Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
– Aí vê revela<strong>da</strong> a ver<strong>da</strong>deira natureza de meu primo – disse Sebastian à senhorita Pursling. –<br />
Desumano, cruel e violento.<br />
Robert fez o que pôde por reprimir um gemido, e estava quase seguro de havê-lo conseguido.<br />
– E para que conste – continuou Sebastian. – Eu não ameacei criar um programa de reprodução<br />
humana em Cambridge para provar minha teoria. Para começar, isso não prova uma teoria nesse sentido<br />
<strong>da</strong> palavra. Põe-na a prova considerando a seguinte explicação mais provável. E em segundo lugar, essa<br />
história se exagerou muito em suas versões sucessivas. Eu me limitei a fazer notar que poderíamos usar<br />
princípios simples para determinar, depois do fato, a probabili<strong>da</strong>de de que a esposa de certo professor<br />
houvesse…<br />
– Pare! Sim – Robert interveio na conversa antes que fosse mais longe. – E possivelmente haja outros<br />
temas que nos alegre mais.<br />
– Perdoe meu primo – Sebastian encolheu os ombros. – É um pouco puritano. Mas minhas desculpas.<br />
Intrometi-me em sua encantadora conversa. Por favor, continuem com o que estavam dizendo – se<br />
recostou em seu assento.<br />
– Na ver<strong>da</strong>de – disse Violet. – Não se preocupe conosco. Apenas estamos aqui. E pode estar segura<br />
de que, se querem falar de segredos, eu jamais repetirei nenhum. Sou conheci<strong>da</strong> por minha discrição.<br />
– Isso é ver<strong>da</strong>de – respondeu Sebastian. – A condessa de Cambury é como um buraco escuro e<br />
profundo. Os segredos entram nela, mas jamais sai nenhum.<br />
– Sebastian – replicou Violet com calma, voltando para seu trabalho de ponto, – não é nem<br />
apropriado nem respeitoso dizer a uma mulher que a considera somente um buraco.<br />
A senhorita Pursling se engasgou com a saliva e tossiu; Robert se afundou mais em seu assento,<br />
arrependido de ter atraído aquilo sobre sua cabeça. Necessitava algo para tampar seu rubor. Não deveria<br />
ter deixado que nenhum dos dois se aproximasse <strong>da</strong> senhorita Pursling e, se seguiam assim, ele, Robert,<br />
jamais o perdoaria.<br />
Violet seguiu tecendo como se na<strong>da</strong> tivesse ocorrido.<br />
Sebastian agitou uma mão no ar.<br />
– Minhas desculpas; é obvio, a condessa é uma doce flor de feminili<strong>da</strong>de.<br />
“Te cale. Te cale”, pediu em seu interior Robert.<br />
Por sorte, Sebastian não levou mais à frente a desculpa.<br />
Violet pareceu aceitá-la sem comentários.<br />
– Não se preocupe comigo – repetiu. – De fato, não se preocupe com nenhum de nós – piscou e<br />
ergueu as agulhas ante si como se levantasse um muro.<br />
– Acredito que começamos esta conversa com o pé esquerdo – interveio por fim Robert. De fato,<br />
pensava que, se aquela conversa tivesse sido um ser vivo, o mais misericordioso teria sido arrastá-lo<br />
atrás do celeiro e lhe <strong>da</strong>r um tiro.<br />
– Sério? – a senhorita Pursling olhou pelo guichê.<br />
– Eu apenas pensei que, possivelmente se lutássemos um com o outro com franqueza por uma vez,<br />
poderíamos…<br />
– Oh! Não acredite nele quando fala assim – interrompeu Violet, fingindo ain<strong>da</strong> estar absorta em seu<br />
trabalho de ponto. – Pode falar tudo o que queira de equi<strong>da</strong>de e justiça, mas ele foi o único que se negou