Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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Portanto, é possível afirmar que o discurso <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves é<br />
intencionalmente construído para trabalhar a favor <strong>de</strong> suas idéias, para lhe garantir o<br />
exercício <strong>de</strong> influenciar o pensamento <strong>de</strong> seu leitor, pois, conforme afirma Gnerre<br />
(1985, p. 3), as pessoas falam para ser<strong>em</strong> ‘ouvidas’, às vezes para ser<strong>em</strong><br />
respeitadas e também para exercer uma influência no ambiente <strong>em</strong> que se realizam<br />
os atos lingüísticos.<br />
No caso do corpus analisado, há uma divulgação <strong>de</strong> um pensamento<br />
pedagógico, no caso o escolanovismo espiritualista, que não se dá via discurso<br />
científico, mas por meio do discurso lítero-pedagógico, entr<strong>em</strong>eado por<br />
modalizações da voz alheia, com o intuito <strong>de</strong> efetivar um doutrinamento filosófico-<br />
pedagógico, como uma “nova roupag<strong>em</strong>” ao discurso já dito e por ele enaltecido.<br />
Segundo Dewey, “as coisas vêm a uma criança vestidas pela linguag<strong>em</strong>, não <strong>em</strong><br />
sua nu<strong>de</strong>z física, e esta roupag<strong>em</strong> <strong>de</strong> comunicação faz com que ela se transforme<br />
<strong>em</strong> alguém que participa das mesmas crenças que aqueles ao seu redor” (DEWEY<br />
apud ALVES, 1995a, p. 67-68), uma vez que o ser humano está s<strong>em</strong>pre sendo<br />
influenciado pelo po<strong>de</strong>r da palavra.<br />
Usufruindo o po<strong>de</strong>r da linguag<strong>em</strong> e intensificando-o por meio <strong>de</strong> recursos<br />
<strong>de</strong> construção discursiva, Rub<strong>em</strong> Alves direciona o leitor, conduzindo e gerindo o<br />
processo <strong>de</strong> recepção textual. Tal estratégia aponta para a criação <strong>de</strong> um discurso<br />
po<strong>de</strong>roso, <strong>de</strong> convencimento e inculcação doutrinária, confirmando que “a língua<br />
não é somente um instrumento <strong>de</strong> comunicação ou mesmo <strong>de</strong> conhecimento, mas<br />
sim um instrumento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Não procuramos somente ser compreendidos, mas<br />
também obe<strong>de</strong>cidos, acreditados, respeitados, reconhecidos” (BOURDIEU, 1987, p.<br />
160).<br />
Desta forma, o autor <strong>de</strong>ixa transparecer como seu objetivo primeiro a<br />
diss<strong>em</strong>inação e o doutrinamento pedagógico, inclusive com a indicação <strong>de</strong> fontes<br />
bibliográficas situadas ao final <strong>de</strong> algumas citações, o que não influencia apenas o<br />
leitor <strong>em</strong> sua leitura atual, mas também conduz suas futuras leituras, dadas como<br />
importantes para sua formação pedagógica.<br />
Em <strong>de</strong>corrência do trabalho realizado com o corpus, po<strong>de</strong>mos afirmar que<br />
a presença do outro e as estratégias utilizadas na construção do discurso lítero-<br />
pedagógico <strong>de</strong> Rub<strong>em</strong> Alves têm por intenção incutir nos leitores a importância da<br />
construção <strong>de</strong> um ambiente escolar voltado à alegria e ao prazer no processo