Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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Só lhes resta então repetir o verso <strong>de</strong> Paulo L<strong>em</strong>insky:<br />
“Ai daqueles que não mor<strong>de</strong>ram o sonho<br />
e <strong>de</strong> cuja loucura<br />
n<strong>em</strong> mesmo a morte os redimirá.” (AE, p. 56)<br />
130<br />
Ainda consi<strong>de</strong>rando somente o aspecto formal <strong>de</strong> apresentação das<br />
citações, encontramos o uso dos dois pontos como <strong>de</strong>limitador entre discurso citado<br />
e citante, como v<strong>em</strong>os na crônica Sobre palavras e re<strong>de</strong>s. Rub<strong>em</strong> Alves evoca as<br />
palavras <strong>de</strong> Schiller, buscando suporte para a sua afirmativa <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sejo<br />
(sonho, utopia, esperança) se sobrepõe ao pensamento (discurso analítico). O<br />
discurso direto aparece marcado somente pela ocorrência dos dois pontos, s<strong>em</strong> a<br />
utilização do itálico, das aspas, travessão ou <strong>de</strong> outro recurso <strong>de</strong>marcatório não<br />
verbal:<br />
Voltamos a algo dito por Schiller: para que as idéias triunf<strong>em</strong> é<br />
necessário que elas estabeleçam uma aliança com um impulso.<br />
(CGE, p. 78-79)<br />
Ressaltamos que esses recursos diacríticos, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar a presença<br />
do discurso relatado, po<strong>de</strong>m exercer outras funções numa formação discursiva.<br />
Usados como <strong>de</strong>staque, ênfase ou con<strong>de</strong>scendência <strong>em</strong> palavras ou enunciados, as<br />
aspas e o itálico indicam um grau acentuado <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> na construção<br />
discursiva, sendo também um dos índices indicadores da intencionalida<strong>de</strong><br />
subjacente ao discurso enunciado.<br />
Segundo Maingueneau, “para <strong>de</strong>scobrir a razão do <strong>em</strong>prego das aspas e<br />
interpretá-las, o leitor <strong>de</strong>ve levar <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o contexto e, especialmente, o<br />
gênero <strong>de</strong> discurso” (2001, p. 162). Portanto, a razão para o uso das aspas, b<strong>em</strong><br />
como do itálico, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma interpretação do interlocutor, o que acentua mais<br />
ainda a subjetivida<strong>de</strong> do discurso, tenha o mesmo sido produzido na forma <strong>de</strong><br />
discurso direto ou indireto.<br />
Outros recursos também faz<strong>em</strong> parte dos constituintes da subjetivida<strong>de</strong><br />
no discurso relatado, tais como o uso <strong>de</strong> verbos e nomes <strong>de</strong>locutivos, as atitu<strong>de</strong>s<br />
voltadas à não-coincidência do dizer, o uso <strong>de</strong> intensificadores e modificadores do<br />
sentido das palavras, e outras expressões modalizadoras.