Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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AS PALAVRAS DAS ÁGUAS<br />
153<br />
Vin<strong>de</strong>, ó meus amigos, na clara manhã, cantar as vogais do<br />
regato! On<strong>de</strong> está nosso primeiro sofrimento? É que hesitamos<br />
<strong>em</strong> dizer... Ele nasceu nas horas <strong>em</strong> que acumulamos <strong>em</strong> nós<br />
coisas caladas. O regato vos ensinará a falar ainda assim,<br />
apesar das dores e das l<strong>em</strong>branças, ele vos ensinará a euforia<br />
pelo eufuísmo, a energia pelo po<strong>em</strong>a. Ele vos repetirá, a cada<br />
instante, alguma palavra bela e redonda que rola sobre as<br />
pedras.<br />
(Gaston Bachelard, A água e os sonhos, p. 202)<br />
Bachelard atribui à palavra duas características: bela e redonda. Por bela<br />
não há muito mais que se especular, mas redonda prediz uma carga s<strong>em</strong>ântica que<br />
se volta para um constante rolar, s<strong>em</strong> amarras e s<strong>em</strong> contenções. Cantar as vogais<br />
do regato se faz necessário, dizer... é essencial.<br />
Para encerrar esta dissertação, propomo-nos sintetizar aquilo que nossos<br />
estudos nos revelaram e que nossa compreensão consi<strong>de</strong>rou como primaz. Fazendo<br />
uso das palavras <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves, “prefiro manter o meu discurso <strong>de</strong>ntro dos limites<br />
do meu braço, pois é somente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste círculo que a minha palavra po<strong>de</strong> ser<br />
ação criadora” (ALVES, 1995a, p. 82), uma vez que o âmbito espaço-t<strong>em</strong>poral <strong>em</strong><br />
que o trabalho <strong>de</strong> pesquisa se circunscreve não permite a exaustão ou a completu<strong>de</strong><br />
das análises.<br />
Assim, diante do foco principal <strong>de</strong>sta dissertação, a presença da voz do<br />
outro na constituição <strong>de</strong> um discurso, buscamos analisar as estratégias <strong>de</strong><br />
construção discursiva <strong>de</strong> duas obras <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves. Adotando a idéia <strong>de</strong> que<br />
“falar sobre as coisas é aplicar sobre elas a teoria do universo implícita <strong>em</strong> nossa<br />
linguag<strong>em</strong>” (POLANYI, apud ALVES, 1995a, p. 68), constatamos que a presença da<br />
voz do outro se evi<strong>de</strong>ncia tanto pela heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva como pela<br />
heterogeneida<strong>de</strong> mostrada, marcada ou não-marcada.<br />
A busca pela i<strong>de</strong>ntificação da heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva, aquela <strong>em</strong><br />
que o locutor não percebe <strong>em</strong> sua voz a do outro, levou ao reconhecimento, no<br />
discurso <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves, <strong>de</strong> vozes sociais provenientes <strong>de</strong> sua filiação filosófico-