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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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construção do conceito <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> enunciativa, postulado por Authier-<br />

Revuz. Este conceito comporta duas concepções: a <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva<br />

e a <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> mostrada, ambas implicando a presença do outro na<br />

produção do discurso.<br />

Como já visto, a idéia <strong>de</strong> que a linguag<strong>em</strong> é uma prática social,<br />

fundamentalmente marcada pelo plurilingüismo, é um dos fundamentos dos estudos<br />

lingüísticos <strong>de</strong> Bakhtin. Essa idéia afirma que a dialogização do discurso possui uma<br />

dupla orientação: o discurso volta-se para outros discursos, como processo <strong>de</strong> sua<br />

constituição, e também se volta para o outro da interlocução, como processo <strong>de</strong><br />

interação. Segundo Authier-Revuz (1982, p. 118-119),<br />

É um duplo dialogismo – não por adição, mas <strong>em</strong> inter<strong>de</strong>pendência – que é<br />

colocado na fala: a orientação dialógica <strong>de</strong> todo discurso entre os ‘outros’ é<br />

ela própria dialogicamente orientada, <strong>de</strong>terminada por ‘este outro discurso’<br />

específico do receptor, tal como ele é imaginado pelo locutor, como<br />

condição <strong>de</strong> compreensão do primeiro.<br />

Consi<strong>de</strong>rando, primeiramente, a idéia <strong>de</strong> que um discurso s<strong>em</strong>pre<br />

comporta outros discursos e que o sentido é estabelecido pelo entrecruzar das<br />

palavras, t<strong>em</strong>os a dialogia entre os discursos. Na afirmativa <strong>de</strong> Bakhtin (2002c, p.<br />

86),<br />

O enunciado existente, surgido <strong>de</strong> maneira significativa num <strong>de</strong>terminado<br />

momento social e histórico, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> tocar os milhares <strong>de</strong> fios<br />

dialógicos existentes, tecido pela consciência i<strong>de</strong>ológica <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um<br />

dado objeto <strong>de</strong> enunciação, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser participante ativo do<br />

diálogo social. Ele também surge <strong>de</strong>sse diálogo, como prolongamento como<br />

sua réplica, e não sabe <strong>de</strong> que lado ele se aproxima <strong>de</strong>sse objeto.<br />

V<strong>em</strong>os, nessa concepção, que o discurso é tecido pela dialogia mantida<br />

ativamente com o diálogo social, num jogo <strong>de</strong> entrelaçamento <strong>de</strong> vozes que se<br />

<strong>completa</strong>m, confirmam, concorr<strong>em</strong>, repel<strong>em</strong>, contradiz<strong>em</strong>. Os fios dialógicos são os<br />

discursos dos outros, que, pela interdiscursivida<strong>de</strong> estão s<strong>em</strong>pre presentes <strong>em</strong> todas<br />

as produções discursivas.<br />

A interdiscursivida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> ser um fator <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong> outros<br />

discursos, também o é <strong>de</strong> negação. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que evoca a palavra já<br />

dita, o diálogo social, aci<strong>de</strong>ntalmente, suprime parte do discurso evocado, <strong>de</strong> forma<br />

consciente ou inconsciente.<br />

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