Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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Constatamos que verbos como “retrucar“ ou “berrar“ são utilizados por<br />
Rub<strong>em</strong> Alves para, além <strong>de</strong> indicar a presença da fala do outro, <strong>de</strong>monstrar um tom<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmonia na fala citada.<br />
Na crônica Ensinar a alegria, o autor, afirmando que “ser mestre é isso:<br />
ensinar a felicida<strong>de</strong>“ (ALVES, 1994, p. 11), faz uma apologia à educação pelo amor,<br />
pela qual todos os professores <strong>de</strong>veriam ensinar o seu conteúdo como se este fosse<br />
um <strong>de</strong>leite para a alma do aluno, e traz, <strong>de</strong> forma negativa, uma possível voz dos<br />
professores, introduzida pelo verbo “retrucar“, que indica um revi<strong>de</strong> à afirmação do<br />
autor:<br />
“Ah!“, retrucarão os professores, “a felicida<strong>de</strong> não é a disciplina<br />
que ensino. Ensino ciências, ensino literatura, ensino história,<br />
ensino mat<strong>em</strong>ática...“ (AE, p. 11)<br />
Outro ex<strong>em</strong>plo do uso do verbo “retrucar“, como forma negativa <strong>de</strong><br />
introduzir o discurso do outro, <strong>de</strong>monstrando uma carga <strong>de</strong> enfrentamento e<br />
combate, é encontrada na crônica Sobre jequitibás e eucaliptos, quando Rub<strong>em</strong><br />
Alves, ao falar do po<strong>de</strong>r da palavra, cita um diálogo do livro Gabriela, cravo e canela,<br />
<strong>de</strong> Jorge Amado:<br />
Em Gabriela, Cravo e Canela há um momento <strong>em</strong> que a filha<br />
<strong>de</strong> um coronel diz a sua mãe que pretendia casar-se com um<br />
professor. Ao que a mãe retruca, numa clássica lição <strong>de</strong><br />
realismo político:<br />
“E o que é um professor, na or<strong>de</strong>m das coisas?<br />
Que t<strong>em</strong> o ensino a ver com o po<strong>de</strong>r?<br />
Como po<strong>de</strong>m as palavras se comparar com as armas?<br />
Por acaso a linguag<strong>em</strong> já <strong>de</strong>struiu e já construiu<br />
mundos?“ (CGE, p. 30-31)<br />
O verbo “berrar“, oriundo da onomatopéia bé, indicativa da voz da cabra,<br />
utilizado mais propriamente para vozes <strong>de</strong> animais, é atribuído por Rub<strong>em</strong> Alves ao<br />
ser humano, com o intuito <strong>de</strong> indicar uma alta tonalida<strong>de</strong> da voz citada, utilizado no