Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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importa é aquilo que permite que a forma lingüística figure num dado<br />
contexto, aquilo que a torna um signo a<strong>de</strong>quado às condições <strong>de</strong> uma<br />
situação concreta dada (BAKHTIN, 2002a, p. 92-93).<br />
Constamos, a partir daí, a importância do pensamento bakhtiniano na<br />
formação da concepção interacionista da linguag<strong>em</strong>, pela consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> todo um<br />
movimento <strong>de</strong> ações que atuam sobre o locutor <strong>de</strong> um enunciado, influenciando a<br />
produção efetiva <strong>de</strong>ste. Para o pensador, a pr<strong>em</strong>issa fundamental da linguag<strong>em</strong> é o<br />
fenômeno social da interação verbal, uma vez que<br />
A verda<strong>de</strong>ira substância da língua não é constituída por um sist<strong>em</strong>a abstrato<br />
<strong>de</strong> formas lingüísticas n<strong>em</strong> pela enunciação monológica isolada, n<strong>em</strong> pelo<br />
ato psicofisiológico <strong>de</strong> sua produção, mas pelo fenômeno social da<br />
interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A<br />
interação verbal constitui assim a realida<strong>de</strong> fundamental da língua<br />
(BAKHTIN, 2002a, p. 123).<br />
Segundo Faraco (2003), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o texto Para uma filosofia do ato, escrito<br />
entre 1919/1921, a concepção <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Bakhtin<br />
... aparece já apresentada como ativida<strong>de</strong> (e não como sist<strong>em</strong>a) e o<br />
enunciado como um ato singular, irrepetível, concretamente situado e<br />
<strong>em</strong>ergido <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> ativamente responsiva, isto é, uma atitu<strong>de</strong><br />
valorativa <strong>em</strong> relação a um <strong>de</strong>terminado estado-<strong>de</strong>-coisas (FARACO, 2003,<br />
p. 24).<br />
Perceb<strong>em</strong>os que Bakhtin concebe uma correlação entre o enunciado e a<br />
situação concreta <strong>de</strong> sua enunciação, <strong>de</strong>ixando evi<strong>de</strong>nte a presença <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong><br />
subjetiva, que <strong>em</strong>erge do contexto social e reflete o universo <strong>de</strong> valores <strong>em</strong> que o<br />
falante se situa. Na consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que a voz <strong>em</strong>anada por um locutor <strong>de</strong>corre do<br />
grupo a que ele pertence, o autor <strong>de</strong>ixa claro também que viver é assumir uma<br />
posição avaliativa a cada momento, é posicionar-se continuamente diante <strong>de</strong><br />
valores, estando a subjetivida<strong>de</strong> situada no social. O mero fato <strong>de</strong> falar sobre algo já<br />
significa assumir uma atitu<strong>de</strong> valorativa diante <strong>de</strong>ste algo, pois<br />
... a palavra não apenas <strong>de</strong>signa um objeto como uma entida<strong>de</strong> pronta, mas<br />
também expressa por sua entonação minha atitu<strong>de</strong> valorativa <strong>em</strong> relação ao<br />
objeto, <strong>em</strong> relação àquilo que é <strong>de</strong>sejável nele, e, <strong>de</strong>sse modo, movimentao<br />
<strong>em</strong> direção do que ainda está por ser <strong>de</strong>terminado nele, transforma-o num<br />
constituinte do evento vivo, <strong>em</strong> processo (BAKHTIN apud FARACO, 2003,<br />
p. 24).<br />
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