Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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2.1. VOZES DO DISCURSO<br />
A concepção <strong>de</strong> que há uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes presentes <strong>em</strong> cada<br />
discurso po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros escritos <strong>de</strong> Bakhtin, datados das<br />
décadas <strong>de</strong> 1920-1930, os quais postularam alguns dos conceitos fundamentais que<br />
sustentam os estudos lingüísticos <strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados do século XX até a<br />
cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>. Discorrer<strong>em</strong>os, nesse it<strong>em</strong>, sobre os conceitos <strong>de</strong> refração e <strong>de</strong><br />
vozes sociais, como fundamentos para a construção das não-coincidências do dizer<br />
e da multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discursos que envolv<strong>em</strong> um discurso. Também tratar<strong>em</strong>os dos<br />
conceitos <strong>de</strong> plurilingüismo, dialogia e plurilingüismo dialogizado, os quais<br />
converg<strong>em</strong> para a explicitação <strong>de</strong> que um discurso s<strong>em</strong>pre está recoberto por uma<br />
espessa camada <strong>de</strong> outros discursos. Tais conceitos preparam o entendimento da<br />
base teórica do discurso relatado, quanto às citações e ao processo que configura<br />
as modalizações <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> discurso.<br />
Iniciamos nossa reflexão, consi<strong>de</strong>rando o pensamento bakhtiniano <strong>de</strong> que<br />
o real nunca é manifestado diretamente ao leitor, pois o dado, <strong>em</strong> sua pureza, não é<br />
passível <strong>de</strong> ser experimentado, <strong>de</strong>vido a toda uma carga <strong>de</strong> significados que já o<br />
reveste. Faraco (2003), comentando o texto O discurso no romance, <strong>de</strong> Bakhtin,<br />
reafirma a idéia <strong>de</strong> que há uma pré-concepção existente <strong>em</strong> todo enunciado, pois<br />
“qualquer palavra (qualquer enunciado) encontra o objeto a que ele se refere já<br />
recoberto <strong>de</strong> qualificações, envolto por uma atmosfera social <strong>de</strong> discursos, por uma<br />
espécie <strong>de</strong> aura heteroglótica (i.e., por uma <strong>de</strong>nsa e tensa camada <strong>de</strong> discursos)“<br />
(FARACO, 2003, p. 49).<br />
Em Bakhtin (2002c), encontramos a idéia <strong>de</strong> que um discurso se constrói<br />
sobre a existência <strong>de</strong> outros discursos, tornando impossível a concepção <strong>de</strong> que<br />
somos capazes <strong>de</strong> construir um discurso com um significado primeiro, sendo a<br />
linguag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre pluridiscursiva. Um discurso está s<strong>em</strong>pre se orientando por e<br />
para outro discurso, visto que<br />
A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo discurso.<br />
Trata-se da orientação natural <strong>de</strong> qualquer discurso vivo. Em todos os seus<br />
caminhos até o objeto, <strong>em</strong> todas as direções, o discurso se encontra com o<br />
discurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong> e não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> participar, com ele, <strong>de</strong> uma<br />
interação viva e tensa (BAKHTIN, 2002c, p. 88).<br />
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