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I Congreso Internacional de Periodismo 95<br />

sociais, sendo as mais utilizadas o Facebook (83%), o Whatsapp (58%) e o YouTube (17%).<br />

Ainda segundo a pesquisa, 67% dos que acessam a internet estão em busca de notícias. Mas não se trata da<br />

notícia tradicional, como as que preenchem as páginas dos jornais. Os internautas querem receber, compartilhar<br />

e participar.<br />

Há, por conta disso, pesquisadores debatendo o que chamam de “facebookização” do jornalismo, uma vez<br />

que cerca da metade da população brasileira tem acesso à internet (os outros 50% estão na área de exclusão<br />

digital) e, desse montante, mais de 80% se informa pelo Facebook.<br />

Surge, então, a pergunta: onde está o jornalismo?<br />

A banalização do jornalismo pelas redes sociais faz com que o Facebook seja utilizado como fonte e como<br />

pauta pelos jornais, digitais ou impressos. Já existem até especialistas em Facebook e Twitter.<br />

No início da década de 2000, quando pesquisadores de diversas universidades brasileiras e estrangeiras estudavam<br />

o impacto da internet na produção e na distribuição da notícia – meu tema de pesquisa de pós-<br />

-doutoramento, realizado na Universidade de Rennes I, na França –, falava-se em jornalismo “participativo” e<br />

“cidadão”. A promessa idílica era a de que a sociedade não seria mais refém das grandes mídias elitistas. Cada<br />

um poderia fazer seu próprio jornal. Ou enviar suas próprias notícias e fotos para os grandes jornais de circulação<br />

nacional. Alguns canais de TV e jornais chegaram a lançar produtos na base da colaboração cidadã. Não<br />

demorou muito para se constatar que jornalista é jornalista e que fonte é fonte. Ou seja, diante da informação<br />

que jorra em fluxo contínuo na web, somente o jornalista é capaz de organizar o caos. A geração e a seleção<br />

de conteúdos com critérios e valores do jornalismo historicamente construídos necessitam do jornalista para<br />

garantir credibilidade as mídias.<br />

Para se adaptar aos novos tempos, em busca da sobrevivência do jornalismo e diante da crise do modelo de<br />

negócio empresarial da notícia, os jornais passaram por diversas fases. Muitos quebraram. Outros morreram<br />

no papel para nascer em versão digital, como o Jornal do Brasil. Outros se renovaram. Primeiro, dividiram<br />

as redações entre os jornalistas on-line e os jornalistas do impresso. Depois, voltaram a integrar as equipes,<br />

modelo que prevalece hoje. As notícias são captadas das mais diferentes formas, mas, mesmo para operar<br />

com robôs, as empresas descobriram que não podem prescindir dos jornalistas. Redistribuíram as funções,<br />

demitiram centenas de profissionais 78 , contrataram “dois por um” (salário de um sênior valendo pelo menos o<br />

dobro de um júnior), copiam e colam notícias geradas pelas mídias das fontes (instituições públicas e privadas<br />

que criaram seus próprios veículos), mas descobriram que sem jornalistas não faz jornal.<br />

A substituição de jornalistas veteranos por jornalistas jovens faz parte da troca de gerações de profissionais<br />

em todas as áreas no mercado de trabalho. Mas a substituição de jornalistas por sistemas operacionais automáticos<br />

de produção de notícias representa um risco para a qualidade e para a credibilidade do jornalismo.<br />

Afinal, o jornalista é mais do que um produtor de conteúdos para abastecer as turbinas da informação. Profissão<br />

jornalista: responsabilidade social é o título de um livro de Medina (1982), que, já nos anos 1980, alertava<br />

para a importância do papel do jornalista na sociedade.<br />

Considerações finais<br />

A narrativa não é uma mera descrição dos fatos, mas uma maneira de pensá-los. A presença do jornalista no<br />

lugar onde os fatos acontecem, além de servir de testemunho, ultrapassa a descrição dos próprios fatos. Pela<br />

obra de grandes jornalistas que foram correspondentes de guerra, como Ernest Hemingway e Robert Fisk, os<br />

registros vão além dos acontecimentos para se entrelaçar com a história e a literatura. A experiência de narrar<br />

78 Segundo dados da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), 1.230 profissionais da categoria foram demitidos, no Brasil, em<br />

2015.

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