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– Não é meu aniversário – a olhou. – E falta mais de um mês para o Natal.<br />
– Não é um presente por uma ocasião especial – Minnie sentia o coração lhe pulsando com força no<br />
peito. – É um presente de algo que vi e quis que o tivesse.<br />
Como os rubis que ele lhe tinha <strong>da</strong>do, guar<strong>da</strong>dos agora em uma caixa para uma ocasião mais feliz.<br />
– É pesado – disse ele, sopesando-o. – Um livro? Um atlas?<br />
– Não vou lhe dizer isso. Terá que abri-lo se quiser sabê-lo.<br />
Robert puxou o cordão e, quando se desfez a laça<strong>da</strong>, deixou-o cair ao chão. O papel se enrugou ao<br />
abri-lo.<br />
O livro estava encaderno em couro branco de cor creme, lavrado com um desenho sutil. Não havia<br />
título na tampa nem tampouco no lombo. Minnie conteve o fôlego quando ele o abriu e passou as<br />
primeiras páginas de cor creme.<br />
Aquele livro não tinha saído de uma prensa. Tinha sido ilustrado amorosamente à mão. Ela pensava<br />
que as ilustrações eram aquarelas, mas nesse caso, eram surpreendentemente anima<strong>da</strong>s, capas e capas de<br />
pintura coloca<strong>da</strong>s uma em cima <strong>da</strong> outra até que os vermelhos eram tão profundos como as folhas<br />
moribun<strong>da</strong>s do outono e os azuis tão autênticos como um céu do verão. A primeira ilustração, um “A”<br />
gigante, estava no topo de uma colina. A letra em si estava composta por uma miríade de desenhos<br />
menores. Uma lateral <strong>da</strong> letra formava uma amendoeira inclinando-se ao vento. No alto de seus ramos<br />
havia um albatroz com as asas estendi<strong>da</strong>s para o céu. Uma alpaca se esticava para as amêndoas e seu<br />
pescoço formava o outro lado <strong>da</strong> letra. A seus pés se enroscava uma sucuri, mas não ameaçava a nenhuma<br />
<strong>da</strong>s demais criaturas, mas sim parecia estar ocupa<strong>da</strong> comendo um <strong>da</strong>masco. To<strong>da</strong> a ilustração estava<br />
forma<strong>da</strong> por coisas que começavam pela “A”.<br />
Robert a olhou antes de passar a página à letra B, onde havia mochos, balões e bouganville.<br />
– Compraste-me uma cartilha? – parecia confuso.<br />
– Pensei… – ela tragou saliva. – Você disse que queria ter muitos filhos. Me ocorreu comprar uma<br />
cartilha que não tivesse palavras impressas. Assim poderia inventar o que quisesse para ca<strong>da</strong> letra. E não<br />
te equivocaria.<br />
Ele olhou as páginas. Tocou a ponta de uma e Minnie se perguntou se estaria pensando na M, que tinha<br />
desenhos de uma mãe que tinha a seu filho de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s à luz <strong>da</strong> lua, com mariposas sobrevoando um<br />
arbusto de amoras.<br />
Mas ele não passou a página até essa letra. Em vez disso, olhou-a.<br />
– Você me compraste isto – disse.<br />
Minnie assentiu.<br />
– Por quê?<br />
– Porque estava pensando em ti.<br />
Robert ficou de pé. Ela não podia interpretar sua expressão.<br />
Lhe pôs as mãos nos ombros e, quando ela ergueu a vista, beijou-a. Beijou-a sem gentileza. Beijou-a<br />
com todo o sentimento que não tinha mostrado desde que entrou na casa. Com feroci<strong>da</strong>de, grosseiramente,<br />
como se houvesse retornado de uma ausência de dez anos e precisasse lhe recor<strong>da</strong>r tudo o que tinha<br />
passado. Estreitou-a em seus braços com força. Seu corpo despedia muito calor. Beijou-a uma vez e<br />
outra e outra mais, sem quase lhe permitir respirar antes de voltar a beijá-la de novo. Abraçou-a com