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210 Convergencias mediáticas y nueva narrativa latinoamericana<br />

que a gente faz nosso trabalho, seja uma nota ou uma matéria de 20 páginas. O que escrevemos fica. E sempre<br />

pensei assim: o que eu faço está influenciando gente agora e, daqui a 50, 100 anos, quando um pesquisador<br />

quiser entender como é essa época, ele irá aos arquivos e vai encontrar minha matéria. Se fiz mal o meu trabalho,<br />

se fui preguiçosa, se fui incompetente, vou dar uma ideia errada para quem estiver tentando entender a minha<br />

época. Então essa é a nossa responsabilidade: produzir documento de qualidade, que dê toda a complexidade da<br />

história que contamos, o maior número possível de verdades e nuances” (Brum, p. 85).<br />

A autora dá ao jornalismo um lugar privilegiado para o entendimento do presente e identifica o movimento<br />

entre a cobertura do acontecimento da atualidade e as interpretações que merecerá quando for<br />

estudado como passado. Ela sabe, também, que é na reportagem, no texto de fôlego maior que este<br />

potencial do jornalismo tem mais possibilidade de se realizar.<br />

O jornalista argentino Roberto Herrscher escreveu um livro 148 em que teoriza sobre o “periodismo narrativo”<br />

a partir da análise do perfil e dos trabalhos de alguns grandes jornalistas – narradores, entrevistadores,<br />

cronistas – apontando características que identificam, conforme ele, o que é uma narrativa jornalística.<br />

À descrição destas características de Herrscher complemento com o pensamento da jornalista.<br />

1. O ponto de vista e o narrador.<br />

Para Herrscher, esta é a principal diferença entre uma notícia e uma narrativa jornalística. O jornalista está<br />

autorizado a mostrar seu ponto de vista e constrói sua própria voz por meio de uma narrativa que é única.<br />

“Esse viaje lo hice yo, no lo pudo haber hecho ningún outro. Si lo hiciera outro periodista tal vez sería peor, tal<br />

vez sería mucho mejor, pero sería totalmente distinto. El relato de esta naturaleza es siempre una invitación al<br />

lector a embarcarse en un viaje con, por y desde el escritor. Tenemos que ver nosostros primero con ojos especiales.<br />

Si logramos que el lector vea con nuestros ojos, dirá tal vez al final eso tan gratificante de escuchar ‘al<br />

leerte, sentía que yo también estuve ahí’” (p. 37). Eliane Brum complementa: “Como repórter, a gente tem dois<br />

instrumentos, que são os mais importantes: o olhar e a escrita. Eu me considero uma escutadeira da realidade”<br />

(Brum, p. 76). “O desafio de cada repórter é descobrir qual é a sua voz, qual é o seu jeito de contar a história,<br />

qual é o seu jeito de fazer as coisas. Tenho o meu e vou passar o resto de minha vida procurando a minha voz.<br />

Quando a encontro, ela logo me escapa, porque estou sempre descobrindo uma coisa nova. E cada um vai ter<br />

que fazer isso para ter uma voz que seja sua e que seja escutada, porque o mundo está ficando muito mais<br />

exigente nesse sentido” (Brum, p. 83).<br />

2. A história é dos outros.<br />

Se o jornalismo narrativo deixa claro o ponto de vista e a voz do jornalista é das histórias dos outros que ele<br />

deve se ocupar. Esse outro, quanto mais distinto e “estranho”, maior o desafio para ser fiel a ele. “Eu faço matérias<br />

e vou morando em alguns lugares e tal e sempre peço para as pessoas: ‘Mostra o teu mundo’. Porque o<br />

que a pessoa me mostra – e o que ela não me mostra – são coisas muito importantes para começar a entender<br />

como ela entende aquele mundo. Porque não sei nada daquele mundo. Só sei o que li aqui e ali. Se eu for para<br />

aquele mundo achando que sei sobre aquele mundo, só vou aumentar a minha ignorância. Então eu tenho<br />

que descobrir como aquela pessoa enxerga o seu mundo. Porque ela me mostra isso e não me mostra aquilo?<br />

Porque ela deixa de me mostrar tal coisa? Essas são questões importantes que só descubro dessa maneira”<br />

(Brum, p. 79).<br />

148 Herrscher apresenta seus mestres para tratar da narrativa jornalística. Eles são Kapuscinski, Oriana Fallaci, Talese, Mitchell, Wallraff, Hersey,<br />

Capote, Garcia Marquéz entre outros.

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