boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Vistos, relatados e discutidos <strong>es</strong>t<strong>es</strong> autos, em que são part<strong>es</strong> as acima indicadas, decide a Turma Recursal do Juizado<br />
Especial <strong>Federal</strong> da Seção Judiciária do Espírito Santo conhecer do recurso e a ele negar provimento, na forma da ementa<br />
que fica fazendo parte integrante do julgado.<br />
Boaventura João Andrade<br />
Juiz <strong>Federal</strong> Relator<br />
Assinado ele<strong>tr</strong>onicamente<br />
92001 - RECURSO/SENTENÇA PENAL<br />
2 - 0001610-70.2012.4.02.5050/01 (2012.50.50.001610-9/01) MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (PROCDOR: CARLOS<br />
VINICIUS SOARES CABELEIRA.) x GIANCARLO STABILE (DEF.PUB: LUCIANO ANTONIO FIOROT.).<br />
Proc<strong>es</strong>so nº 0001610-70.2012.4.02.5050/01 – classe 92001<br />
RECURSO/SENTENÇA PENAL<br />
Recorrente: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL<br />
Recorrido: GIANCARLOS STABILE<br />
Relator: Juiz <strong>Federal</strong> BOAVENTURA JOÃO ANDRADE<br />
Relatório<br />
O Ministério Público <strong>Federal</strong> interpôs Apelação (fls. 30-33), objetivando a reforma da sentença proferida nas fls. 26-28 na<br />
qual foi rejeitada a denúncia oferecida em face de GIANCARLOS STABILE qualificado na fls 03 por entender, em r<strong>es</strong>umo,<br />
não configurada a moldura do tipo previsto no art. 330 do Código Penal, na forma do art. 395, inciso III, do Código de<br />
Proc<strong>es</strong>so Penal.<br />
De início, releva <strong>tr</strong>anscrever excertos das razõ<strong>es</strong> recursais oferecidas pelo MPF in litteris:<br />
“(...) 1) A sentença deve ser anulada porque não obedeceu ao rito previsto no art. 81 da Lei nº 9099/95, que diz que a<br />
denúncia deve ser recebida em audiência, depois de dada a palavra ao defensor para r<strong>es</strong>ponder à acusação, enquanto que<br />
no pr<strong>es</strong>ente caso o MM. Juiz rejeitou a denúncia de plano, violando assim a lei federal no artigo citado. Em razão disso,<br />
requeiro seja anulada a sentença qu<strong>es</strong>tionada e determinada ao juízo de piso que marque audiência de ins<strong>tr</strong>ução e<br />
julgamento, ocasião própria para a avaliação do recebimento ou não da denúncia.<br />
2) Quanto ao mérito, observo que o caso pr<strong>es</strong>ente não se <strong>tr</strong>ata de prisão civil de depositário infiel pelo óbvio motivo de que<br />
não é uma causa civil, mas uma acusação criminal com base no código penal.<br />
3) A vedação à prisão civil não impede a existência e constitucionalidade do tipo penal de d<strong>es</strong>obediência, nem que seja a<br />
d<strong>es</strong>obediência de uma ordem judicial de penhora. A r<strong>es</strong>ponsabilidade criminal exige a prova do dolo e das elementar<strong>es</strong> do<br />
tipo penal em um proc<strong>es</strong>so com ampla def<strong>es</strong>a, depois de acusação formalizada pelo Ministério Público, e o <strong>tr</strong>ânsito em<br />
julgado da decisão. Além disso, dificilmente ocorrerá, de fato, a prisão, uma vez que há diversos mecanismo de substituição<br />
por penas r<strong>es</strong><strong>tr</strong>itivas de direito e multas. (Grifei)<br />
4) A vedação à prisão civil não é uma canonização, aprovação, conc<strong>es</strong>são de imunidade ou louvor à impunidade do sujeito<br />
que ignora a ordem judicial devidamente cientificada p<strong>es</strong>soalmente e que, além disso, compareceu p<strong>es</strong>soalmente em juízo<br />
e se comprometeu a cumpri-la. É uma vedação à medida de coação de prisão em proc<strong>es</strong>so civil, que não repercute na<br />
possibilidade de persecução criminal. (Grifei)<br />
5) Lembrem-se, Excelentíssimos Julgador<strong>es</strong>, que a m<strong>es</strong>ma alegação de inconstitucionalidade em razão da vedação à<br />
prisão civil foi rejeitada de forma definitiva e pacífica no caso do crime do art. 168A do Código Penal, que se refere ao não<br />
recolhimento de con<strong>tr</strong>ibuiçõ<strong>es</strong> previdenciárias d<strong>es</strong>contadas dos empregados. O que é o empregador que não um<br />
depositário do dinheiro d<strong>es</strong>contado dos empregados em face da Previdência? No entanto a constitucionalidade do art. 168A<br />
foi devidamente firmada e reafirmada pelos nossos <strong>tr</strong>ibunais superior<strong>es</strong>.<br />
6) No caso pr<strong>es</strong>ente, o sujeito não foi acusado em razão de não ter pago a dívida. Bastaria ele justificar que não havia<br />
faturamento para penhorar ou apr<strong>es</strong>entar ou<strong>tr</strong>a justificativa fundamentada. Ele foi acusado porque d<strong>es</strong>obedeceu<br />
injustificadamente a ordem judicial de penhora e nem m<strong>es</strong>mo se preocupou em se reportar à autoridade emissora da ordem<br />
legítima. Por on<strong>tr</strong>o lado, se ele <strong>es</strong>tiv<strong>es</strong>se sendo acusado por dívida, o pagamento seria causa imediata de extinção do<br />
proc<strong>es</strong>so, o que não é possível no proc<strong>es</strong>so por crime de d<strong>es</strong>obediência.<br />
Além de tudo, não se <strong>tr</strong>ata de depositário de um carro alienado fiduciariamente que <strong>es</strong>tá sendo executado por um banco,