17.04.2013 Views

boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal

boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal

boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

MANTIDA.<br />

1. O proc<strong>es</strong>so permaneceu sobr<strong>es</strong>tado com fulcro no artigo 543-B, § 1º, do Código de Proc<strong>es</strong>so Civil. En<strong>tr</strong>etanto, o referido<br />

dispositivo de lei se refere exclusivamente ao sobr<strong>es</strong>tamento de recursos ex<strong>tr</strong>aordinários. Assim sendo, não há óbice ao<br />

julgamento do recurso inominado, razão pela qual passo a julgar.<br />

2. Trata-se de recurso inominado interposto pela parte autora em face da sentença de fls. 98/99, que julgou improcedente o<br />

pedido inicial de conc<strong>es</strong>são do benefício assistencial de pr<strong>es</strong>tação continuada. Alega a recorrente, em suas razõ<strong>es</strong><br />

recursais, que a assistente social foi conclusiva em afirmar o seu <strong>es</strong>tado de miserabilidade, nec<strong>es</strong>sitando do benefício para<br />

sua sobrevivência digna. Aduz, ainda, que o grupo familiar para fins de conc<strong>es</strong>são do benefício pleiteado é aquele previsto<br />

no artigo 16 da Lei nº 8.213/91, motivo pelo qual os rendimentos de seus filhos, todos maior<strong>es</strong> de 21 anos, não devem ser<br />

computados para fins de averiguação da renda per capita. Requer, d<strong>es</strong>tarte, seja considerado unicamente o rendimento de<br />

seu <strong>es</strong>poso quando da análise acerca da renda familiar, reformando-se a sentença a quo, para julgar totalmente<br />

procedent<strong>es</strong> os pedidos aduzidos na inicial. O INSS apr<strong>es</strong>entou con<strong>tr</strong>arrazõ<strong>es</strong>, pugnando pela manutenção da sentença.<br />

3. Nos termos do artigo 20 da Lei nº 8.742/93, Lei Orgânica da Assistência Social, o benefício de pr<strong>es</strong>tação continuada é<br />

garantido no valor de um salário mínimo mensal à p<strong>es</strong>soa portadora de deficiência e ao idoso que comprove não possuir<br />

meios de prover a própria manutenção e nem tê-la provida por sua família. Para efeitos de aplicação do dispositivo, a<br />

família é composta, conforme o § 1º do referido artigo de lei, pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na<br />

ausência de um del<strong>es</strong>, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menor<strong>es</strong> tutelados,<br />

d<strong>es</strong>de que vivam sob o m<strong>es</strong>mo teto.<br />

4. Ora ap<strong>es</strong>ar da afirmação da assistente social, em p<strong>es</strong>quisa sócio-econômica (fls. 20/23), de que a composição familiar<br />

da autora seria de 06 (seis) membros, verificou-se que, em verdade, os filhos da autora não vivem sob o m<strong>es</strong>mo teto,<br />

havendo provas de que os m<strong>es</strong>mos con<strong>tr</strong>aíram casamento (fls. 35 e 36) e, ainda, regis<strong>tr</strong>o de nascimento de uma neta -<br />

prole de sua filha - (fl.34), motivos pelos quais <strong>es</strong>t<strong>es</strong> não se incluem na composição da família a que se refere o § 1º do<br />

artigo 20 da Lei nº 8.742/93, não havendo que se falar, por sua vez, no cômputo da renda dos filhos para fins de cálculo da<br />

renda per capita familiar.<br />

5. A renda de seu <strong>es</strong>poso, decorrente de aposentadoria no valor de 1 (um) salário mínimo, deve também ser<br />

d<strong>es</strong>considerada quando da averiguação da renda per capita familiar. Explica-se:<br />

6. O art. 34 do Estatuto do Idoso, em seu parágrafo único, determinou que o benefício assistencial concedido a qualquer<br />

membro da família não deve ser computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita. Com efeito, deve ser<br />

adotada uma interpretação sistemática do apontado artigo 34, parágrafo único do Estatuto do Idoso, possibilitando a<br />

d<strong>es</strong>consideração de benefícios previdenciários, e não apenas os benefícios assistenciais percebidos por ou<strong>tr</strong>os membros<br />

da família do inter<strong>es</strong>sado, para fins de cálculo da renda per capita. O entendimento con<strong>tr</strong>ário, defendido pela autarquia<br />

previdenciária, de prevalecer a interpretação literal no sentido de que somente o benefício assistencial pode ser excluído<br />

para fins de percepção do benefício previsto na LOAS, engendraria uma situação absolutamente paradoxal, haja vista que<br />

aquele que nunca con<strong>tr</strong>ibuiu para a Previdência Social e recebe o benefício assistencial tem seu valor excluído para fins de<br />

percepção do m<strong>es</strong>mo benefício por ou<strong>tr</strong>o idoso da família, ao passo que aquele que con<strong>tr</strong>ibuiu para o INSS e percebe, na<br />

velhice, aposentadoria de um salário mínimo, não teria tal possibilidade. Essa situação, além de violar o princípio<br />

constitucional da igualdade, infringe, ainda, os limit<strong>es</strong> da razoabilidade.<br />

7. Tal entendimento <strong>es</strong>tá em consonância com o Enunciado nº 46 da Turma Recursal do Espírito Santo, que aduz: “A renda<br />

mensal de aposentadoria em valor equivalente a um salário mínimo concedida a p<strong>es</strong>soa com mais de 65 anos de idade não<br />

deve ser computada para efeito de apuração da renda familiar per capita a que se refere o art. 20, § 3º, da Lei Orgânica de<br />

da Assistência Social - LOAS. Aplica-se, por analogia, o art. 34, parágrafo único, da Lei nº 10.741/2003. (DIO - Boletim da<br />

<strong>Justiça</strong> <strong>Federal</strong>, 06/04/2009, pág 03 - anexo)”.<br />

8. Todavia, ainda que d<strong>es</strong>consideradas as rendas obtidas pelos filhos e pelo <strong>es</strong>poso para análise do cumprimento do<br />

requisito objetivo para conc<strong>es</strong>são do benefício, é evidente, no caso sub examen, que a autora possui totais condiçõ<strong>es</strong> de<br />

prover sua própria manutenção. Isto se infere na medida em que se observa, conforme parecer sócio-econômico (fls.<br />

20/23), as condiçõ<strong>es</strong> e benfeitorias do local de moradia, inclusive, a quantidade de recursos instalados, os equipamentos<br />

que a autora possui e os móveis da casa. A recorrente mora, frisa-se, em bairro que apr<strong>es</strong>enta infra-<strong>es</strong><strong>tr</strong>utura urbana<br />

básica, com ruas pavimentadas, ac<strong>es</strong>so a água canalizada, rede elé<strong>tr</strong>ica, de <strong>es</strong>goto, comércio local, <strong>es</strong>cola (fls. 21/22).<br />

D<strong>es</strong>taca-se, ainda, o que afirma a assistente social em seu parecer quanto ao fato de que o casal (autora e cônjuge)<br />

planeja alugar a casa térrea ao nível da rua.<br />

9. O que se depreende, de fato e de forma indubitável, é que não há condição alguma de miserabilidade. Ora, não se pode<br />

considerar miserável, sob pena de se confundir e se perder os parâme<strong>tr</strong>os diferenciador<strong>es</strong> existent<strong>es</strong> en<strong>tr</strong>e o <strong>es</strong>tado de<br />

pobreza e de miserabilidade, um indivíduo que amealha tantos bens quanto os relacionados pela assistente social em seu<br />

parecer, que possui tantos recursos e, ainda, que r<strong>es</strong>ide num pavimento de imóvel (próprio), com a possibilidade de aferir<br />

renda de aluguel sob ou<strong>tr</strong>o pavimento.<br />

10. Sendo assim, não r<strong>es</strong>tou constatada a condição de miserabilidade para a conc<strong>es</strong>são do benefício assistencial.<br />

11. Recurso conhecido e improvido.<br />

12. Custas ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios, eis que o recorrente é beneficiário da assistência<br />

judiciária gratuita.<br />

A C Ó R D Ã O<br />

Vistos, relatados e discutidos <strong>es</strong>t<strong>es</strong> autos, acordam os Srs. Juíz<strong>es</strong> da Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da<br />

Seção Judiciária do Espírito Santo, conhecer e, no mérito, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, na forma da ementa<br />

constante dos autos, que passa a integrar o pr<strong>es</strong>ente julgado.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!