ACTAS
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I Congreso Internacional de Periodismo 211<br />
3. De fontes e declarações a pessoas e diálogos.<br />
Os jornalistas dependem de fontes para descrever o acontecimento. Fontes ouvidas como especialistas, como<br />
poderosos, como vítimas que fornecem declarações. Ao jornalismo narrativo cabe fazer da fonte um sujeito.<br />
Ele pensa, fala, dá vida a sua experiência que merece ser posta em contexto. “Então, em geral, quando posso,<br />
chego para as pessoas e digo: ‘Me conta’. – e o que ela me conta primeiro, e como ela me conta, é informação<br />
importante, que não saberia se tivesse feito a primeira pergunta. Porque a primeira pergunta já direciona. Não<br />
estou nem falando daqueles repórteres que saem com uma tese e obrigam o entrevistado a falar uma frase<br />
para encaixar. Isso aí não é jornalismo, nem levo em consideração, mas estou falando de uma pergunta honesta<br />
mesmo. Mesmo a pergunta honesta ela já direciona. Tenho feito algumas experiências nesse sentido e tenho<br />
percebido como muda a apuração” (Brum, p. 76).<br />
4. O detalhe relevante.<br />
Os detalhes reveladores são, às vezes, uma pequena cena, uma frase, uma imagem que bem captada pode<br />
abrir caminho ao entendimento do acontecimento. Como periodistas, diz Herrscher “cuando encontramos<br />
una escena asi y la podemos transmitir para que el lector sienta que la ve con sus propios ojos, estamos<br />
entrando en una dimensión a la que muchas veces sólo acede la ficción, la poesia, la música o el cine. Pero<br />
estamos llegando ahí para contar la realidade, permitirle al lector conocer algo de lo que passa en el mundo,<br />
en el país o en la ciudad” (p. 41). “Então, o bom jornalismo é aquele que escuta o dito e o não dito, escuta<br />
os silêncios, aquele que sabe que os gestos e os cheiros podem ser informações tão importantes quanto a<br />
palavra” (Brum, p. 89).<br />
5. Quais histórias pedem e merecem ser contadas.<br />
Tudo o que diz respeito à vida merece ser contado. Mas são as histórias de gentes especiais e experiências<br />
transformadoras que valem o investimento e o tempo para circular como matéria jornalística. É quando uma<br />
história vivida encontra seu narrador. “A história se impõe. É o meu compromisso. Quando uma história me<br />
encontra, tenho que contar essa história” (Brum, p. 86).<br />
Por essa compreensão, o texto jornalístico quer mais que informar, entreter ou ensinar. Quer que o leitor<br />
cresça; que, conhecendo a história desse outro, mude ou amplie ou transforme sua visão de mundo. É disto<br />
que se trata quando um texto jornalístico corresponde a essas cinco características.<br />
Entre os gêneros jornalísticos, é na reportagem que melhor se manifestam as potencialidades da narrativa. Ela<br />
pode libertar, emancipar, esclarecer, até mesmo dar a conhecer o leitor a si mesmo. Beatriz Marocco, ao apresentar<br />
um pequeno texto em que Foucault 149 elabora uma proposta de “reportagem de ideias” mostra como<br />
esse gênero tem potência para reconhecer os acontecimentos em estado nascente. A reportagem de ideias,<br />
diz a autora, olha de um modo transgressor a época em que se vive e faz a crítica à ordem social hegemônica.<br />
Nesse tipo de reportagem, há um deslocamento da compreensão tradicional de como a fonte é percebida – “a<br />
função da fonte é pedagógica. A fonte se constitui como sujeito de seu próprio discurso, nenhuma autoridade<br />
falará em seu nome, a fonte não ocupa um lugar em que se lhe oprime a um modelo e que é predeterminado,<br />
mas de capacidade reflexiva, uma intervenção na realidade dos sujeitos que assumem tal condição” (Marocco,<br />
p. 41).<br />
Memória já não mais silenciada<br />
Nos jornais dos países da América Latina que viveram ditaduras militares nos anos 1970 é comum encon-<br />
149 Foucault escreveu As reportagens de ideias em 1978 para explicar sua proposta de produzir um conjunto de reportagens reunindo intelectuais e<br />
jornalistas que “trabalharão no ponto de cruzamento entre as ideias e os acontecimentos”.