Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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concluindo com a frase “No princípio era a palavra...”, marcando a heterogeneida<strong>de</strong><br />
mostrada, por meio das aspas e das reticências, conforme um dos ex<strong>em</strong>plos<br />
apontados anteriormente. À palavra é atribuído o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> gênese (princípio) <strong>de</strong><br />
tudo, tanto para construir como para <strong>de</strong>struir algo.<br />
Um banco vai muito b<strong>em</strong>. Sólido. Transações normais. Um<br />
jornal anuncia que este banco irá à falência.<br />
Fala, pura fala. Como <strong>de</strong>corrência da fala, pânico e corrida aos<br />
caixas.<br />
“No princípio era a palavra...” (CGE, p. 60)<br />
Uma outra referência à “palavra” é feita, pelo autor, na crônica Sobre<br />
palavras e re<strong>de</strong>s, quanto ao ensino por meio da habilida<strong>de</strong> do uso da palavra e a<br />
magia que a linguag<strong>em</strong> exerce sobre todos. O texto bíblico é evocado como forma<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>linear os questionamentos sobre o po<strong>de</strong>r da palavra.<br />
Os olhos sucumb<strong>em</strong> ante o po<strong>de</strong>r da palavra. Será isto? O<br />
po<strong>de</strong>r mágico da linguag<strong>em</strong>? No princípio era a palavra...?<br />
(CGE, p. 67)<br />
Outros casos <strong>de</strong> plurilingüismo dialogizado (BAKHTIN, 2002c), nos quais<br />
encontramos uma espessa camada <strong>de</strong> vozes recobrindo o discurso <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong><br />
Alves, po<strong>de</strong>m ser percebidos, quando o autor faz uma profusão <strong>de</strong> citações,<br />
algumas <strong>de</strong> tensa convergência.<br />
T<strong>em</strong>os, na crônica Ensinar a alegria, referência a Hesse e Nietzsche, nas<br />
quais as vozes <strong>de</strong> ambos converg<strong>em</strong>. Rub<strong>em</strong> Alves afirma que Hermann Hesse, <strong>em</strong><br />
parte do texto O jogo das contas <strong>de</strong> vidro, repete algo já dito por Nietzsche, e que<br />
ora está sendo repetido pelo próprio Rub<strong>em</strong> Alves, numa profusão <strong>de</strong> vozes. Isso<br />
r<strong>em</strong>ete à idéia <strong>de</strong> que as palavras ditas são verda<strong>de</strong>s comungadas por diversas<br />
autorida<strong>de</strong>s e <strong>em</strong> épocas diferentes.<br />
Constatamos também, nessa mesma crônica, a existência das não-<br />
coincidências do dizer postas por Authier-Revuz (2001), quando o autor comenta<br />
sua própria enunciação, <strong>de</strong>monstrando uma não-coincidência interlocutiva ao<br />
<strong>de</strong>sculpar-se por chamar Nietzsche <strong>de</strong> filósofo. Ainda t<strong>em</strong>os o uso das aspas <strong>em</strong><br />
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