Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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po<strong>de</strong> adquirir significado diferente e até mesmo <strong>em</strong> oposição ao significado<br />
adquirido <strong>em</strong> sua manifestação original.<br />
Pelos enfoques vistos, enten<strong>de</strong>mos que citar não significa copiar, repetir<br />
ou reproduzir, mas é um processo <strong>de</strong> interação dinâmica, o qual estabelece uma<br />
relação ativa entre os dois discursos: o citado e o que cita. Nessa relação, é<br />
importante observar as formas utilizadas na composição do discurso, quanto à<br />
presença do discurso do outro, “uma vez que essas formas reflet<strong>em</strong> tendências<br />
básicas e constantes da recepção ativa do discurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>“ (BAKHTIN, 2002a, p.<br />
146), ou seja, aquele que cita está, conseqüent<strong>em</strong>ente, realizando um ato <strong>de</strong><br />
valoração diante da palavra do outro, por ter escolhido esta e não outra citação ou<br />
forma <strong>de</strong> citação. Fica evi<strong>de</strong>nte que o contexto e a própria enunciação são partes<br />
dinâmicas na constituição dos enunciados, e que “esta dinâmica, por sua vez, reflete<br />
a dinâmica da inter-relação social dos indivíduos na comunicação i<strong>de</strong>ológica verbal“<br />
(BAKHTIN, 2002a, p. 148).<br />
É complexa a i<strong>de</strong>ntificação dos motivos que levam um locutor a usar uma<br />
citação como recurso <strong>de</strong> produção discursiva. Se é verda<strong>de</strong> que citar po<strong>de</strong> ser parte<br />
do estilo <strong>de</strong> um autor, particularmente no texto literário, é imperioso reconhecer que<br />
a citação po<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar variadas funções, conforme o grau <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são do<br />
locutor <strong>em</strong> relação ao que cita.<br />
Maingueneau (1997, p. 75-110) <strong>de</strong>staca, a esse respeito, a ambigüida<strong>de</strong><br />
fundamental do fenômeno <strong>de</strong> citação, mencionando duas possibilida<strong>de</strong>s para o uso<br />
da citação: a primeira é um <strong>de</strong>scrédito ou dúvida daquilo que se cita, e a segunda,<br />
uma forma <strong>de</strong> dizer o que se pensa ocultando-se atrás <strong>de</strong> um outro discurso.<br />
Consi<strong>de</strong>rando essas duas possibilida<strong>de</strong>s, citar po<strong>de</strong> introduzir um distanciamento<br />
muito variável entre o locutor citante e o locutor citado.<br />
Para um melhor entendimento da ocorrência <strong>de</strong> um relativo <strong>de</strong>scrédito<br />
naquilo que se cita, Maingueneau transcreve a afirmativa <strong>de</strong> Berrendonner (apud<br />
MAINGUENEAU, 1997, p. 86) <strong>de</strong> que<br />
se um locutor ‘contenta-se <strong>em</strong> relatar as alocuções assertivas <strong>de</strong> um<br />
terceiro, <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> garantir pessoalmente, através <strong>de</strong> uma simples<br />
afirmação, a verda<strong>de</strong> p, isto permite concluir que ele não po<strong>de</strong>, por si só,<br />
subscrever p, não acreditando muito, por conseguinte, <strong>em</strong> sua verda<strong>de</strong>’.<br />
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