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01 - A Guerra da Duquesa

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Muitos “muito” para resultar acreditáveis, mas Minnie não havia contradito nunca esse ponto e não<br />

tinha sentido começar nesse momento.<br />

– Mas você não está prometi<strong>da</strong> – Lydia fez um gesto com a mão. – Ain<strong>da</strong> não. E, além disso, o que<br />

tem a ver a reali<strong>da</strong>de com a imaginação? Não posso sonhar por uma vez contigo embeleza<strong>da</strong> com um<br />

formoso vestido de se<strong>da</strong> vermelha e te aproximando de uma multidão admira<strong>da</strong> de braço <strong>da</strong>do com um<br />

homem?<br />

Minnie sim podia imaginá-lo, mas as multidões de sua imaginação não estavam admira<strong>da</strong>s. Gritavam.<br />

Jogavam objetos. Insultavam-na e ela voltava a reviver o pesadelo.<br />

– Não digo que deva começar a se preparar para o pedido de casamento agora mesmo. Somente que<br />

sonhe um pouco – Lydia abriu a porta.<br />

Na sala havia só um punhado de pessoas. O senhor Charingford as esperava perto <strong>da</strong> porta. Saudou<br />

sua filha com uma inclinação de cabeça. A estadia era pequena, mas as paredes estavam forra<strong>da</strong>s de<br />

madeira, os cristais pintados, e a chaminé adorna<strong>da</strong> com uma escultura. O brasão de Leicester ocupava<br />

um lugar de honra na parede mais afasta<strong>da</strong>, e a pesa<strong>da</strong> poltrona do prefeito estava na parte frontal do<br />

lugar.<br />

Ali se tinham congregado as poucas pessoas presentes: o prefeito, sua esposa, Stevens, um homem ao<br />

qual Minnie não reconhecia e… A jovem conteve o fôlego.<br />

Era ele. O homem loiro de olhos azuis que tinha falado com ela na biblioteca. Tinha-lhe parecido<br />

muito jovem para ser alguém importante. Melhor dizendo, tinha-lhe parecido muito amável para isso. E<br />

ver o prefeito mostrando-se obsequioso com ele…<br />

– Vê? – disse Lydia em voz baixa. – Acredito que até você poderia sonhar com ele.<br />

Bonito, amável e importante. A imaginação de Minnie reagiu de um modo quase visceral e a levou<br />

por caminhos pavimentados de fantasia à luz <strong>da</strong> lua.<br />

– Às vezes – comentou, – acredito no impossível…<br />

Ela era muito jovem quando seu pai era bastante bem visto para ser convi<strong>da</strong>do a to<strong>da</strong>s as partes.<br />

Viena. Paris. Roma. Ele tinha tido pouco mérito nisso além de seu sobrenome, uma conversa fácil e um<br />

talento quase sem igual para o xadrez. Tinha sonhado com o impossível e sua loucura tinha contagiado a<br />

Minnie.<br />

“Quão único tem que fazer é acreditar”, havia-lhe dito desde que ela tinha cinco anos. “Não<br />

necessitamos fortuna. Não necessitamos riquezas. Os Lane só têm que acreditar com mais intensi<strong>da</strong>de que<br />

os outros e nos acontecem coisas boas”.<br />

E ela tinha acreditado. Tinha acreditado tanto nele, que uma fé vazia era o único que lhe tinha ficado<br />

quando to<strong>da</strong>s as maquinações dele tinham ficado destruí<strong>da</strong>s.<br />

– Creia no impossível – disse Lydia, devolvendo-a ao presente, – pode ser que se cumpra.<br />

– Se crê no impossível – respondeu Minnie com aspereza, – deixará ir o que tem.<br />

Não havia caminhos iluminados pela lua que levassem até aquele homem. Apenas era um cavalheiro<br />

que lhe tinha falado com amabili<strong>da</strong>de. Na<strong>da</strong> mais. Nem sonhos nem fantasias.<br />

– E você tem muito que perder – disse Lydia com voz zombadora.<br />

– Tenho muitíssimo que perder. As pessoas não me assinalam com o dedo e começam a murmurar<br />

quando passo pela rua. Não me seguem multidões raivosas procurando vingança. Não me atiram pedras.

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