boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.195 - Justiça Federal
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
E M E N T A<br />
RECURSO INOMINADO. PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. INCAPACIDADE<br />
LABORATIVA NÃO VERIFICADA. PROVA PERICIAL DESFAVORÁVEL. ENUNCIADO N. 08 DA TURMA<br />
RECURSAL/ES. RECURSO CONHECIDO E, NO MÉRITO, IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.<br />
Este recurso inominado foi interposto pela parte autora às fls. 105-123, em razão de sentença que julgou improcedente o<br />
pedido de conc<strong>es</strong>são do benefício previdenciário auxílio-doença e/ou aposentadoria por invalidez. Sustenta o recorrente,<br />
em sínt<strong>es</strong>e, que é portador de <strong>tr</strong>anstorno falciforme do tipo anemia falciforme que o incapacita para o exercício de sua<br />
atividade habitual de ajudante de pedreiro. Assevera que já <strong>es</strong>teve em gozo de auxílio-doença, cujo pagamento, no entanto,<br />
fora indevidamente c<strong>es</strong>sado pelo INSS. Argumenta que, a d<strong>es</strong>peito do <strong>tr</strong>atamento medicamentoso empreendido, não<br />
apr<strong>es</strong>enta melhora em seu quadro clínico. Aduz, ou<strong>tr</strong>ossim, que o laudo pericial afigura-se con<strong>tr</strong>overso, visto que, muito<br />
embora o perito tenha reconhecido a existência da patologia, concluiu pela plena capacidade laborativa. Com base nisso,<br />
requer seja conhecido e provido o recurso para reformar a sentença, julgando-se procedent<strong>es</strong> os pedidos deduzidos na<br />
inicial.<br />
As con<strong>tr</strong>arrazõ<strong>es</strong> foram apr<strong>es</strong>entadas às fls. 129-132.<br />
A r<strong>es</strong>peito, preceitua o artigo 59, caput, da Lei nº 8.213/1991, que o auxílio-doença será devido ao segurado que, tendo<br />
cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu <strong>tr</strong>abalho ou para a sua atividade<br />
habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. E o art. 42 da precitada Lei que a aposentadoria por invalidez, uma vez<br />
cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, <strong>es</strong>tando ou não em gozo de auxílio-doença,<br />
for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e<br />
ser-lhe-á paga enquanto permanecer n<strong>es</strong>ta condição.<br />
D<strong>es</strong>nec<strong>es</strong>sária a análise da condição de segurado e do período de carência, já que constatada a capacidade laborativa do<br />
recorrente.<br />
Consoante o laudo pericial em Juízo (fls. 45-56), realizada por <strong>es</strong>pecialista na área de hemetologia, o recorrente (28 anos)<br />
foi examinado e diagnosticado com <strong>tr</strong>anstorno falciforme (CID 10 como D57) em seu tipo anemia falciforme, patologia de<br />
ordem genética que, no entanto, não o incapacita para a atividade habitual de <strong>es</strong>toquista (qu<strong>es</strong>itos n°s 01, 02 e 06).<br />
Qu<strong>es</strong>tionado sobre as características da doença, asseverou o expert que “a doença por si não é incapacitante para o<br />
<strong>tr</strong>abalho, uma vez que há várias modalidad<strong>es</strong> de expr<strong>es</strong>são genética que levam a diferent<strong>es</strong> apr<strong>es</strong>entaçõ<strong>es</strong> da anemia<br />
falciforme” (qu<strong>es</strong>ito n° 06). Em r<strong>es</strong>posta ao qu<strong>es</strong>ito nº 08, afirmou que “não há evidências orgânicas de que a anemia<br />
falciforme <strong>es</strong>teja perturbando a fisiologia do autor, mas, ao con<strong>tr</strong>ário, parece <strong>es</strong>tar ele se beneficiando”. Concluiu o laudo<br />
pericial consignando que o recorrente “é portador de anemia falciforme, com uma variante tendente à elevação da<br />
hemoglobina fetal, submetendo-se à terapêutica apropriada com o fármaco hidróxi-uréia, havendo evidências clínicas e<br />
laboratoriais de que o <strong>tr</strong>atamento obteve êxito, devendo ser continuado conforme orientação médica (...) Pode exercer<br />
atividad<strong>es</strong> laborais em geral, exceto aquelas que venham a ser vetadas pelo médico coordenador do Programa de Con<strong>tr</strong>ole<br />
Médico da Saúde Ocupacional do empregador” (qu<strong>es</strong>ito nº 14).<br />
Por certo, o juiz não <strong>es</strong>tá ads<strong>tr</strong>ito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com ou<strong>tr</strong>os elementos ou fatos<br />
provados nos autos. E, em seu art. 437, a lei proc<strong>es</strong>sual não exige, mas, simpl<strong>es</strong>mente, a<strong>tr</strong>ibui ao juiz o poder de<br />
determinar a realização de nova perícia quando a matéria não lhe parecer suficientemente <strong>es</strong>clarecida. No caso em apreço,<br />
após análise das provas, e com base no livre convencimento motivado, <strong>es</strong>te Juízo entende que o material probatório<br />
acostado não se mos<strong>tr</strong>a suficiente para afastar a conclusão da perícia judicial.<br />
N<strong>es</strong>sa seara, não se deve d<strong>es</strong>curar que “o médico assistente diagnostica e <strong>tr</strong>ata. Não lhe cabe averiguar a veracidade dos<br />
fatos narrados pelo paciente, mas acreditar (<strong>es</strong>ta é a base da relação médico-paciente), fazendo o diagnóstico nosológico e<br />
propondo o <strong>tr</strong>atamento que considere mais indicado. Já o médico perito se preocupa em buscar evidências de que a queixa<br />
de doença incapacitante é verdadeira. Por isso, o diagnóstico emitido pelo médico assistente não é fonte segura da<br />
existência da incapacidade para o <strong>tr</strong>abalho.” (Recurso nº 0000018-16.2011.4.02.5053/01, julgado na s<strong>es</strong>são de 14.12.2011<br />
por <strong>es</strong>ta Turma Recursal, de relatoria do Juiz <strong>Federal</strong> Rogério Moreira Alv<strong>es</strong>).<br />
Ademais, importa d<strong>es</strong>tacar a existência do Enunciado de nº 08 da Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da<br />
Seção Judiciária do Espírito Santo, que assim orienta: “O laudo médico particular é prova unilateral, enquanto o laudo<br />
médico pericial produzido pelo juízo é, em princípio, imparcial. O laudo pericial, sendo conclusivo a r<strong>es</strong>peito da plena<br />
capacidade laborativa, há de prevalecer sobre o particular”.<br />
D<strong>es</strong>cabida a alegação sobre a mudança de profissão, uma vez que a r<strong>es</strong><strong>tr</strong>ição apr<strong>es</strong>entada pelo perito à fl. 49 (qu<strong>es</strong>ito nº<br />
06) diz r<strong>es</strong>peito ao <strong>tr</strong>abalhador de cons<strong>tr</strong>ução civil quando d<strong>es</strong>ignado para exercer atividade em grand<strong>es</strong> alturas, o que não<br />
é o caso do recorrente.<br />
Não merece reparo, portanto, a sentença recorrida.<br />
Pelo exposto, conheço do recurso e a ele nego provimento.<br />
Sem condenação em custas e honorários advocatícios, tendo em vista o deferimento da Gratuidade de <strong>Justiça</strong> à fl. 33, na<br />
forma do art. 12 da Lei n 1.060/1950.<br />
A C Ó R D Ã O<br />
Vistos, relatados e discutidos <strong>es</strong>t<strong>es</strong> autos, em que são part<strong>es</strong> as acima indicadas, decide a Turma Recursal do Juizado<br />
Especial <strong>Federal</strong> da Seção Judiciária do Espírito Santo conhecer do recurso e a ele negar provimento, na forma da ementa<br />
que fica fazendo parte integrante do julgado.