Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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Numa citação, encontrada na crônica Sobre jequitibás e eucaliptos, há o<br />
entrelaçamento <strong>de</strong> pensamentos filosóficos --- <strong>de</strong> Platão a Freud ---, concluindo com<br />
Marcuse, numa generalização excessiva e difícil <strong>de</strong> ser comprovada, <strong>de</strong>monstrando<br />
um exagero <strong>de</strong> síntese, cuja finalida<strong>de</strong> é apenas <strong>de</strong>stacar a idéia <strong>de</strong> que o passado<br />
é constitutivo do presente e do futuro <strong>de</strong> cada ser.<br />
Na linha que vai <strong>de</strong> Platão a Freud, o evento libertador exige<br />
que sejamos capazes <strong>de</strong> dar nomes ao nosso passado. A<br />
l<strong>em</strong>brança é uma experiência transfiguradora e revolucionária.<br />
Tanto assim que Marcuse chega a se referir à função<br />
subversiva da m<strong>em</strong>ória. (CGE, p. 32) [grifo nosso]<br />
Um outro ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> profusão <strong>de</strong> vozes po<strong>de</strong> ser visto na crônica Sobre<br />
palavras e re<strong>de</strong>s, no trecho <strong>em</strong> que Rub<strong>em</strong> Alves evoca Freud, Santo Agostinho e<br />
Platão para respaldar sua idéia <strong>de</strong> que a palavra (linguag<strong>em</strong>) -– instância da<br />
enunciação --- vale pelo seu julgamento prático <strong>de</strong> significado e não pela sua<br />
epist<strong>em</strong>ologia, ou seja, para <strong>de</strong>monstrar algo bastante óbvio: que a palavra t<strong>em</strong> seu<br />
valor vinculado ao seu uso social.<br />
O recurso a três pensadores reflete também uma generalização excessiva<br />
do pensamento filosófico, cuja confluência não fica explicitada no comentário <strong>de</strong><br />
Rub<strong>em</strong> Alves.<br />
O “abre-te Sésamo” não se encontra na epist<strong>em</strong>ologia, mas no<br />
julgamento que o corpo faz <strong>de</strong> seus invólucros e órgãos<br />
lingüísticos. E as linguagens são abandonadas da mesma<br />
forma como uma cobra abandona uma pele que ficou velha...<br />
Vale uma pitada da sabedoria freudiana: o que é <strong>de</strong>terminante,<br />
<strong>em</strong> última instância, é o amor. O insight não t<strong>em</strong> autonomia<br />
alguma, n<strong>em</strong> mesmo relativa... Na verda<strong>de</strong>, não é Freud que<br />
está <strong>em</strong> jogo, mas uma longa tradição que passa por<br />
Agostinho, indo <strong>de</strong>le até o divino Eros <strong>de</strong> Platão. (CGE, p. 74-<br />
75) [grifo nosso]<br />
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