13.04.2013 Views

Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

meu <strong>de</strong>sejo e aquilo que os <strong>de</strong>sejos dos outros fizeram <strong>de</strong><br />

mim.“ (AE, p. 33-34)<br />

110<br />

O po<strong>de</strong>r que a palavra exerce sobre cada sujeito, segundo essa crônica<br />

<strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves, é como um feitiço que precisa ser quebrado. O professor impõe o<br />

feitiço, que é a lição a ser ensinada e aprendida; ao aluno compete <strong>de</strong>sarticular o<br />

aprendido.<br />

Novamente aparece o pensamento marxista <strong>de</strong> que ao sujeito (educando)<br />

é imposto uma i<strong>de</strong>ologia dominante, por meio do ensino (escola, professor). Cabe ao<br />

educando reagir (luta <strong>de</strong> classes) a esta imposição. Essa heterogeneida<strong>de</strong><br />

constitutiva do discurso <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves po<strong>de</strong> passar <strong>de</strong>spercebida a um leitor<br />

<strong>de</strong>satento, mas é facilmente reconhecida por um leitor mais cuidadoso, indicando,<br />

como já visto, o plurilingüismo dialogizado (BAKHTIN, 2002c) tão comum e evi<strong>de</strong>nte<br />

na produção lítero-pedagógica <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves.<br />

O autor recorre novamente às palavras <strong>de</strong> Fernando Pessoa, <strong>de</strong>ssa vez,<br />

por meio <strong>de</strong> seu heterônimo Alberto Caeiro, como fonte <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, dizendo:<br />

“Procuro <strong>de</strong>spir-me do que aprendi“, dizia Alberto Caeiro.<br />

“Procuro esquecer-me do modo <strong>de</strong> l<strong>em</strong>brar que me ensinaram,<br />

e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,<br />

<strong>de</strong>sencaixotar minhas <strong>em</strong>oções verda<strong>de</strong>iras, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>brulhar-me<br />

e ser eu...“ (AE, p. 35)<br />

Esse mesmo pensamento da busca do esquecimento das lições<br />

aprendidas, como forma <strong>de</strong> libertar-se do feitiço que a palavra imputa aos sujeitos,<br />

aparece na crônica Lagartas e borboletas. Rub<strong>em</strong> Alves chama essa t<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> o<br />

corpo, ou seja, o corpo <strong>de</strong> cada ser humano, como constructo da palavra. Segundo<br />

o autor,<br />

O corpo é o lugar fantástico on<strong>de</strong> mora, adormecido, um universo inteiro.<br />

[...] Tudo adormecido... O que vai acordar é aquilo que a Palavra vai<br />

chamar. As Palavras são entida<strong>de</strong>s mágicas, potências feiticeiras, po<strong>de</strong>res<br />

bruxos que <strong>de</strong>spertam os mundos que jaz<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro dos nossos corpos,<br />

num estado <strong>de</strong> hibernação, como sonhos. Nossos corpos são feitos <strong>de</strong><br />

palavras... (ALVES, 1994, p. 52)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!