boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL<br />
RECORRIDO: MARILZA BARROS DE VASCONCELLOS<br />
RELATOR: JUIZ FEDERAL BRUNO DUTRA<br />
EMENTA<br />
RECURSO INOMINADO – PREVIDENCIÁRIO – DESCONTOS EFETUADOS INDEVIDAMENTE SOBRE OS PROVENTOS<br />
DA RECORRIDA – IMPOSSIBILIDADE DE EFETUAR OS REFERIDOS DESCONTOS, HAJA VISTA O CARÁTER<br />
ALIMENTAR DO BENEFÍCIO E A AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ DA PARTE AUTORA – DEVIDA A RESTITUIÇÃO DOS<br />
VALORES INDEVIDAMENTE DESCONTADOS – RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO – SENTENÇA MANTIDA.<br />
1. Trata-se de recurso inominado interposto pelo INSS, ora recorrente, em face da sentença de fls. 23/24, que julgou<br />
procedente o pedido da inicial e declarou a inexistência de débito r<strong>es</strong>ultante da revisão adminis<strong>tr</strong>ativa, bem como condenou<br />
o INSS a r<strong>es</strong>tituir os valor<strong>es</strong> efetivamente d<strong>es</strong>contados. Em razõ<strong>es</strong> recursais, o recorrente sustenta que a autora recebeu<br />
indevidamente o benefício de aposentadoria por tempo de con<strong>tr</strong>ibuição no período de 1998 a setembro de 2002, assim,<br />
aduz que o d<strong>es</strong>conto era devido, que se <strong>tr</strong>ata de verba pública e, portanto, deve ser r<strong>es</strong>tituído. Sem con<strong>tr</strong>arrazõ<strong>es</strong>.<br />
2. A sentença merece ser mantida por seus próprios fundamentos (art. 46, da Lei 9.099/95).<br />
3. Efetuar a cobrança de valor<strong>es</strong> que foram recebidos pela autora por equívoco unicamente do INSS acabaria por violar a<br />
relação de segurança e confiança que o m<strong>es</strong>mo tem com a autarquia, tendo em vista <strong>tr</strong>atar-se – a renda obtida com o<br />
benefício previdenciário – de quantia d<strong>es</strong>tinada a suprir as nec<strong>es</strong>sidad<strong>es</strong> básicas do beneficiário. R<strong>es</strong>ta claro que o<br />
benefício percebido pela recorrida tinha por função precípua atender as nec<strong>es</strong>sidad<strong>es</strong> condizent<strong>es</strong> com o padrão social.<br />
4. É de r<strong>es</strong>saltar que o autor agiu de boa-fé quando do recebimento dos benefícios pagos indevidamente pelo INSS. A<br />
boa-fé é pr<strong>es</strong>umida, sendo afastada apenas se houver prova em con<strong>tr</strong>ário. A autarquia previdenciária não d<strong>es</strong>caracterizou a<br />
má-fé da recorrida, de modo que o d<strong>es</strong>conto feito sobre os seus proventos não possui r<strong>es</strong>paldo. Segue jurisprudência que<br />
corrobora o entendimento pautado na boa-fé da recorrida: [...] 2- O art. 115 da Lei nº 8.213/91, que regulamenta a hipót<strong>es</strong>e<br />
de d<strong>es</strong>conto adminis<strong>tr</strong>ativo, sem nec<strong>es</strong>sária autorização judicial, nos casos em que a conc<strong>es</strong>são a maior se deu por ato<br />
adminis<strong>tr</strong>ativo do Instituto agravante, não se aplica às situaçõ<strong>es</strong> em que o segurado é receptor de boa-fé, o que, conforme<br />
documentos acostados aos pr<strong>es</strong>ent<strong>es</strong> autos, se amolda ao vertente caso. Precedent<strong>es</strong>. 3- Agravo regimental a que se nega<br />
provimento. (STJ – Sexta Turma - AGRESP - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – 413977 – Relatora:<br />
Minis<strong>tr</strong>a Maria Thereza de Assis Moura – Julgado em: 19/02/2009 – Publicado em: 16/03/2009) (grifo nosso).<br />
5. Ademais, deve-se enfatizar que o risco de enriquecimento ilícito, alegado pelo INSS, é inferior ao risco de fazer com que<br />
a recorrida suporte ônus indevido, haja vista que as verbas que a m<strong>es</strong>ma recebeu são de caráter alimentar. Reitera-se: não<br />
é razoável que o recorrido suporte ônus pautado no erro da autarquia previdenciária.<br />
6. Por fim, deve-se frisar que, sendo devida a c<strong>es</strong>sação dos d<strong>es</strong>contos no benefício da autora, principalmente pelo fato dela<br />
não ter concorrido para o ato que propiciou o aumento de seus proventos, não deve o INSS apr<strong>es</strong>entar irr<strong>es</strong>ignação pela<br />
condenação também ao r<strong>es</strong>sarcimento dos valor<strong>es</strong> d<strong>es</strong>contados, haja vista <strong>tr</strong>atar-se de decorrência lógica da supracitada<br />
c<strong>es</strong>sação.<br />
7. Recurso conhecido e, no mérito, improvido. Sentença mantida.<br />
8. Condenação do recorrente vencido ao pagamento de honorários advocatícios ao recorrido, fixados em 10% (dez por<br />
cento) da condenação, nos termos do artigo 55, caput da Lei n. 9.099/1995 e artigo 20, § 3º, alíneas “a”, “b” e “c” c/c art. 21,<br />
parágrafo único, ambos do CPC.<br />
ACÓRDÃO<br />
Vistos, relatados e discutidos <strong>es</strong>t<strong>es</strong> autos, em que são part<strong>es</strong> as acima indicadas, acordam os Juíz<strong>es</strong> da Turma Recursal<br />
dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Espírito Santo, por unanimidade, CONHECER DO RECURSO e,<br />
no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o pr<strong>es</strong>ente julgado.<br />
BRUNO DUTRA<br />
Juiz <strong>Federal</strong> Relator<br />
146 - 0003573-84.2010.4.02.5050/01 (2010.50.50.003573-9/01) (PROCESSO ELETRÔNICO) UNIÃO FEDERAL<br />
(PROCDOR: ANA BEATRIZ LINS BARBOSA.) x MUNICÍPIO DE CARIACICA (ADVOGADO: LUCIANO KELLY DO<br />
NASCIMENTO.) x ANTONIO BATISTA FERREIRA (DEF.PUB: LIDIANE DA PENHA SEGAL.).<br />
PODER JUDICIÁRIO<br />
JUSTIÇA FEDERAL<br />
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESPÍRITO SANTO<br />
TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS