ACTAS
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I Congreso Internacional de Periodismo 155<br />
estar falando. Para ele, vivemos a cultura da convergência, onde as velhas e as novas mídias se cruzam, mídia<br />
corporativa e mídia alternativa se chocam, e o poder do produtor de mídia e do consumidor interagem de maneiras<br />
imprevisíveis. Outro estudioso no tema, Carlos Alberto Scolari (2009), segue a mesma linha de Jenkins<br />
e remete ao termo “prossumidor” em mais de uma ocasião para sinalizar a convergência entre produtores e<br />
consumidores de conteúdo.<br />
Também nesse sentido, Orozco Gómez afirma que todos os meios, tanto os velhos quanto os novos, coexistem,<br />
conformando ou não convergências em sentido estrito, porém constituindo ecossistemas comunicativos<br />
cada vez mais complexos. “A chegada de um novo meio ou tecnologia não supõe necessariamente, nem tampouco<br />
imediatamente, a suplantação do anterior” (GÓMEZ, 2006, p.84).<br />
Para Torres (2008, p. 275), com a apropriação das novas tecnologias comunicativas pelos indivíduos e organizações<br />
populares, vemos surgir uma sociabilidade tecnológica capaz de se autorrepresentar e inaugurar novas<br />
formas de atuação.<br />
Uma dessas formas, exemplifica Jenkins, se configura pela participação, às vezes direta, dos fãs nas produções<br />
da indústria do entretenimento.<br />
As práticas da cultura tradicional foram empurradas para o underground – as pessoas ainda compunham e cantavam<br />
canções, escritores amadores ainda rascunhavam versos, pintores de final de semana ainda davam suas<br />
pinceladas, as pessoas ainda contavam histórias e algumas comunidades pequenas ainda promoviam bailes na<br />
praça. Ao mesmo tempo, comunidades alternativas de fãs surgiram como reação ao conteúdo dos meios de comunicação<br />
de massa (JENKINS, 2009, p.192).<br />
Assim, pessoas comuns deixaram de ser apenas fãs e se apropriaram de novos dispositivos tecnológicos para<br />
arquivamento, recirculação e mesmo criação de conteúdos de mídia. Exemplo notório em inúmeros países ao<br />
redor do globo é o dos jovens YouTubers – pessoas que criam canais no YouTube para divulgar ideias, opiniões<br />
e conteúdos de entretenimento e ocasionalmente atingem o status de olimpianos, para usar a expressão<br />
de Edgar Morin disseminada no Brasil por Cremilda Medina 138 . A despeito dos talentos artísticos, esportivos<br />
ou retóricos, o século XXI parece nos dizer que todos podem, efetivamente, tornar-se olimpianos, indo muito<br />
além dos 15 minutos de fama preconizados por Andy Warhol nos anos 1960.<br />
A necessidade de participação do ser humano nas mais diversas manifestações sociais (família, comunidade,<br />
trabalho, luta política, manifestações culturais e artísticas, comunicação social) é natural, e nesse contexto o<br />
surgimento das redes e da interligação entre elas foi fundamental. As pessoas participam, segundo Bordenave<br />
(2008, p.11), porque nenhum homem é uma ilha e desde as suas origens vive agrupado com seus iguais.<br />
Há duas bases, complementares entre si, possíveis de serem percebidas na participação: uma base afetiva (o<br />
prazer de participar) e uma instrumental (fazer coisas com os outros é mais eficaz e eficiente do que fazer<br />
sozinho).<br />
A participação é o caminho natural para o homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se<br />
a si mesmo e dominar a natureza e o mundo. Além disso, sua prática envolve a satisfação de outras necessidades<br />
não menos básicas, tais como a interação com os demais homens, a autoexpressão, o desenvolvimento do pensamento<br />
reflexivo, o prazer de criar e recriar coisas, e a valorização de mesmo pelos outros (BORDENAVE, 2008, p. 16).<br />
Bordenave ressalta o prazer do ser humano de criar e recriar coisas, e ainda vai além, quando ressalta a necessidade<br />
de termos uma sociedade plenamente participativa: “tudo indica que o homem desenvolverá seu<br />
potencial pleno numa sociedade que permita e facilite a participação de todos. O futuro ideal do homem só<br />
se dará numa sociedade participativa” (BORDENAVE, 2008, p. 16).<br />
138 Empregamos o termo olimpiano aqui na acepção consagrada por Morin (1969, p. 111-115), que em “Cultura de Massas no Século XX” usa o epíteto<br />
para qualificar os que recebem, da mídia, uma espécie de papel mitológico, como deuses modelares em seu comportamento e conduta. Mantêm, contudo,<br />
uma dupla natureza, humana e sobrehumana, que permite a identificação do público às dimensões mais comezinhas (gafes, discussões públicas,<br />
acidentes, falecimentos) da vida das celebridades ao mesmo tempo em que despertam certo valor aspiracional em sua dimensão divina, ligada à riqueza<br />
e à beleza, à realização de sonhos e fantasias. No Brasil, esta noção é explorada com precisão por Medina (1988).