltou<br />
sombria. – O que fez?<br />
A mulher mostrou um apito prateado.<br />
– É do revisor – comentou.<br />
O duque a olhou; soltou um grunhido e esfregou a testa.<br />
– Santo céu! – tocou o chapéu e olhou para Minnie. – Espere. Volto em segui<strong>da</strong>.<br />
A porta voltou a fechar-se e Minnie ficou sozinha de novo. Pensou por um momento em trocar de<br />
compartimento. Mas se o fazia, ele voltaria a encontrá-la. Além disso, o revisor tinha marcado seu<br />
bilhete com aquele assento e não estava segura de que se lembrasse dela se trocasse de compartimento.<br />
No minuto seguinte a assaltou outra tentação. O duque tinha deixado sua bolsa no assento contiguo ao<br />
dela. Só uma fivela metálica a separava dos papéis dele. De seus papéis potencialmente condenatórios.<br />
De alguma parte tinha que levar os santinhos. Possivelmente houvesse um recibo ou uma nota naquela<br />
bolsa.<br />
Mas… seria uma tremen<strong>da</strong> violação de intimi<strong>da</strong>de.<br />
E o que faria embora encontrasse algo? A palavra dele contra a sua a desonraria igualmente. Discutiu<br />
consigo mesma os prós e os contra, até que o passar do tempo tomou a decisão por ela.<br />
Abriu-se a porta do vagão. Era o duque. Ergueu a vista até sua bolsa e moveu a cabeça.<br />
– De ver<strong>da</strong>de não a vasculhou?<br />
– De ver<strong>da</strong>de – Minnie apertou os dentes. – Não.<br />
– Não sou seu inimigo? Não estamos em guerra?