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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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um <strong>de</strong>svio entre o enunciado e aquilo que sua significação adquire num processo<br />

dialógico.<br />

As concepções <strong>de</strong> refração 14 e <strong>de</strong> vozes sociais 15 permeiam o<br />

pensamento do Círculo <strong>de</strong> Bakhtin. Segundo esse pensamento, o processo <strong>de</strong><br />

referenciação ocorre por meio <strong>de</strong> duas operações simultâneas nos signos: eles<br />

reflet<strong>em</strong> e refratam o mundo. Os signos buscam apontar para uma realida<strong>de</strong> que<br />

lhes é externa, mas isso é feito <strong>de</strong> modo refratado, ou seja, os signos são utilizados,<br />

não somente para <strong>de</strong>screver o mundo, mas também para construir diversas<br />

interpretações (refrações) <strong>de</strong>sse mundo, consi<strong>de</strong>rando a dinâmica da história e do<br />

caráter múltiplo e heterogêneo da vivência humana.<br />

Tratando da doutrina da refração, Mendve<strong>de</strong>v (apud FARACO, 2003, p.<br />

50) afirma que “no horizonte i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> uma época ou grupo social, não há uma,<br />

mas várias verda<strong>de</strong>s mutuamente contraditórias“, pois <strong>de</strong> acordo com a<br />

heterogeneida<strong>de</strong> da práxis <strong>de</strong> cada grupo humano, valores diferentes são atribuídos<br />

às ações e aos entes, gerando modos diferentes <strong>de</strong> dar sentido ao mundo (<strong>de</strong><br />

refratá-lo), sendo a refração uma condição necessária ao signo, na concepção do<br />

Círculo <strong>de</strong> Bakhtin, ou seja, não é possível significar s<strong>em</strong> refratar.<br />

Isso tudo ocorre, conforme analisa Faraco (2003, p. 50), ao tratar<br />

especificamente da refração no conceito bakhtiniano, porque<br />

... as significações não estão dadas no signo <strong>em</strong> si, n<strong>em</strong> estão garantidas<br />

por um sist<strong>em</strong>a s<strong>em</strong>ântico abstrato, único e at<strong>em</strong>poral, n<strong>em</strong> pela referência<br />

a um mundo dado uniforme e transparent<strong>em</strong>ente, mas são construídas na<br />

dinâmica da história e estão marcadas pela diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências dos<br />

grupos humanos, com suas inúmeras contradições e confrontos <strong>de</strong><br />

valoração e interesses sociais.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que a refração é a forma como a diversida<strong>de</strong> e as<br />

contradições das experiências históricas dos seres humanos estão inscritas nos<br />

signos, não sendo possível conceber uma univocida<strong>de</strong> dos signos (monoss<strong>em</strong>ia) e<br />

permanecendo somente a possibilida<strong>de</strong> do signo plurívoco (multissêmico),<br />

sintetizada na idéia <strong>de</strong> que a plurivocida<strong>de</strong> é a condição para o funcionamento dos<br />

signos nas socieda<strong>de</strong>s humanas.<br />

14 Ver Refração in BAKHTIN, Mikhail. M. O Discurso no Romance. In _____ Questões <strong>de</strong> Literatura e<br />

<strong>de</strong> Estética: a teoria do romance. Tradução <strong>de</strong> Aurora Fornoni Bernardini et al. 5. ed. São Paulo:<br />

Hucitec: Annablume, 2002c, p. 71-210.<br />

15 Ver Vozes sociais in Id. Marxismo e filosofia da linguag<strong>em</strong>. 10. ed. São Paulo: Hucitec: Annablume,<br />

2002a.<br />

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