Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
eferência explícita às fontes, são <strong>de</strong> fácil i<strong>de</strong>ntificação para um leitor mais<br />
experiente, constituindo ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> mostrada, às vezes marcada<br />
e outras não-marcada.<br />
O texto bíblico, que inicia o primeiro capítulo do Evangelho segundo São<br />
João, “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”, é<br />
utilizado pelo autor para referendar a idéia <strong>de</strong> que a palavra exerce um po<strong>de</strong>r<br />
mágico, dominador e <strong>de</strong>vastador sobre o ser humano, e como tal, é instrumento<br />
divino, capaz <strong>de</strong> todas as realizações.<br />
A evocação da frase “No princípio era a palavra...” aparece diversas<br />
vezes no livro Conversas com qu<strong>em</strong> gosta <strong>de</strong> ensinar, e, com menos incidência,<br />
também no livro A alegria <strong>de</strong> ensinar.<br />
Na crônica Sobre jequitibás e eucaliptos, Rub<strong>em</strong> Alves, ao tratar da<br />
construção educacional da criança, afirma que a palavra impõe-se como “verda<strong>de</strong>” e<br />
“<strong>de</strong>tentora” do saber, afirmando que <strong>de</strong>ve trazer diversos significados e não encerrar<br />
os conceitos. Também, na crônica Um corpo com asas, o autor, ao dizer que o<br />
nosso corpo é composto por palavras, recorre à mesma passag<strong>em</strong> bíblica, s<strong>em</strong> fazer<br />
nenhuma referência ao texto <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>.<br />
Em ambos os casos, o uso da fala do outro <strong>de</strong>monstra uma voz social,<br />
própria da cultura cristã, que, por estar inserida no contexto da socieda<strong>de</strong>, é<br />
facilmente reconhecida. Nessas duas referências, o autor <strong>de</strong>ixa alguns índices<br />
<strong>de</strong>monstrando que aquela fala não lhe pertence: o uso da letra maiúscula <strong>em</strong><br />
“Palavra”, as reticências e as aspas, r<strong>em</strong>etendo-se à fala do outro por meio <strong>de</strong><br />
evidências <strong>de</strong> que aquilo não foi ele qu<strong>em</strong> disse. Vejamos essas ocorrências:<br />
“No princípio era a Palavra...” Não qualquer palavra, porque as<br />
palavras eficazes são aquelas que part<strong>em</strong> daqueles que são os<br />
outros significativos... (CGE, p. 33)<br />
O corpo é a Palavra que se fez carne... (AE, p. 67)<br />
Em Sobre o dizer honesto, à “palavra” é atribuído o po<strong>de</strong>r mágico “para<br />
fazer com que as coisas que não ocorreriam, se houvesse silêncio, ocorram, <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>corrência da fala” (ALVES, 1995a, p. 60), e o autor cita um ex<strong>em</strong>plo hipotético<br />
dos boatos financeiros, on<strong>de</strong> a palavra po<strong>de</strong> ser usada como agente <strong>de</strong> difamação,<br />
87