boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Art. 330. D<strong>es</strong>obedecer ordem legal de funcionário público:<br />
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) m<strong>es</strong><strong>es</strong>, e multa.<br />
Pois bem. O intuito claro da ordem judicial acima <strong>tr</strong>anscrita – embora o recorrido tenha comparecido em juízo e se<br />
comprometido a pagar o débito, e até ter iniciado o pagamento – foi r<strong>es</strong>ponsabilizar subsidiária e casuisticamente o<br />
recorrido na <strong>es</strong>fera penal.<br />
Buscou-se conferir eficácia aos atos da execução, mediante a convolação, repita-se, casuística, da prisão civil por dívida de<br />
“depositário infiel” – ante o óbice decorrente da incorporação ao ordenamento jurídico-constitucional brasileiro, mercê do<br />
pacto de São José da Costa Rica do qual o Brasil é signatário – pela clara criminalização da conduta a<strong>tr</strong>ibuída ao recorrido<br />
(art. 330 do Código Penal), de modo a obrigá-lo à satisfação do crédito em execução.<br />
Frise-se, o tipo penal em tela, pr<strong>es</strong>supõe segundo entendimento assentado no âmbito, v.g., do Supremo Tribunal <strong>Federal</strong> a<br />
previsão expr<strong>es</strong>sa de sançõ<strong>es</strong> civil ou adminis<strong>tr</strong>ativa cumulada com a sanção de natureza penal .<br />
Pois bem. Da forma como se observa a dinâmica do fato re<strong>tr</strong>atado acima, não se demons<strong>tr</strong>ou o indispensável dolo<br />
consistente na não en<strong>tr</strong>ega deliberada do rendimento penhorado mediante r<strong>es</strong>istência clara ou ardil; ant<strong>es</strong>, pr<strong>es</strong>umiu-se.<br />
Demais disso, de fato a natureza da sanção proc<strong>es</strong>sual civil aplicável ao caso (arts. 600 e 601 ambos do Código de<br />
Proc<strong>es</strong>so Civil) de modo algum veicula regra cumulativa com a <strong>es</strong>fera penal. Não se pode ex<strong>tr</strong>air cumulatividade, ante a<br />
simpl<strong>es</strong> referência a sançõ<strong>es</strong> de natureza material e proc<strong>es</strong>sual constante do art. 601 do CPC.<br />
Vale aqui lembrar, por oportuno, que no proc<strong>es</strong>so nº 0002371-69.2010.4.02.5051 d<strong>es</strong>ta relatoria, houve cons<strong>tr</strong>utiva<br />
divergência inaugurada pelo voto-vista do eminente Juiz <strong>Federal</strong> Pablo Coelho Charl<strong>es</strong> Gom<strong>es</strong>, acompanhado pelo<br />
eminente Juiz <strong>Federal</strong> Bruno Du<strong>tr</strong>a, vencido o relator, versando o m<strong>es</strong>mo tipo penal de d<strong>es</strong>obediência (art. 330 do CP).<br />
D<strong>es</strong>ta feita, no entanto, colho o ensejo para realçar, r<strong>es</strong>peitosamente, que o ar<strong>es</strong>to <strong>tr</strong>anscrito no voto-vista divergente <strong>tr</strong>ata<br />
de situaçõ<strong>es</strong> fáticas com nuanc<strong>es</strong> important<strong>es</strong> diversas. No ar<strong>es</strong>to em apreço, da relatoria da Minis<strong>tr</strong>a Eliana Calmon, a<br />
p<strong>es</strong>soa incriminada claramente durante <strong>tr</strong>ês anos, pôs-se a driblar a justiça e a não pr<strong>es</strong>tar contas, conforme acentuou a<br />
Minis<strong>tr</strong>a. Enquanto que, n<strong>es</strong>te caso, embora não se tenha demons<strong>tr</strong>ado que o recorrido não quer pagar ou que <strong>es</strong>tá<br />
driblando a <strong>Justiça</strong> – vez que compareceu em juízo e até iniciou o pagamento – deliberadamente r<strong>es</strong>olveu-se contornar o<br />
óbice da supr<strong>es</strong>são da prisão civil por dívidas do ordenamento jurídico.<br />
Já em relação ao segundo ar<strong>es</strong>to <strong>tr</strong>azido no r<strong>es</strong>peitável voto-vista, da relatoria da D<strong>es</strong>embargadora <strong>Federal</strong> Maria Helena<br />
Cisne, datado de 17/04/2008, cujas premissas jurídicas – em parte – não enseja discordância, ele expr<strong>es</strong>sa entendimento<br />
anterior ao julgamento pelo Supremo Tribunal <strong>Federal</strong> do RE 466343/SP, relatoria do Minis<strong>tr</strong>o Cezar Peluso, em 3.12.2008,<br />
o qual levou ao cancelamento do enunciado da Súmula nº . 619 do STF. Portanto, sem embargo de entendimento em<br />
sentido con<strong>tr</strong>ário, não se aplica, ao menos por inteiro, à matéria sob exame.<br />
Regis<strong>tr</strong>e-se, ou<strong>tr</strong>ossim, que não se pode tolerar qualquer atitude comissiva ou omissiva, de não acatamento às ordens<br />
judiciais, ou que simpl<strong>es</strong>mente seja anteparo à impunidade; nem tampouco se entender que a supr<strong>es</strong>são da prisão de<br />
depositário infiel consubstancia cânone para impedir, sempre, a configuração do crime de d<strong>es</strong>obediência; no que concordo,<br />
no ponto, com o Procurador da República recorrente.<br />
Acontece que <strong>es</strong>tamos diante de qu<strong>es</strong>tão <strong>es</strong>pecífica de lege ferenda, importa dizer, o paralelismo com o tipo previsto no art.<br />
168-A do Código Penal e com o entendimento jurisprudencial d<strong>es</strong>tacado pelo MPF sobre a matéria, não se mos<strong>tr</strong>a<br />
juridicamente aceitável, basta lembrarmos que para a viabilidade da punição na forma do referido artigo em se <strong>tr</strong>atando de<br />
con<strong>tr</strong>ibuiçõ<strong>es</strong> sociais d<strong>es</strong>contadas dos empregados e não recolhidas pelo empregador, tal se deu pela Lei nº 9.983, de<br />
14.7.2000 discutida e promulgada para <strong>es</strong>pecificamente criar a figura da apropriação indébita previdenciária.<br />
E, no caso d<strong>es</strong>t<strong>es</strong> autos, por equiparação, analogia, buscou-se incriminar conduta que se quer foi objeto de apuração, p.<br />
ex.: a) se os requisitos do art. 677 do CPC foram atendidos; b) se caso fortuito ou ocorrência de força maior se verificou ou<br />
não; e c) se os elementos configurador<strong>es</strong> de depositário – tendo em conta não se ter penhorado dinheiro em depósito, mas<br />
quantias futuras sujeitas às incertezas do funcionamento da p<strong>es</strong>soa jurídica e do faturamento, se perfectibilizaram etc.<br />
Regis<strong>tr</strong>e-se, embora o Juiz do Trabalho tenha assentado em suas falas cominatórias o propósito de se instaurar inquérito<br />
policial para apurar o quadro fático d<strong>es</strong>tinado a reunir ou não, elementos configurador<strong>es</strong> do crime de d<strong>es</strong>obediência.<br />
Nou<strong>tr</strong>o vértice, há de se ter em conta, além de reiterados ar<strong>es</strong>tos do Supremo Tribunal <strong>Federal</strong>, no sentido de que quando a<br />
cominação prevista em Lei civil, proc<strong>es</strong>sual civil ou adminis<strong>tr</strong>ativa não prevê a cumulação expr<strong>es</strong>sa com reprimenda de<br />
índole penal, não se pode inferir diversamente para incriminar; o magistério que se encon<strong>tr</strong>a na Decisão proferida pela<br />
Minis<strong>tr</strong>a Cármen Lúcia (habeas corpus nº 96020/SP, julgado em 27/04/2009, Dje-082 DIVULG 05/05/2009, publicação em<br />
06/05/2009, no qual <strong>tr</strong>ata até m<strong>es</strong>mo da higidez jurídica de penhora de faturamento, e para tanto <strong>tr</strong>anscreve voto da lavra do<br />
Minis<strong>tr</strong>o Teori Albino Zavaski, in litteris:<br />
“`(...) N<strong>es</strong>te caso, ap<strong>es</strong>ar de haver ‘depositário judicial’, a penhora é sobre faturamento, o que significa dizer que não há<br />
propriamente depósito. É penhora atípica. É diferente. É comum se fazer confusão en<strong>tr</strong>e penhora de depósito em dinheiro,