ACTAS
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94 Convergencias mediáticas y nueva narrativa latinoamericana<br />
excessivo do jornalismo de dados e a cobertura “sentada”. Segundo eles, essas práticas favorecem a preguiça<br />
mental e a superficialidade.<br />
Curadoria de conteúdos<br />
Na luta pela sobrevivência do jornalismo e na disputa pela busca de leitores, novas maneiras de gerar notícias<br />
vão surgindo, fomentando a ideia de que o jornalismo é uma invenção permanente (Adghirni e Ruellan, 2010).<br />
Instalado no Brasil em janeiro de 2014, em parceria com a Editora Abril, o Huffington Post (agora, Brasil Post)<br />
foi pioneiro de um modelo de jornalismo on-line que agrega conteúdos de outras origens às notícias de<br />
produção própria. Em vez de montar grandes redações, com centenas de jornalistas, a milionária greco-americana<br />
Arianna Huffington investiu na ideia de compartilhamento de conteúdos gerados por outros sites<br />
noticiosos já estabelecidos no mercado da informação. O site optou pelo investimento em tecnologia para<br />
fazer curadoria e replicar notícias produzidas por terceiros. Celebridades do mundo da moda, do cinema, das<br />
artes e do jornalismo, oriundos de diferentes países, têm blogs no Huffington Post, sem receber qualquer<br />
remuneração. O objetivo é dar visibilidade a famosos que ampliam a própria fama e a audiência do jornal, ao<br />
trazerem para a tela ideias que repercutem nas redes sociais. Os blogs atraem cliques, que atraem publicidade,<br />
que atraem leitores, que são atraídos por celebridades. Com essa fórmula, já ultrapassam a audiência dos<br />
maiores jornais nos países em que operam.<br />
A fórmula de sucesso começou nos Estados Unidos, em 2005, e foi se expandindo, para montar equipes próprias<br />
nas principais cidades do mundo. Por exemplo, a redação no Rio de Janeiro funciona com uma equipe<br />
de jornalistas que não estão em busca do furo, mas de tratar as notícias já existentes a partir de um olhar<br />
particular, entre a ironia, a crítica ou o apoio militante declarado, segundo os próprios jornalistas.<br />
Em maio de 2015, tive a oportunidade de dividir uma mesa de debates com meu ex-aluno e hoje editor-chefe<br />
do Brasil Post, sucursal brasileira do Huffington Post, o jornalista Diego Iraheta, durante evento promovido<br />
pela Universidade Positivo, em Curitiba, Paraná 76 . Ele defendeu veementemente o modelo de jornalismo implantado,<br />
cujo grande diferencial, em sua opinião, é assumir posições claras a respeito de temas polêmicos,<br />
como homossexualidade, aborto, casamento gay, direitos das minorias e outros assuntos em pauta na grande<br />
mídia.<br />
Nessa concepção, e segundo a lógica do novo modelo de negócios, não há por que ter repórteres na rua, se<br />
as autoridades estão on-line, se há milhares de informações disponíveis circulando nas redes sociais e se o<br />
próprio cidadão é capaz de produzir conteúdos. Diante da abundância do ecossistema de informação, capaz<br />
de jorrar informação em fluxo contínuo, por que mobilizar recursos humanos nas ruas?<br />
Segundo Iraheta, o Brasil Post é uma espécie de “mix” de notícias, uma montagem de pedaços de textos de<br />
diversas matérias de outros veículos. Mas não é plágio, ele afirma. São notícias linkando e atribuindo as referências<br />
de origem do “mix” de informações. Nesse modelo, o jornalista é um curador de conteúdo, que se<br />
abastece nas redes sociais, nas assessorias e na produção de conteúdos pelo cidadão. “O jornalista, hoje, é<br />
aquele que sabe procurar pautas nas redes sociais, na super teia da web”, defende Iraheta.<br />
Se esse tipo de site atinge grandes audiências, é preciso procurar entender o que aconteceu com o consumidor<br />
de notícias na sociedade brasileira de hoje.<br />
Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 77 , 48% dos brasileiros usam a internet e ficam cinco horas conectados<br />
por dia (tempo superior ao gasto com a televisão). Desses, 92% estão conectados por meio de redes<br />
76 Trata-se da mesa “Jornalismo digital e as novas práticas jornalísticas”, realizada durante a II Jornada de Jornalismo<br />
Digital (4 a 6 de maio de 2015).<br />
77 Recuperado em 20 de março, 2016, de http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-<br />
-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf