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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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coloca fora <strong>de</strong> seu próprio espaço, ou seja, as palavras ou enunciados colocados<br />

entre aspas são atribuídos a um outro locutor e, assim, o locutor se distancia daquilo<br />

que é dito.<br />

Ainda nas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Maingueneau (1997; 2001), o locutor, ao<br />

utilizar as aspas, está chamando a atenção do interlocutor/leitor para as palavras e<br />

expressões <strong>de</strong>stacadas no texto, que, ao ser<strong>em</strong> colocadas entre aspas, r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a<br />

esse interlocutor a tarefa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os motivos pelos quais aquela parte do<br />

texto está <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque.<br />

T<strong>em</strong>os as aspas indicando uma espécie <strong>de</strong> lacuna, <strong>de</strong> espaço que<br />

precisa ser preenchido no ato da interpretação, que, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto, po<strong>de</strong>m<br />

adquirir uma gama expressiva <strong>de</strong> significados, os quais se relacionam às categorias<br />

<strong>de</strong> não-coincidências do dizer.<br />

As estratégias <strong>de</strong> construção sintático-s<strong>em</strong>ântica da modalização<br />

autonímica, que resultam no uso das aspas, <strong>de</strong>monstram uma atitu<strong>de</strong> do locutor<br />

mediante o discurso citado. Colocar uma unida<strong>de</strong> entre aspas po<strong>de</strong> trazer diversas<br />

conotações ao alocutário, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os usos mais recorrentes, tais como “transferir a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu <strong>em</strong>prego a uma outra pessoa” e “fazer valer seu<br />

pensamento, utilizando a fala do outro”, até outros usos menos casuais, como<br />

“<strong>de</strong>stacar el<strong>em</strong>entos próprios <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado grupo social”, “utilizar el<strong>em</strong>entos<br />

próprios <strong>de</strong> setores nitidamente marcados: partido político, seitas, disciplina<br />

científica, ...”, “um clichê, um estereótipo” (MAINGUENEAU, 2001, p. 160-165). Em<br />

todas as suas manifestações, as aspas <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham a função <strong>de</strong> chamar a<br />

atenção do leitor, rogando-lhe uma participação interpretativa na enunciação,<br />

cabendo a esse leitor enten<strong>de</strong>r o valor das aspas utilizadas <strong>em</strong> um texto, e às aspas<br />

a função <strong>de</strong> garantir uma certa reserva, por parte do locutor, indicando uma não-<br />

coincidência <strong>de</strong> sua fala.<br />

Desta forma, o uso das aspas jamais será neutro; s<strong>em</strong>pre implicará uma<br />

tomada estratégica <strong>de</strong> posição diante <strong>de</strong> um discurso, no intuito <strong>de</strong> se fazer um<br />

comentário implícito, po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong> aprovação, reprovação, afirmação, negação ou<br />

ridicularização do enunciado entre aspas, mostrando diversas intenções do locutor,<br />

seja para se proteger do conteúdo citado ou para afirmar por meio <strong>de</strong>le.<br />

No caso das citações, o locutor, ao citar, mesmo inconscient<strong>em</strong>ente, é<br />

obrigado a realizar uma pressuposição do seu alocutário, oferecendo a este uma<br />

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