Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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Nesse pensamento bakhtiniano está firmada a base <strong>de</strong> dois dos mais<br />
significativos conceitos concernentes aos estudos da linguag<strong>em</strong>: a teoria da refração<br />
do signo 7 e o plurilingüismo 8 , conceitos estes que sustentam a afirmação <strong>de</strong> que<br />
existe s<strong>em</strong>pre a presença do “outro“ e <strong>de</strong> uma “subjetivida<strong>de</strong>“ <strong>em</strong> todo enunciado<br />
proferido, pois a língua é vista como um reflexo das diversas “relações sociais”<br />
existentes entre os falantes.<br />
Dedicando-se também aos estudos da subjetivida<strong>de</strong> da língua, Émile<br />
Benveniste, na França, registrou, <strong>em</strong> Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> lingüística geral, os resultados<br />
<strong>de</strong> seus estudos e pesquisas. Diferente do pensamento bakhtiniano, a subjetivida<strong>de</strong><br />
da linguag<strong>em</strong>, para Benveniste, consi<strong>de</strong>ra o uso interativo da língua e <strong>de</strong>monstra<br />
que o hom<strong>em</strong> exprime-se com uma carga <strong>de</strong> intencionalida<strong>de</strong>, implícita nele,<br />
consi<strong>de</strong>rando os eventos que circundam uma enunciação. Nesse enfoque,<br />
encontramos a seguinte afirmativa do autor:<br />
A ‘subjetivida<strong>de</strong>’ <strong>de</strong> que tratamos aqui é a capacida<strong>de</strong> do locutor para se<br />
propor como ‘sujeito’.[...] Ora, essa ‘subjetivida<strong>de</strong>’, quer a apresent<strong>em</strong>os <strong>em</strong><br />
fenomenologia ou <strong>em</strong> psicologia, como quisermos, não é mais que a<br />
<strong>em</strong>ergência no ser <strong>de</strong> uma proprieda<strong>de</strong> fundamental da linguag<strong>em</strong>. É ‘ego’<br />
que diz ego. Encontramos aí o fundamento da ‘subjetivida<strong>de</strong>’ que se<br />
<strong>de</strong>termina pelo status lingüístico da ‘pessoa’ (BENVENISTE, 1995, p. 286).<br />
Benveniste foi qu<strong>em</strong> primeiro se manifestou com ênfase sobre o<br />
componente da subjetivida<strong>de</strong> 9 na prática lingüística, ligando intimamente a<br />
subjetivida<strong>de</strong> ao exercício da língua. Para ele, “é na linguag<strong>em</strong> e pela linguag<strong>em</strong> que<br />
o hom<strong>em</strong> se constitui como sujeito“, pois a linguag<strong>em</strong> “é tão profundamente marcada<br />
pela expressão da subjetivida<strong>de</strong> que nós nos perguntamos se, constituída <strong>de</strong> outro<br />
modo, po<strong>de</strong>ria ainda funcionar e chamar-se linguag<strong>em</strong>“ (BENVENISTE, 1995, p.<br />
286).<br />
A Teoria dos atos da fala 10 , propagadora da ação intersubjetiva da<br />
linguag<strong>em</strong>, também contribuiu para a construção <strong>de</strong> uma lingüística da enunciação.<br />
7<br />
Ver a teoria da refração do signo in BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguag<strong>em</strong>. 10. ed.<br />
São Paulo: Hucitec: Annablume, 2002.<br />
8<br />
Ver o plurilingüismo in BAKHTIN, Mikhail. O discurso no romance. In _____ Questões <strong>de</strong> literatura e<br />
<strong>de</strong> estética: a teoria do romance. Tradução <strong>de</strong> Aurora Fornoni Bernardini et. al. 5. ed. São Paulo:<br />
Hucitec: Annablume, 2002, p. 71-210.<br />
9<br />
Ver o texto A natureza dos pronomes in BENVENISTE, Émile. Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> lingüística geral I.<br />
Tradução <strong>de</strong> Maria da Glória Novak e Maria Luisa Néri. 4 ed. Campinas, SP: Pontes: Ed. da<br />
UNICAMP, 1995. p. 277-293.<br />
10<br />
Ver AUSTIN, John L. How to do things with words. New York: Oxford University Press, 1965.<br />
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